Um pouco de pesquisa e estatística pode nos ajudar a discutir melhor sobre a implantação de ciclovias e ciclofaixas em São Paulo, para não corrermos o risco de sermos “contra tudo isso que está aí”, ao mesmo tempo que exigimos dos governos o devido planejamento e manutenção dos espaços públicos.
Estamos no meio de uma discussão (muito importante, em minha opinião) sobre a implantação de ciclovias e ciclofaixas em São Paulo. Eu, pessoalmente, gostaria que não houvessem ciclovias, prefiro que os espaços sejam compartilhados entre carros, bicicletas, motocicletas, ônibus, carroças etc; mas entendo que a segregação, às vezes, é necessária como medida de segurança e também para melhorar o tráfego das pessoas.
Mas entre a miríade de opiniões de todo tipo sobre as ciclofaixas em São Paulo, vemos muitas críticas desesperadas, vindas principalmente de gente que é “contra tudo isso que está aí” ou “contra o PT seja lá qual for o contexto”. A maior parte dessas críticas pode ser facilmente rebatida com um mínimo de estatística.
O governo vai deixar de arrecadar verba dos estacionamentos Zona Azul, pois as vagas vão dar lugar à ciclovia
Cada R$: 1 que é investido em reduzir a poluição rende R$: 8 em retorno ao Estado*, basicamente em economia de saúde pública por doenças respiratórias. Isso porque nem contamos nesta estatística o benefício secundário que o estado também tem ao reduzir o sedentarismo caso mais gente caminhe, pedale, use skate, patinete ou qualquer outro modo de locomoção com propulsão humana.
Eu citei o patinete no parágrafo anterior, para nós brasileiros isso pode parecer ridículo, mas em Nova York e em San Francisco é muito comum ver homens e mulheres se locomovendo em patinetes, e não estamos falando de hippies ou adolescentes, são pessoas em roupas formais de que trabalha em escritório, mulheres usando salto inclusive 🙂
Pouca gente usa bike, a maior parte das pessoas usa carro
Pouca gente usa bike, mas quem usa carro também não é maioria. 70% do espaço e dinheiro públicos são usados por 30% das pessoas, que usam carros particulares*. Se aceitamos que motoristas usem 70% do espaço público, por que os ciclistas não poderiam usar 5%?
E as pessoas pobres que moram na Zona Leste e usam o carro para vir trabalhar? Como ficam?
As pessoas que moram longe do trabalho e fazem longas viagens de carro não são o típico motorista brasileiro. A maioria das viagens de carro percorre uma distância de 6 km, a uma velocidade média de 12 km/h*. A título de curiosidade, eu pedalo 2 viagens diárias de 5 km cada uma, a 16 km/h em média, já contando o tempo parado em em semáforos.
Se menos gente (pobre ou rica) usar carro particular para viagens curtas, onde o carro não é o melhor modal de transporte, as pessoas que moram longe e precisam do carro ou ônibus serão beneficiadas por haver menos congestionamento, sejam essas pessoas pobres ou ricas.
Ir de bike para o trabalho é coisa de riquinho ecochato da Vila Madalena sommelier de ciclovia
Ir de bike p/ o trabalho não é coisa de rico. 93% dos ciclistas cotidianos (aqueles que usam bike como transporte) é das classes C-D-E*.
O trânsito em São Paulo já era horrível antes das ciclovias
A implantação de ciclovias e ciclofaixas em São Paulo tem erros e acertos, é importante que usemos esta situação para aprender a conviver melhor. Os congestionamentos já existiam antes das ciclovias e ciclofaixas e vão continuar existindo após elas, a diferença é que, com melhor suporte à bicicleta no trânsito da cidade, mais gente vai ter a opção de não engrossar o congestionamento.
Não foram as ciclovias que geraram 600 km de congestionamento em São Paulo, não vamos nos esquecer disso.
* os dados estão na Revista Vida Simples Especial, capa vermelha, Editora Abril.
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