Seres humanos são criaturas de hábito, diz-se. Nossa existência se define por rotinas: acordar cedo todo dia, pegar o mesmo ônibus no mesmo ponto para ir à escola/faculdade/trabalho, acessar as mesmas redes sociais escondido do chefe (que, apesar de ser justamente uma tentativa de quebrar um pouco da rotina, acaba se encaixando curiosamente nela).
Da mesma forma, gamers também têm suas rotinas. É um pouco contraditório que até mesmo um hobby acabe sendo vítima desse padrão (uma vez que “rotina” traz à mente uma ideia de mesmice, de marasmo, o que não combina com um passatempo), mas é como falei no começo: não dá pra escapar de rotinas. A gente cai nelas sem nem perceber.
Uma das minhas principais rotinas relacionadas a games é acessar meus sites favoritos com notícias de jogos, geralmente pra acompanhar as notícias sobre aquele jogo cujo lançamento está marcado com caneta hidrocor vermelha no calendário (junto com uma listinha de possíveis desculpas pra dar ao chefe pra justificar sua falta naquele dia).
Falando em faltar no trabalho por causa de um jogo, uma outra rotina relativamente comum por estas bandas aqui de cima vai um pouco além: tem malandro que trata de sincronizar as férias (ou pelo menos uma folga estendida) com o lançamento de algum game blockbuster, pra poder passar os próximos dias jogando sem parar. Meu próprio chefe confessou apelar pra essa prática quando “Skyrim” saiu; já meu irmão pediu quase uma semana inteira quando “Gears of War 2” foi lançado.
Uma rotina que eu tentei estabelecer (sem sucesso) é jogar videogame comendo. Sim, eu reconheço que almejar isso me faz soar como se eu tivesse níveis alarmantes de colesterol daquele que explode artérias. Entretanto, no interesse de honestidade quase jornalística (porém com alguma vergonha) eu confesso que em muitas longas campanhas de jogatinas na madrugada, me frustrei fazendo o malabarismo com o controle, um pedaço de pizza e um copo de Coca Light (a maior auto-enganação do gordo, perceba). Você emporcalha o controle, quebra o ritmo do jogo nesse revezamento entre o game e o quitute, e invariavelmente precisa largar a guloseima na “melhor mordida” porque a cutscene acabou e subitamente o Drake tá tomando bala na cara. “Eita, voltou!”, você diz enquanto joga a pizza de volta no prato e limpa as mãos apressadamente na camisa, lamentando a morte precoce do protagonista e a experiência gastronômica interrompida.
Não sei se é porque minha técnica de multitasking não é boa o suficiente, ou se estou tentando gerenciar simultaneamente gêneros incompatíveis (macarronada com um first person shooter, pra dar um exemplo). Peço que nos comentários aqueles com melhor coordenação motora me expliquem suas combinações otimizadas de comida com games.