A vida, definitivamente, não é um sacrifício. O jiu-jitsu é uma luta onde alguém aparentemente fraco pode dominar outro aparentemente forte. Quando treinamos, começamos a perceber que se fazemos força ao tentar dar um golpe, é sinal de que estamos, muito provavelmente, fazendo algo errado. No jiu-jitsu utilizamos a força da natureza contida dentro dos nossos próprios corpos contra o oponente. Eu mesmo, pesando 65 quilos, sou capaz de manter meu professor de 90 quilos no chão com facilidade, sem fazer força ou invalidá-lo. Hoje, se faço força ao tentar um movimento, compreendo automaticamente que estou tentando da forma errada. O mesmo vale para a vida…
Treino: não luta.
Quando lutamos jiu-jitsu, não lutamos, treinamos apenas. Da mesma forma que a vida, jiu-jitsu é treino. É tentar fazer algo e descobrir que aquela não era a melhor maneira de fazê-lo. É acertar começando um golpe por um caminho que não estava tão amostra. Infelizmente encaramos a vida como uma luta porque de certa forma queremos vencer, mas se levássemos a vida como um treino, não precisaríamos da aprovação da vitória para nos afirmarmos vitoriosos. Quando comecei a praticar jiu-jitsu, mal acabava o aquecimento e eu já estava cansado. Meu corpo ficava todo dolorido e em vinte segundos de treino com um oponente minha respiração ficava completamente desencontrada. Hoje, o fato de ter aprendido a amarrar a própria calça, terminar o aquecimento como se nada tivesse acontecido e praticar 40 minutos de treino sem me cansar me deixa muito feliz. Quantas vezes você não se viu em uma situação onde só o fato de levantar da cama já te colocava cansado, ou onde você corria tanto contra a tempo que sequer se atentava para a sua respiração. Quando você dava por si, já estava cansado, sem respiração e no chão estrangulado ou tomando uma chave de braço. Viver é treinar, não lutar.
Golpe: o objetivo.
Sem objetivos para quê treino, para quê se movimentar? Muitas pessoas vivem sem objetivo, ou seja, vivem a vida sem saber que movimento irão realizar depois deste e daquele movimento que estão fazendo agora. Muitas não sabem que movimento estão fazendo agora, quem dirá que movimento irão fazer no futuro. Elas não sabem se agarrarão um braço ou uma perna e quando chegam em uma posição de conquista, não progridem por não saber o que podem fazer dali em diante. Desanimam e abrem a guarda para que o oponente as coloque em uma posição desconfortável de novo. Só aí se movimentam. Não podemos viver a vida só se defendendo. A melhor defesa é o ataque e isto vale para a vida, para o jiu-jitsu e até para o futebol. Um time que não deixa o outro jogar, acaba saindo vencedor da partida. Enquanto você deixar a vida jogar e você não tiver atenção em cada um dos seus movimentos, você não irá progredir. Tenha um objetivo. Aprenda os seus golpes e vá pra cima da vida, pois ela está ali na sua frente prontinha para treinar com você.
Alavancas: o natural.
Não se deixe levar pelas aparências. Um sujeito franzino de 50 quilos pode te aplicar mais golpes que um outro forte de 120 quilos. A vida é a manifestação da natureza e assim como a água da chuva procura o melhor caminho para descer as pedras de uma montanha, as alavancas de corpo utilizadas no jiu-jitsu fazem o mesmo. Nós temos alavancas dentro de nós, prontas para serem libertadas. Nossos talentos gritam dentro de nós, mas por falta de treino, nós não permitimos que os golpes saiam e os mantemos presos dentro dos nossos ossos, músculos e veias. Ao invés de fazer o que seria natural, nos impomos ao padrão da maioria e pensamos que ganhar é bater, mas para quem pratica jiu-jitsu, bater é perder. Não bata na vida, use suas alavancas (seus talentos) a seu favor e submeta a vida à sua vontade.
Força: o sinal do erro eminente.
Quando estou passando por um estrangulamento (algo que me dava um nervoso imenso e que agora consigo administrar com calma) a primeira coisa que faço é verificar em qual posição o meu pescoço pode ficar mais confortável para diminuir a pressão do oponente sobre ele. Da mesma forma, quando tenho que colocar o oponente de costas para o chão, procuro onde estão os seus apoios, para removê-los e continuar progredindo até encostar com as suas costas no chão. Tentar enfrentar a força do braço e do corpo do meu oponente com o pescoço é enforcar-me. Tentar derrubá-lo na força é fazê-lo usar a minha própria força para me levantar feito um balão para o chão. Se você está hoje fazendo muita força para viver, certamente algo está errado na sua vida. Algo não está sendo natural.
Quando escrevo textos como esse, ajo com tanta naturalidade que não sinto o mínimo de força sendo feita. Eu gosto, amo isso aqui e poderia ficar escrevendo post atrás de post durante o dia inteiro. Porém, nem sempre foi assim. Já passei dias e mais dias programando, me preocupando com projetos atrasados, cuidando de coisas que não tinha o menor talento. Hoje vivo de empreender, escrever, administrar minhas empresas, vender, etc. Termino o dia sem cansaço e bem. Já peguei trem lotado, já tive que ir trabalhar tomando chuva na cabeça e já tive que fazer um esforço escomunal para ficar em um emprego que detestava só por causa do salário que recebia. Isto está errado. Quanto mais força você faz, mas a vida de empurra para o chão. Quanto menos força você faz, mas capacidade você tem de correr mais do que a vida, de dar mais golpes que a vida e de viver mais, bem mais, que vivendo a sua vida anterior, cheia de esforços, sacrifícios e lutas.
“De modo suave, você pode sacudir o mundo” ~ Gandhi
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