Embora muita gente acredite que Design & Direção de Arte são áreas muito similares, na prática (e principalmente na teoria) isso não é verdade. Cada uma delas tem suas necessidades, seus intuitos, suas bases e aplicações. Dois universos que não são parecidos e justamente por isso se complementam. Enquanto um diretor de arte possui habilidade para desenvolver idéias em composições (como anúncios, filmes, etc), um designer sabe oferecer uma combinação tipográfica mais adequada e funcional para um determinado projeto, por exemplo.
E na minha opinião, o uso de tipos é uma questão terrível. Pois produzir essas combinações fazem parte do dia a dia de qualquer diretor de arte (embora ele não tenha a necessidade de estudar isso tão a fundo, como um designer). É óbvio que o critério, a quantidade de referências e o bom gosto ajudam bastante. Mas sem dúvida, o conhecimento teórico do design ajuda bastante nessas horas.
Vale ressaltar que se levarmos ao pé da letra, criar uma combinação tipográfica (com tipos já existes) de um livro ou algo do tipo, não é design: é editoração. No caso de um livro, só seria design se ele fosse projetado dentro de uma função, como um objeto. Ou seja: desenvolvimento de tipografia adequada; escolha de um suporte (papel, capa) correto; aplicados num formato ideal. Voilà! Design.
O design quase sempre parte de 4 fatores primordiais na hora de escolher a tipografia de um trabalho. PRIMEIRO: Qual é a função do projeto? É um texto corrido? Existirão titulares? É texto curto ou leitura constante? Precisaremos de uma quantidade de estilos? SEGUNDO: Tecnicamente teremos limitações na impressão? É off-set, gráfica rápida, silk, CTP? Seremos obrigados a usar True Type ou poderemos usar Open Type? TERCEIRO: O cliente tem verba para confeccionarmos uma letra? E se não tiver o suficiente, essa grana compra quantas licenças? QUARTO: Qual é a relação entre a forma e o conteúdo? O volume/visibilidade são essenciais para o trabalho?
No nosso alfabeto (latino) as letras são lidas pela forma, o que exige bom senso e respeito com o ‘tom’ a ‘personalidade’ delas. Isso porque muitas vezes esses ‘timbres’ não harmonizam (graficamente falando). E como a forma é o que nos interessa, rolam aberrações se colocarmos uma Bela e uma Fera pra dançar no layout.
Assim como na química, aqui combinações erradas também explodem na nossa cara. As itálicas dificilmente duplam bem com romans: é preciso escolher com sabedoria (imprimir, testar a leitura ao máximo principalmente no caso de texto corrido). E infelizmente a combinação com letras de uma mesma família não resolve isso. Seja o caso de itálica + roman ou não, esse sempre será um coquetel perigoso. Ex.: Helvetica Roman + Helvetica Expanded… é horrível!
Um jeito fácil de resolver essas combinações é diferenciando bem a altura, o corpo e o espaço. Ou seja? Chuta o balde com tamanhos muito diferentes. Normalmente isso funciona.
As combinações clássicas (e mais fáceis) são entre serif + sans serif. Mas se o caso for de duplar serif + serif ou sans + sans, senta e chora. Nada pode ser mais difícil do que isso. As sans são ótimas. Mas nem sempre se aplicam bem em tudo. Cada vez que alguém usa sans em texto corrido, um tigre-de-sumatra morre na Indonésia. Outro erro clássico é o uso de bold em texto para longas leituras. Nesse caso, falamos de 12 pandas morrendo de gripe na China. Seguindo a bula, é sempre bom evitar.
Na hora de comprar uma letra, é sempre bom ficar esperto, pois existem diferenças entre “mesmos tipos” de “diferentes fabricantes”. Elas não são iguais. Em alguns casos (serifs) você pode comprar uma letra mecanizada, sem aquele traço orgânico, elegante, que é desenvolvido com base no traço de uma ponta. Isso não significa que as mecânicas são imprestáveis: são ótimas parceiras de sans.
Tipografia é uma ciência. E como todas as outras, seu desenvolvimento não tem limites, nem verdades absolutas. Portanto o que vale é tomar cuidado com os erros mais clássicos, encontrar novas combinações e compartilhar com todos. É a melhor forma de desenvolvermos isso cada vez mais.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Facebook | Contato | Anuncie