Um tablet da Microsoft com Windows 8 é um papo antigo, mas ele finalmente chegou. Mais ou menos, digamos. Nós colocamos nossas mãos em um aparelho voltado para desenvolvedores ontem e, mesmo com algumas falhas, ele é extremamente impressionante.
Lembre-se disso enquanto você lê o texto: tanto o sistema operacional quanto o hardware estão em fase preview para desenvolvedores. Na realidade, o hardware da [CENSURADO]* (nós fomos proibidos de revelar fabricantes ou especificações do aparelho) nem sequer rodará o Windows 8. E o hardware tem um processador x86, não um ARM. Quando o tablet for lançado, diz a Microsoft, ele terá Windows 7. A Microsoft sequer tem um nome para o bicho, o que só confirma (repetitivamente) que ele não é o primeiro aparelho com Windows 8.
Confuso? Enxergue assim: o tablet que nós mexemos estava rodando uma versão de desenvolvedor do Windows 8 em um hardware sub-otimizado e, quando as primeiras unidades forem vendidas, ele terá Windows 7.
Seja lá o que essa coisa é, trata-se de uma ótima pré-estreia do que está por vir, mesmo que por tempo limitado. E bota tempo limitado nisso. Todos os aparelhos emprestados pela Microsoft só puderam ficar em mãos dos jornalistas por, no máximo, 72 horas. Eu fiquei com ele por doze, tentando tirar o máximo do Windows 8. Eis o que descobrimos:
Interface
Comecemos pela sensação que surge ao tocar o aparelho pela primeira vez: fantástico. Na realidade, trata-se da interface baseada em gestos mais bem resolvida do mercado. Vai além do que a Apple já fez. Todo o sistema operacional é navegável de uma forma que ele é completamente novo e ao mesmo tempo familiar em poucos minutos de uso. A navegação inclui alguns elementos touchscreen familiares, mas no geral, tudo é novo.
Passando o dedo no canto esquerdo da tela passa de app por app. Tudo é muito rápido (mesmo nessa configuração maluca), e enquanto você desliza o dedo para outros aplicativos rodando, eles surgem em pequenas janelas que saltam e tomam toda a tela. O mesmo gesto pode ser usado para dividir a tela com um app secundário rodando, ou seja, você pode rodar dois apps ao mesmo tempo, algo que a Microsoft batizou de estado de encaixe. Animal.
Deslizando para o lado direito surge um persistente menu de “Charms”: cinco ícones que funcionam como uma fila de apps de home, permitindo acesso rápido à tela Start, ao compartilhamento, configuração, aparelhos e busca. Deslizando de cima para baixo ou vice-versa abre menus específicos do aplicativo e opções. Também é possível usar gestos para manipular objetos em formas que não estamos acostumados. Segurar um elemento com um dedo enquanto desliza a mão com a outra faz com que ele passeie pelas telas, por exemplo. Em termos simples, é a melhor interface de gestos que existe até então.
Mesmo assim, você também pode conectar um teclado ou usar uma stylus para escrever (e ele reconhecerá sua escrita manual, sem necessidade de apps de terceiros). Tudo isso funcionou muito bem. E, no geral, a digitação é muito boa. O teclado virtual é ultrarrápido e tem ótima resposta. É provavelmente o melhor teclado virtual que eu já usei. Eu ainda não consigo digitar na mesma velocidade de um teclad físico, mas ele é muito rápido e bem desenhado, com amplo espaço entre as teclas, além de ser bem fácil para passar de números para caracteres especiais. Há até um modo com teclas divididas para aqueles que digitam com o dedão.
Sistema Operacional
Assim, temos o sistema operacional em si. O design é deslumbrante. Ele realmente faz você ter vontade de mergulhar e explorá-lo, e é excepcionalmente fácil de ir de um lado para o outro e navegar.
O Windows 8 é um pensamento completamente remodelado do Windows (e, ufa, finalmente ele chegou, já que o Windows 7 não pensou muito nisso). Nessa versão, você interage com o que foi batizado de aplicações Metro. Quando você abre um app Metro (e na versão final do sistema, que a Microsoft pretende construir por cima de vários tablets com chipset ARM, os aplicativos no estilo Metro serão a interface dominante) ele domina toda a tela. Não há aquele cromado de Windows em nenhum canto, nem mesmo uma fileira de botões ou ícones. Tudo a base de apps. E isso cria uma experiência realmente imersiva, e isso é especialmente bom em programas com grandes gráficos ou jogos.
Os apps Metro surgem em cima de uma tela unificada de Start. Quando você toca na tela Start, você vê os apps como tijolos espalhados em uma grade. Como disse Jensen Harris, que coordena a equipe de experiência de usuário da Microsoft, “os ícones são a forma antiga de representar apps. O formato de tiojolos é um meio mais moderno de representá-los”. Isso é meio papo furado (até o Windows 8 usa ícones), mas na primeira vez que você dá de cara com os tijolos que saltam aos olhos na interface Metro, o argumento parece válido.
