Brasília – Entre os presentes recebidos pelo Papa Bento XVI em 2008 está um porta-joias ofertado pelo Exército Brasileiro. Na peça, confeccionada em madeira com a técnica da marchetaria, estão registradas a bandeira nacional, um soldado e o símbolo do Exército. Ela foi produzida pela Marchetaria do Acre, de propriedade do ex-seminarista Maqueson Pereira da Silva e uma das unidades produtivas vencedoras da terceira edição do Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato. A premiação foi realizada nesta terça-feira (4), no Rio de Janeiro.
A Marchetaria do Acre está instalada em Cruzeiro do Sul, em plena Amazônia, na região do Parque Nacional da Serra do Divisor, na fronteira com o Peru. De lá suas obras – quadros, painéis, porta-joias – que retratam especialmente temas amazônicos, são vendidas para vários estados do Brasil e países como Itália, Estados Unidos e China. Os artesãos usam sobras de madeira de marcenarias e pequenas indústrias de móveis locais, galhos caídos e restos de troncos de árvores cortados há anos e que se conservam na floresta.
Maqueson relaciona entre seus clientes órgãos públicos, como a Assembleia Legislativa do Acre, para quem produziu imensos painéis retratando a Revolução Acreana, as Forças Armadas e o Itamaraty. Já vendeu também para a Petrobras e a Vale. Boa parte de suas peças são encomendadas para brindes corporativos. Assim, suas obras são distribuídas pelo mundo, como ocorreu com o porta-joias ofertado ao Papa Bento XVI. “Não sabia que a peça seria dada ao Papa. Foi uma surpresa muito feliz”, lembra.
O artesão conta que esse resultado é fruto de muito trabalho e determinação. Ele nasceu em meio à floresta, no seringal Flora, na região do atual município de Porto Walter, também na fronteira com o Peru. Saiu de lá aos 15 anos, numa viagem que durou três dias de barco, para estudar na sede do município, num colégio de padres alemães. Além de estudos em áreas como Filosofia, História da Arte e Arquitetura, descobriu a marchetaria – arte de incrustar materiais em outras peças, formando motivos decorativos.
Estudou o ofício num seminário em Santa Catarina e, depois, na Alemanha e na Suíça. O artesão diz que as obras contam suas vivências. Imagens sacras, no seminário; flores, em referência ao casamento e nascimento das filhas; e o mundo amazônico, com diferenciais como cores, nuances, profundidade e movimento. “É a união da vivência e dos conhecimentos adquiridos”, explica. De volta ao Acre, apostou na sua arte e enfrentou a falta de estrutura material e a distância dos centros mais desenvolvidos. Começou num pequeno espaço cedido pela igreja e buscou apoio de órgãos públicos e entidades como o Sebrae no Acre.
“Apresentei meu trabalho no Sebrae e disse: sei fazer isso. Se me derem oportunidade, posso fazer melhor”, lembra. Foi orientado a montar formalmente o negócio. Ao longo do tempo recebeu apoios como capacitação em gestão, elaboração de plano de negócio e de projeto para obtenção de financiamentos, incentivos para acesso a mercados como participação em feiras nacionais e internacionais. Para Maqueson, que também venceu a segunda edição do TOP 100 de Artesanato, em 2009, a iniciativa é fundamental para o reconhecimento e a divulgação de seu trabalho no Brasil e no exterior.
Hoje o artesão tem uma microempresa com 26 empregados. Quer contratar mais trabalhadores e prevê, para o próximo ano, a transformação do negócio numa pequena empresa. Isso significa que ultrapassará a receita bruta de uma microempresa, de até R$ 360 mil anuais, e que deverá alcançar outro patamar empresarial. “Eu me orgulho de viver da minha arte”, diz Maqueson, que promove palestras sobre essa vivência, tem uma oficina-escola onde ensina marchetaria para jovens locais e, com parceiros, realiza o reflorestamento do seringal onde nasceu e que encontrou transformado em fazenda. “Já plantamos 30 mil árvores”, garante.
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