Após o Congresso da Semana Global visitei sozinha um templo budista e, para a minha sorte, pude presenciar um ritual deles. Monges cantando, pessoas rezando, foi o máximo. Muita coisa ali eu ainda queria entender, principalmente, significados dos movimentos, das coisas. Nisso, uma mulher sentou ao meu lado e começou a falar comigo em chinês. Bom, ela na verdade disparou na conversa e tudo o que eu pude falar foi: “Ni Hao” (oi, tudo bem?), “Xie Xie” (obrigada) e “Sorry” (querendo dizer que meu vocabulário em Chinês se resumia a isso). Ela nem ligou e continuou puxando papo. E então eu resolvi dar uma de louca e entrar na dela. Pedi que me explicasse o que estava acontecendo, porque faziam tal coisa com a mão, e etc. Tudo por gestos. Ela falava e eu me gesticulava. Estava difícil. Até que ela me puxou pra ensinar. Ajoelhei, coloquei as mão a um palmo de distancia do corpo e na altura da linha do nariz, e assim por diante. Só sei que no fim das contas eu estava cortando fita crepe para ela prender as sacolinhas de reverência após a missa (tipo “brother”). Ela começou cortando e pediu só pra eu segurar, mas aí, resolvi cortar pra ela e ela me explicou o tamanho certo, a quantidade, enfim. Algumas pessoas que a conheciam perguntavam quem eu era e só sei que pelas risadas estavam todos achando isso estranho, mas divertido, inclusive eu.
Ainda participei de outras coisas com ela. Tinha que seguir os monges e ela apontava pra mente e pro coração. Senti que estava numa junção de “Comer, Rezar, Amar” e “Karate Kid”. Foi incrível. A sensação de ter alguém local, mostrando o ritual religioso foi WOW!
Mas minha reflexão foi mesmo de vivenciar os primórdios da comunicação. De conviver com alguém que você não consegue emitir um “A” que seja compreendido pela outra pessoa. Que você podia entender tudo que ela fala, pois outras pessoas entendem, mas você simplesmente não consegue. Sem dicionário, sem aulas de preparação, com diferenças de cultura que podem ser interpretadas erroneamente. Você empreende nessas horas ao achar oportunidades mesmo com recursos escassos. Seu idioma está na sua expressão corporal (agradeço a cada brincadeira de mímica que participei, cortar sílabas, 5 palavras e etc.).
Nessas horas, a gente volta às cavernas, cria junto um idioma, com ou sem som, pois o diálogo começa a se fazer entender. Foi mágico estabelecer um vínculo com ela. A comunicação é uma arte. Das mais bonitas. Pensar, escrever, pintar, são formas de se expressar muitas vezes individuais, pois, no fim, você quer dizer uma coisa, mas a pessoa pode interpretar do jeito dela que ‘tá tudo bem’, afinal é a possibilidade que tais artes oferecem (se você não entender o mesmo que eu, crie sua versão. Bem unilateral).
Conversar é uma arte desafiadora. Ali, em tempo real, precisa estar em sintonia e falar a mesma língua caso contrário, a arte não acontece (isso é muito 2.0). Você depende do outro e, para isso, lapida a forma, a entonação, a expressão, a lógica, a sequência, as sensações e emoções envolvidas. E, no final, você não está sozinho.
Ludmilla Figueiredo é especialista em empreendededorismo e lidera iniciativas como a Semana Global do Empreendedorismo na Endeavor de Nova Iorque. É responsável por espandir a atuação empreendedora no Oriente Médio e é correspondente especial da ResultsON na Brazil Tech Mission. Twitter: @ludfigueiredo