Se não fosse por Chester Nez e por 28 outros índios norte-americanos que criaram uma linguagem secreta usada no Teatro de Operações do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos provavelmente não teriam vencido a batalha contra o Japão. O trabalho foi tão importante que permaneceu em segredo pro décadas e eles só começaram a receber o merecido reconhecimento em 1968.
De acordo com o Major Howard Connor — oficial da Quinta Divisão dos Fuzileiros Navais durante a Batalha de Iwo Jima — “Se não fosse pelos Navajos, os fuzileiros nunca teriam conseguido tomar Iwo Jima”.
Connor tinha seis Navajos que trabalhavam com códigos o tempo inteiro durante os dois primeiros dias da batalha. Esses seis soldados enviaram e receberam cerca de 800 mensagens, e nenhuma delas tinha sequer um erro.
Antes do desenvolvimento desse código, a Inteligência Japonesa quebrou todas as formas de criptografia desenvolvidas pelos militares dos Estados Unidos, e isso custou milhares de vidas e milhares de dólares em perdas materiais. No entanto, o código Navajo nunca foi quebrado. Nem pelos japoneses nem por ninguém. Nez — que lutou em Guadalcanal, Bougainville, Guam, Peleliu e Angaur — conta a história aqui:
Nós éramos 29 code talkers e criamos uma linguagem secreta que era duplamente criptografada e usava tanto o inglês quanto a língua Navajo. Ela se tornou o único código falado que nunca foi quebrado na história moderna das guerras. Finalmente os fuzileiros podiam planejar manobras estratégicas sem que o inimigo conhecesse cada movimento antes que eles fossem feitos.
O código era tão bom que logo foi implementado em todo o Teatro de Operações do Pacífico:
O código deu tão certo que as tropas recrutaram mais 400 Navajos para trabalharem como code talkers. Durante a guerra, a principal missão de Nez e dos outros code talkers era receber e enviar mensagens criptografadas. Mesmo que começassem a atirar neles, eles deveriam continuar enviando as mensagens e não atirar de volta no inimigo.
“Isso era muito estressante”, diz Nez. “Mas era o que nós fazíamos”.
Os nazistas tentaram frustar o plano
Os Navajos não foram os únicos índios norte-americanos fundamentais para vencer a guerra. Os Comanches também trabalharam duro na Europa, mesmo depois de Adolf Hitler ter enviado um time de antropólogos para tentar aprender as línguas dos índios para o caso de elas serem utilizadas durante a guerra. Hitler sabia que, durante a Primeira Guerra Mundial, as forças americanas e britânicas haviam usado os Cherokees e os Choctaw como code talkers contra os alemães.
Felizmente, os asseclas de Hitler nunca conseguiram compreender a complexidade das línguas indígenas e — mesmo enquanto os Aliados estavam preocupados com as descobertas da equipe nazista de antropologia — quatorze code talkers Comanches conseguiram usar seu código com sucesso durante a Invasão da Normandia e até o final da guerra.
Os Comanches da Quarta Companhia de Sinais compilaram um vocabulário de mais de 100 termos de código usando palavras ou frases em sua própria língua. Usando um método de substituição similar ao dos Navajos, a palavra codificada dos Comanches para tanque era “tartaruga”, bomba era “avião grávido”, metralhadora era “máquina de costura” e Adolf Hitler era “homem branco maluco”.
No norte da África, 27 índios Meskwaki fizeram o mesmo trabalho contra alemães e italianos. Surpreendentemente, eles perfaziam nada menos que 16% da população Meskwaki em Iowa.
A história completa dos code talkers fica ainda mais incrível considerando que essas tribos foram sistematicamente exterminadas, tiradas de suas terras e humilhadas pelo governo dos Estados Unidos e por seus militares poucas décadas antes da Segunda Guerra. Todos eles vivam (e ainda vivem) em reservas e sofreram (e ainda sofrem) a mesma discriminação que os negros americanos.
Reconhecimento tardio
Para adicionar insulto à injúria, os code talkers não tiveram reconhecimento público até 1968. Em 1982, o presidente Ronald Reagan deu aos Navajos um “Certificado de Reconhecimento”. Somente com Bill Clinton, em 2000, os 29 Navajos foram premiados com medalhas de ouro enquanto os outros Navajos receberam medalhas de prata. Quatro sobreviventes dos 29 Navajos receberam as medalhas do presidente George W. Bush em 2001. Nez foi o último deles.