Rio de Janeiro – Período de carnaval significa muito trabalho para o polo calçadista da Baixada Fluminense, apoiado pelo Sebrae no Rio de Janeiro. Os mais de 200 artesãos dos municípios de Duque de Caxias e Belfort Roxo produzem cerca de 50 mil pares para as escolas de samba cariocas, o que representa metade da produção mensal do grupo.
A encomenda é um reforço na renda, mas também uma enorme responsabilidade. Principalmente quando os clientes são figuras importantes para o desfile, como o mestre-sala e a porta-bandeira. A função do casal é apresentar e defender a escola e o desempenho vale nota. A pontuação depende da execução de uma série de passos, muitos deles obrigatórios. Toda a sequência deve ser executada com graça, leveza e precisão. Para que isso aconteça sem tropeços, a arte dos artesãos tem um papel decisivo.
“Imagine se o solado sai no meio do desfile? Sem chance! Usamos uma cola de altíssima qualidade”, reage com bom humor o diretor de Educação Sócio-Ambiental da Cooperativa de Artefatos de Couro e Afins do Estado do Rio de Janeiro (Coopcarj), Avelino da Silva. A cola é um dos segredos para a qualidade do calçado. O material usado é o melhor do mercado, destinado apenas aos sapatos luxuosos, já que o custo pesaria muito na produção em maior escala. Para deslizar na avenida, usa-se a sola, terceira camada do couro. A palmilha é dupla e alcochoada – para garantir o conforto – e forrada com tecido, para absorver o suor.
Quando o solado, a palmilha e o cabedal, que é a parte de cima do calçado, são fixados, o artesão dá o toque final. Com um martelo, bate-se levemente para desfazer qualquer bolha de ar, procedimento que garante a integridade da estrutura. Avelino explica que existe um equipamento industrial, que dá esse tipo de acabamento, mas que poucos têm esse instrumento, por isso, o que vale é o talento e a sensibilidade de cada um.
A sandália das passistas também é cheia de cuidados, como a maneira especial de prender o salto à palmilha; o uso de uma espessura de ferro em toda a estrutura do calçado e costuras reforçadas para evitar que se quebrem; e a utilização de couro de qualidade para proteger os pés. Tudo isso para que elas atravessem a avenida com a única preocupação de defender a escola com o seu gingado.
A entrada desses artesãos calçadistas no mundo do samba aconteceu em 2007, graças a uma capacitação do Sebrae no Rio de Janeiro, que contou também com uma assessoria de estilo. De lá para cá, as encomendas cresceram e os artesãos recuperaram seu prestígio no mercado.
Visibilidade
A coordenadora estadual de Projetos de Moda do Sebrae no Rio de Janeiro, Andréia Lopes, explica que o talento do grupo é reconhecido por importantes grifes cariocas. No entanto, com a mudança das grandes empresas para o Sul e o Nordeste do país nos últimos anos, o trabalho diminuiu drasticamente.
“Eles deixaram de ser empregados e começaram a produzir suas próprias peças, mas sem qualquer estrutura comercial. O projeto começou com foco no reposicionamento de mercado e na formalização. Com a participação em eventos e feiras de moda, eles estão reconquistando a visibilidade”, explica Andréia.
É o que pensa Avelino. “Não precisamos mais driblar a sazonalidade. Com capacitação e apoio do Sebrae, conseguimos vender nossas peças o ano inteiro. Agora, sonhamos em construir uma escola, pois o que nos falta é mão de obra para dar conta das encomendas”, afirma.
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