O conceito de telhas é lindo e funciona com maestria em um tablet. Você rola os tijolos para o lado, pode reorganizá-los em grupos ou temas –e como eles são grandes, é realmente fácil navegar entre eles e encontrar o que você procura. Em apps individuais, você pode “fixar” ações, criando novos tijolos. Assim, por exemplo, eu posso fixar o Gizmodo.com no IE (recomendamos!) e ele aparecerá como um novo tijolo na tela inicial. Além de abrir os apps, os tijolos transmitem informações em tempo real em ótima forma. Ou seja, o tijolo de temperatura, por exemplo, constantemente entrega as condições de tempo.
Mas isso é melhor em teoria do que na prática. Todos os apps tendem a exibir informações antigas e repeti-las. Você vê os mesmos tweets e fotos várias vezes. Novas informações não borbulham na tela inicial do jeito que deveria ser. Mas, novamente, isso é uma versão pré para desenvolvedores. Esperamos que isso esteja resolvido quando ele chegar ao mercado.
A nova função de Busca funciona muito bem também. É só deslizar o canto direito da tela e um (antigo!) ícone de busca surge. Quando algo é escrito, ele não busca apenas resultados de arquivos com o mesmo nome ou resultados de internet, mas também vasculha internamente vários aplicativos. Os resultados surgem dentro do aplicativo, ou seja, você pode encontrar resultados de música de seu tocador de mídias sem ter que sair do app de redes sociais.
O que ainda está por vir
Algumas das novidades mais empolgantes e prometidas nós não pudemos testar. Por exemplo, o sistema irá automaticamente sincronizar suas configurações entre aparelhos e salvá-la em seu Microsoft SkyDrive. O mundo corporativo poderá criar apps próprios e implantá-los de forma remota, para que usuários possam logar em um desktop remoto quando estiverem na estrada e ter mais ou menos uma máquina de trabalho em mãos. E isso não é só para o corporativo. Você poderá navegar em seus computadores de casa de forma remota também. O objetivo, ao que parece, é ter todas as suas informações em todos os aparelhos, de qualquer lugar.
Não gosta de revoluções? Tudo bem, seu retrógrado. Boas notícias para você também, já que será sempre possível mudar para o modo Desktop e rodar uma versão do Windows bem semelhante ao que você já está acostumado. A Microsoft mostrou uma versão do Photoshop rodando nesse formato, e reafirmou que todos os programas existentes de Windows 7 rodarão nesse modo. Mas aposto que você não vai querer ficar assim. Os apps Metro são muito convidativos, e voltar para a velha escola depois de experimentar o novo dá a sensação de, hum, velhice.
As más notícias
Há alguns soluços. (Novamente, correndo o risco de soar repetitivo, isso é uma versão preview para desenvolvedores, então esperamos que boa parte dos problemas sejam resolvidos até a chegada do Windows 8. E isso pode demorar.) Quando eu tentei assistir a um vídeo do YouTube, eu fui avisado de que precisava atualizar o Flash para a versão 10, que eu acabei descobrindo que não está disponível para o navegador 64-bit que eu estava usando. Ele me ofereceu a instalação do beta da versão 11. O que me jogou para o modo Desktop. Eu reinicei o aparelho. Não adiantou. Eu continuei sem poder ver os passos de dança do James Brown. Foi, de forma mais precisa, osurgimento de todos os clichês de usabilidade entre Windows e Flash em questão de poucos minutos.
Eu pedi para que as pessoas me enviassem vídeo pelo Twitter só para ver como um vídeo aleatório da internet ficaria. Nenhum funcionou. Nenhum. Eu consegui tocar um vídeo do Vimeo navegando manualmente, e acabei encontrando alguns outros, mas vídeos de internet em sua forma atual são um lado escuro para esse tablet.
E, finalmente, temos a ventoinha. Sim, esse tablet tem uma ventoinha, e ela quase sempre está girando. O que parece ok, já que isso é um aparelho com x86. Mas o MacBook Air também é, e ele tem uma ventoinha minúscula que quase nunca gira. A Microsoft falou muito sobre como o Windows 8 será otimizado para qualquer aparelho, mas em seu formato atual ele parece ter sérios problemas de performance. Tanto as demonstrações de ontem quanto minhas experiências pessoais nas últimas doze horas foram regadas de travadas do sistema. Novamente, eu sei que isso é um preview para desenvolvedores, mas não é algo encorajador.
No geral
SIM! No geral, esse treco é ótimo. Você odeia comparações, mas eu vou fazer mesmo assim: ele não esta a par do iPad (mesmo na versão original, então melhor nem considerar o iPad 2.) Há muitas coisas que ainda não funcionam do jeito que deveriam. Mas ele já é muito mais utilizável do que qualquer tablet com Android que eu já usei. Assim que a Microsoft abraçar o ARM e puder vender esse sistema em um hardware otimizado, a coisa ficará bem interessante. Esse aparelho é, na verdade, o primeiro tablet que não seja o iPad que eu me vejo comprando e usando. Ainda é cedo para afirmar, mas a Microsoft parece ter um hit em mãos.
* A Microsoft não deixou que nós falássemos o nome da fabricante do tablet até o evento de hoje. Mas tudo bem, sem problemas. Nós não vamos mencionar qual fabricante coreana (que faz um monte de smartphones, tablets com Android, telas, televisores, players de Blu-ray e não é a LG nem a HTC) que construiu o aparelho até o anúncio oficial.