E o desinibido Mika voltou à cena recentemente com seu terceiro álbum de estúdio, The Origin Of Love, que chega com o fardo pesado de manter o excelente nível pop dos dois primeiros, Life In Cartoon Motion e The Boy Who Knew Too Much.
Aqueles discos tem, para mim, o grande mérito de soar absolutamente contemporâneos e modernos enquanto, ao mesmo tempo, revelam uma erudição impressionante do compositor Mika, que é um virtuoso no piano e nos vocais. Esse cara sabe fazer música pop decente e que combina com seu tempo: refrões memoráveis, melodias inteligentes, arranjos divertidos – eletrônicos por vezes – mas nunca sem profundidade.
Pelo menos nos dois primeiros discos, as músicas são leves e divertidas, mas tem diversas camadas, sendo lapidadas com um cuidado que não se vê com muita frequência na música pop de hoje em dia. E mesmo não sendo um grande fã de músicas que abusam do eletroniquês, eu considero um pop que dá gosto de ouvir. Justamente porque a ideia sempre foi mais importante do que o recurso. Ou seja, uma batida eletrônica aqui, um efeito de voz ali, isso servia como tempero para uma base rica e inteligente, e por isso eram bem-vindos.
Mas agora parece que o recurso ficou mais importante do que a ideia, e The Origin Of Love sofre com um excesso de efeitos, loops, vocoders, sintetizadores – e tantas outras firulas feitas para a pista de dança – a ponto de parecer que é nada mais do que um apanhado de firulas, e no meio disso tudo a música ficou esquecida. Felizmente esse não é o caso de todas as faixas.
Quando Mika deixa suas músicas respirarem, elas brilham.
E aí entra em cena o bom e velho compositor talentoso de sempre, com o mesmo vigor dos discos anteriores. Lola é um belo exemplo de que música pop pode se manter em pé sozinha sem as muletas eletrônicas, e a faixa esbanja uma linha de baixo que parece ter vindo dos anos 70, uma levada vintage e uma melodia sublimemente construída. Aí fica legal, porque Mika sabe o talento que tem e brinca com backing vocals e com seu surpreendente piano. Outros bons momentos são Kids, Heroes, o single Celebrate e a belíssima Under Water, de longe a coisa mais bonita do disco inteiro.
O resto do álbum não é ruim, mas parece que ele está tentando mostrar a qualquer custo que sabe se comunicar com um público mais jovem, e aí força a barra, sufocando músicas boas com elementos caricatos de pista de dança. Ele sempre soube usar esses elementos com bom gosto, mas agora pesou a mão um pouco demais.
Depois de ter feito dois discos impecáveis e de um pop invejavelmente maduro, não sei se o disco novo é a origem do amor, como seu título sugere. Mas com certeza é a origem de uma certa decepção.
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Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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