O Vale do Silício lidera a lista, seguido (nesta ordem) por Tel Aviv (Israel), Los Angels, Seattle e Nova York. A primeira cidade latina – e única brasileira – é São Paulo, que ocupa a posição 13. Mal classificada principalmente nos quesitos de talentos (mesmo que os empreendedores tenham qualificações parecidas com os do Vale), performance e geração de tendências, o que salva a metrópole brasileira é o mindset e a quantidade de startups. Santiago, capital do Chile, é a segunda latina a entrar no ranking e figura na posição 20, com um ponto a mais que São Paulo no quesito mindset. Ambas cidades latinas – bem como Sidney e Moscou – vão bem no quesito de diferenciação com relação ao Vale do Silício.
O CEO do Startup Genome, Bjoern Lasse Herrmann, acredita que este tipo de estudo, mesmo em sua primeira versão,pode ajudar um diálogo público. “Criamos o estudo por 3 motivos: 1) dar luz aos ecossistemas de startups de alta tecnologia que vão ser responsáveis pela maior parte do crescimento econômico do mundo nos próximos anos e dar algo ao mundo no qual possa acreditar, enquanto os negócios da Era Industrial declinam rapidamente; 2) democratizar o conhecimento sobre startups e ecossistemas, e 3) dar recomendações práticas para empreendedores, empresas e governos desenvolverem os cenários do empreendedorismo e participarem na economia globalizada do Século 21″.
“Começamos a ver que estes ecossistemas são alternativas reais aos tradicionais centros de inovação tecnológica. Isto é muito animador pois sugere que cada vez mais as estruturas de apoio estejam espalhadas pelo mundo para que essas ideias tornem-se realidade”, acredita Gonzalo Martin-Villa, CEO da Wayra, a aceleradora global da Telefónica Digital.
Para Steve Blank, reconhecido empreendedor (fez IPO de 4 das 8 companhias que ajudou a criar ) e acadêmico (estabeleceu, 10 anos atrás, os pilares do customer development e dá aulas em Stanford) que costuma contribuir com os estudos do STartup Genome, o momento é de mudança. “A democratização do empreendedorismo no mundo todo está criando novas estratégias e estruturas para inovação e ruptura. As lições que aprendemos com essas startups vão iluminar uma reestruturação massiva nas corporações nos próximos 40 anos. Apenas então é que vamos olhar para trás e compreender que estávamos apenas no início da revolução econômica do mundo conectado”, analisa.
O que o estudo fala sobre São Paulo
Em tradução livre:
A economia brasileira vem crescendo nos últimos anos e, como parte do bloco dos países emergentes, o Brasil é muito promissor. São Paulo é o maior ecossistema de startups no Brasil mas ainda cria 80% menos startups do que o Vale do Silício. A distribuição de startups na cidade, com relação ao seu ciclo de vida, é equilibrada. Com relação ao Vale do Silício:
- startups de São Paulo tem 20% menos probabilidade de monetizarem diretamente;
- empreendedores de São Paulo tem educação similar aos do Vale (40% são Mestres & PhD, versus 42% no Vale);
- startups em SP empregam número similar de pessoas;
- startups de SP são tao orientadas por dados quanto as do Vale;
- os principais desafios para startups em SP são similares: aquisição de clientes, desenvolvimento de produto, financiamento e equipe;
- SP tem uma mistura saudável de startups focadas em consumidores finais, clientes corporativos e PME;
- os empreendedores de SP procuram novos mercados, ao invés de nichos, tanto quanto os do Vale;
- empreendedores em SP tem uma média de 30,8 anos de idade, 3.32 mais novos que a média no Vale;
- São Paulo tem uma lacuna significante de investimentos: tanto antes quanto depois de encontrarem uma adequação do produto ao mercado, as empresas levantam 86% menos capital que no Vale;
- startups em SP focam 26% menos do que no Vale em modelos de assinatura, metade em propaganda, 30% mais em taxas de transação (ou comissões) e 2.2 vezes mais em licenceamento;
- empreendedores em SP tem 37% menos apoio de mentores do que no Vale. Em média, startups locais tem 2.51 mentores (no Vale são 4);
- 24% das equipes em SP não tem co-fundadores tecnologistas;
- empreendededores em SP tem 59% menos probabilidades de serem seriais (fundarem várias empresas);
- apenas 3% das startups em SP constróem produtos mobile, versus 17% no Vale;
- adoção tecnológica mais lenta: startups em SP usam mais PHP e .NET e menos Java e Ruby (PHP 38%; Java 13%; Ruby 0%; Python 12%, .NET 37%). Nota do editor: duvido não haverem startups que usem Ruby em SP;
- em SP, startups terceirizam o desenvolvimento de mais partes cruciais de seus produtos: quase 13%, versus 5.5% no Vale;
- startups em SP focam 60% em mercados menores. Tem probabilidade 52% menor de atingirem mercados de $10 bilhões;
- empreendedores em SP são mais orientados a criarem grandes produtos do que a causarem impacto;
- empreendedores em SP comprometem-se em período integral 13% menos antes de encontrarem product market fit;
- empreendedores em SP trabalham 8.86 horas diárias em média, 1.08 menos que no Vale;
- Berlin e São Paulo Berlin tem o menor índice de empreendedores que já moraram no Vale: 4% e 7% respectivamente, enquanto em Singapura e Waterloo o percentual chega a 33% e 35%.
Para investidores, o estudo acredita que São Paulo pode ser uma oportunidade tanto para quem investe em estágio inicial e colabora com a busca de um product market fit, quanto para quem investe em crescimento e pode ajudar a criar líderes no mercado local que despontem como competidores globais.
“Não creio que SP tenha um ecossistema tão mais forte que outras regiões brasileiras. Obviamente, por ser um polo econômico, tem uma quantidade maior de empreendedores, MBAs, analistas financeiros e investidores. Por outro lado, as melhores startups do Brasil surgem de lugares como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Recife, Campinas, Florianópolis e Belo Horizonte tanto quanto São Paulo”, posiciona Yuri Gitahy, mentor e investidor fundador da Aceleradora.
“O que precisamos ver nos próximos anos são as startups que vão ter sucesso e dar errado, juntamente com as saídas que antes eram inexistentes no Brasil”, coloca Flávio Pripas, co-fundador da Fashion.me. “O clima empreendedor em São Paulo facilita criar uma boa rede de contatos em poucas semanas. O maior problema ainda é estrutural: é complicado estruturar um investimento baseado em options ou convertible notes”, pontua Augusto Camargo, co-fundador da aaTag.
“Por décadas, os brasileiros não eram empreendedores natos – apenas recentemente a Geração Y começou a pensar diferente e o empreendedorismo tornou-se um refrão. Ao mesmo tempo, há uma grande mudança econômica com o advento de classes sociais, gerando um mercado consumidor massivo que vai evoluir nos próximos 10 e 20 anos. Então, não se trata do ecossistema, mas do crescente número de oportunidades de mercado”, analisa ainda Gitahy.
Para solicitar uma cópia do estudo e ler na íntegra, acesse este link.