Quando eu era mais jovem e ainda frequentava o Ensino Médio enfrentava um grave problema: a Wikipedia copiava meus trabalhos. E os professores sempre descobriam. Talvez porque ela também copiava o deles, não sei. O que descobri algum tempo depois é que eu sempre estive certo, afinal, eu havia escrito a Wikipedia.
Também descobri que traduzi o Facebook e o Twitter (Tópicos da Tendência, mea culpa), que ajudei no desenvolvimento do Linux e do Firefox, que coopero com o Google AdSense e Amazon e que todas as redes sociais só existem porque eu existo.
Não, leitores do Tecnoblog, este não é um ensaio narcisista sobre mim. Pelo contrário, é uma constatação de uma revolução silenciosa da qual todos nós fazemos parte. Uma revolução que aos poucos está mudando a forma como fazemos as coisas. Uma revolução chamada crowdsourcing.
Firefox e Wikipedia: crowdsourcing do início ao fim
Crowdsourcing, na Wikipedia, é um modelo de produção que utiliza a inteligência e os conhecimentos coletivos e voluntários espalhados pela internet para resolver problemas, criar conteúdo e soluções ou desenvolver novas tecnologias. Crowdsourcing é como procurar uma agulha num palheiro, com o feno te ajudando a olhar.
Graças à internet estamos, a passos largos, extrapolando os limites da colaboração. Se antes estávamos restritos a pequenas aldeias locais, nossa casa, vizinhança, trabalho etc, hoje podemos colaborar com o mundo. O crowdsourcing e as mais diversas ferramentas da web nos permitem isso. Uma prova disso é a própria Wikipedia, à qual me referi várias vezes. Criamos colaborativamente, sem lucro algum, a maior enciclopédia do mundo [carece de fontes]. Agora estamos microfinanciando projetos através de crowdfunding e já se sabe que este é o princípio de uma mudança econômica.
Com estas novas mudanças, ninguém mais tem o monopólio sobre o conhecimento da forma que a IBM tinha da computação na década de 60 ou os Bell Labs até os anos 1970 nas comunicações. O conhecimento agora está espalhado e não faz mais sentido escondê-lo dentro da empresa. Através do crowdsourcing podemos ouvir, aprender e, em seguida, melhorar e inovar. É uma vantagem real num mundo altamente dinâmico e competitivo.
Claro que nem tudo são flores. Há de se ter controle. E esse controle pode significar o sucesso ou o fracasso do crowdsourcing. Assim como quase tudo que é produzido na internet, o crowdsourcing obedece à Lei de Sturgeon, discípulo de Murphy, que afirma que 90% de qualquer coisa é lixo. Mas em crowdsourcing os 10% restantes fazem valer a pena. Quem bem sabe disso é a Mozilla Fundation e seu navegador livre Firefox. Apesar de contar com a ajuda de centenas de colaboradores para o seu desenvolvimento, nenhuma melhoria vai para o ar sem antes passar por testes cuidadosos. Pelo menos na teoria é assim.
Do outro lado vejo o Linux e a falta de uma curadoria para qualificar as contribuições da multidão. A não existência de uma fundação que una esforços e não crie mais uma distro talvez seja a falha do pinguim com o crowdsourcing. Não estou desmerecendo o sistema, apenas dizendo que uma multidão colaborando junto num mesmo caminho produz melhores resultados. Mas eu posso estar enganado — essa heterogeneidade é que faz a comunidade forte.
A quantidade de conhecimento disperso entre nós sempre ultrapassou nossa capacidade de aproveitá-lo. O crowdsourcing corrige isso. Hoje estamos criando constituições através da inteligência coletiva. “Isso é mais do que sentar e ter uma conversa agradável. Trata-se de aproveitar um novo modo de produção para atender a inovação e elevar a criação de riqueza para novos níveis.” E não é meu lado narcisista se manifestando novamente, quem disse isso foi Eric Schimidt, CEO do Google. Conhece?
Rafael Zatti | É fundador e “Director of Everyting” da plataforma de crowdsourcing ideias.me. Também escreve sobre crowdsourcing e inovação aberta no blog Crowd O Quê?.
Você pode falar com ele pelo [email protected].
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