Em duas edições do youPIX Festival, nós levamos uma questão que sempre dá o que falar, o humor na web. Na onda do politicamente correto, discutimos se realmente vale tudo por uma risada.
No casos de família youPIX Chat de hoje, levantamos novamente a questão, mas sobre as páginas de humor negro que tão fazendo cada vez mais sucesso no facebook. Mais do que discutir se o humor em si é válido ou não, a questão, agora, é o quanto as pessoas estão curtindo e compartilhando SEM MEDO DE SER FELIZ esse tipo de conteúdo.
Só na segunda semana de setembro, muitas páginas do ~feice~ foram deletadas, inclusive, a Humor Negro. Mas, os criadores logo criaram uma segunda versão e, em menos de quatro horas, eles conseguiram mais de 15 mil likes! Sem contar que eles foram vencedores do Melhores da Websfera no youPIX São Paulo, que é uma votação totalmente aberta ao público.
E não é só esta página do gênero que faz sucesso na webz. Se você fizer uma busca no Facebook por “humor negro”, você irá encontrar no mínimo umas 40 páginas e com muitas curtidas! E agora, José? Com a ~onda~ do politicamente correto que estamos vivendo, como explicar a crescente popularidade dessas páginas?
Perguntamos pra alguns pesquisadores e especialistas no assunto. Dá só uma olhada:
Humor Negro sempre existiu. O que acontece é que hoje é mais fácil de consumir esse tipo de humor. A Internet trouxe as Redes Sociais e o Youtube e somos inundados diariamente com esse tipo (e outros) de humor.
A piada pela qual Rafinha Bastos foi crucificado é antiga e sempre foi contada nas ruas. Os Trapalhões, Costinha e Ary Toledo certamente passariam maus bocados nos dias de hoje. As pessoas curtem e compartilham essas piadas porque podem ser preconceituosas sem ser julgadas. Só o autor da piada é recriminado, quem disseminou passa ileso.
Não acho que o humor negro melhorou ou piorou, apenas tem mais visibilidade como qualquer outro tipo de manifestação de humor. Nem ficamos mais chatos ou intolerantes. Pra mim, qualquer tipo de humor é válido. O autor da piada apenas tem que estar ciente do que essa piada, dependendo do contexto, pode acarretar.
Apesar de estarmos mais politicamente corretos, as pessoas encontraram na internet (seja por twitter, facebook ou outros sites) uma forma de expressar como se sentem, do que gostam e tudo mais. Acredito que por isso as páginas de humor negro tiveram um aumento absurdo em seus membros. Além disso, tem muita gente que ainda tem a ideia de que a internet é uma ~terra sem lei~, que você pode fazer tudo e não será responsabilizado por isso.
Tem também toda aquela necessidade de ser do contra, de ser troll. No caso da página Humor Negro no facebook, especificamente, não a criamos pensando em não nos responsabilizar, até por que viemos de uma comunidade do orkut em que tudo era absurdamente controlado. Mas há várias páginas de humor negro por aí que abusam de gore/racismo/homofobia. Isso não é humor negro…
O humor tanto serve de crítica, denúncia, como de entretenimento, de riso mais frouxo, da cola social que a força dele detém, daquilo que é mais inato à nossa natureza – seja por nos identificarmos, seja pelo estranhamento, seja pela válvula de escape possível neste tipo de expressão.
Assim, os conteúdos de humor politicamente incorretos, trash, se ligam às características de velocidade criativa que o riso requer para a agilidade de apropriação e remediação (como no caso dos memes e spoofs, por exemplo), publicação, compartilhamento e repercussão na web – contribuindo para essa eletrização cada vez mais soberana do humor no ciberespaço.
Eu acho que o que define o humor mais “pesado” e a ofensa é uma coisa só: a intenção de quem fez a “piada”. A piada tem uma estrutura de piada, não é uma agressão pura e uma simples jogada num post ou num tuíte.
A questão aqui é que ficou muito fácil agora dizer “era brinks” depois de agredir virtualmente. Ainda temos aquela velha ideia de que “na internet não dá nada”, e a galera curte e compartilha um conteúdo que só alimenta o ódio. Gostaria de fazer uma proposta: se você acha que se alguém não entender que “era piada”, isso é culpa do outro e não sua, entra numa delegacia que tenha um delegado negro, diz uma injúria racial e quando ele for prender você em flagrante diz “mas era brinks”.
O problema está na própria maneira como esse politicamente correto muitas vezes é colocado: como um conjunto de regras que tolhem formas populares de humor espontâneo. Essa é uma questão complicada, pois muitos preconceitos e intolerâncias estão impregnados na cultura vernacular, e portanto introduzem-se nas piadas cotidianas. Quando há um esforço no sentido de combater o preconceito, e uma urgência em fazê-lo, aparecem regras para o comportamento adequado que, independente de sua boa intenção, são vistas como restritivas. Assim quebrar essas regras pode assumir um caráter prazeroso, uma experiência limitada de liberdade, embora distorcida.
Na cultura popular são comuns as táticas evasivas que visam justamente fugir das regras, geralmente impostas de cima para baixo por uma elite cultural. Daí essa percepção comum de que subverter as regras do politicamente correto é pensar “de forma livre”, ou romper criativamente com uma “norma burra”. Se a internet hoje faz parte dessa cultura popular, é normal que isso se manifeste também na web, com a diferença que as piadas que antes ficavam nos bastidores agora são materializadas na forma de imagens ou vídeos, que são compartilhadas e ganham escala. Mas quem é atingido, é difícil encontrar a graça.
O que me parece preocupante nisso tudo é que a ênfase nas regras (pelos dois lados, para defendê-las ou subvertê-las) acaba deixando em segundo plano o problema do preconceito reproduzido veladamente.