Até alguns anos atrás, aeronaves tripuladas eram uma brincadeira restrita não apenas a nações, mas a seletas nações superpoderosas — países com recursos descartáveis o suficiente para dizer “dane-se, vamos para a Lua”. Infelizmente, esses dias ficaram no passado, lentamente sufocados por orçamentos apertados e prioridades realinhadas.
Mas esse não é o fim dos voos espaciais. Na realidade, é o começo de um empolgante novo capítulo na exploração extraterrestre tripulada. Amanhã, a SpaceX Falcon 9 levantará voo do Cabo Canaveral, na Florida, para levar suprimentos à Estação Espacial Internacional, marcando a primeira vez que uma nave comercial ancorará lá. Mas como exatamente a feirinha para os astronautas chegará a seu destino?
A SpaceX Falcon 9, dessa forma. Construída pela Space Exploration Technologies Corp. (SpaceX) de Elon Musk, esse sistema de entrega de dois estágios movido a foguete mede 54,2 metros de comprimento por 3,6 m de largura e pesa 367 toneladas, tendo sido construída principalmente com liga de alumínio-lítio. Ela é composta por um foguete Falcon 9 “encapado” com a cápsula SpaceX Dragon, que contém meia tonelada de suprimentos.
Nove motores Merlin 1C produzem, cada, 62,5 toneladas de força na decolagem (1.1 milhão de lbF no total) enquanto queima uma mistura de propelentes de oxigênio líquido (LOX) e querosene de foguete (RP-1). Uma vez que os foguetes de primeiro estágio tenham gasto seu combustível 345 segundos do lançamento, os propulsores do estágio mais baixo são ativados, junto com os interestágios de fibra de carbono do Falcon. Dali, outro motor Merlin único entra em ignição para prover o resto de impulso necessário para levantar a cápsula Dragon à órbita terrestre baixa da ISS. O Falcon 9 é capaz de levantar até 11,5 toneladas à órbita terrestre baixa e 5,5 toneladas à órbita de transferência geoestacionária.
No topo desse monte de toneladas de empuxo está a cápsula reutilizável SpaceX Dragon, ela em si composta de três partes: um nariz em cone para proteção, um setor pressurizado capaz de abrigar uma tripulação de até sete pessoas mais um compartimento de cargas frágeis e a parte eletrônica da cápsula, e um pedação despressurizado que guarda a carga que não precisa respirar.
Na medida em que se aproxima da ISS em sua viagem de dois dias, a Dragon primeiro gastará algum tempo praticando sua aproximação à estação — ela é projetada para se aproximar da ISS automaticamente com a opção de controles manuais (a própria ISS possui uma espécie de garra para ajudar a capturar e guiar a cápsula para dentro) —, já que uma tentativa frustrada teria potencial para causar danos graves à estação e colocar a tripulação de seis em risco. Vamos lá, sem pressão. Uma vez que tudo esteja no lugar, a NASA sinalizará para a Dragon estabelecer contato e descarregar as mercadorias. Ela então permanecerá anexada à ISS por 14 dias antes de descascar como uma casca de ferida e cair no Pacífico para ser resgatada.
“Eu espero que isso se torne tão comum que as pessoas nem prestem mais atenção”, disse à AP o astronauta da estação espacial Donald Pettit. A NASA também. A agência já torrou US$ 381 milhões financiando a SpaceX (a empresa em si já gastou mais de US$ 1 bilhão), mas se esse voo for bem sucedido, a SpaceX e outras empresas do setor terão a certeza de que a estrada para o espaço estará pavimentada para as gerações futuras. [SpaceLaunchReport – SpaceX – Wikipedia – The AP – Imagens: SpaceX]