Já contamos aqui neste post o que são e pra quem servem as networks, certo? (Se ainda não leu, vale a pena passar por lá antes de ler esse post aqui, que é uma continuação do assunto).
Na intenção de desvendar como funciona o esquema das networks que agregam hoje os mais populares canais de YouTube do mundo, é preciso entender quais são as networks que atuam no Brasil e qual o perfil de cada uma.
Atualmente, existem mais de 200 networks atuando no YouTube. No entanto, poucas delas têm relevância concreta, e menos ainda têm presença no Brasil. Listarei aqui apenas cinco delas, com a impressão que tive sobre cada uma após diversas conversas, pesquisas e ao abordá-las (ou ser abordado por elas), e seus prós e contras.
Conhecida por aqui como a network dos games. Não é só dos games na verdade, já que conta com grandes canais de entretenimento em geral, como Manual do Mundo e Nostalgia, mas com um grande foco nesse nicho. A Machinima foi a primeira network a realmente ter um impacto no YouTube Brasil, viabilizando o boom dos canais de games e oferecendo contratos um tanto controversos na época, mas com os quais ninguém discutiu muito pois não havia opção.
Hoje, outras networks já oferecem a monetização de vídeos com imagens de games, mas a Machinima continua sendo um nome importante no segmento. No entanto, seus contratos de longuíssima duração (às vezes até vitalícios) e com CPM fixo ficaram para trás. No início, o Machinima oferecia um CPM de US$2 a todos os seus associados.
Esse modelo não vingou no Brasil, já que trazia prejuízo à network, pelo mercado brasileiro ser muito diferente do americano, e seus contratos estão sendo reformulados. A Machinima até tem representação no Brasil para atender suas centenas de canais tupiniquins em português, no entanto, até onde eu sei, sua equipe por aqui se resume a DUAS pessoas.
Network de entretenimento em geral, fundada por um dos criadores do programa de parceria do próprio YouTube. Não tem representação no Brasil, e não fez muito alarde ao chegar, mas conta com canais imensos como Porta dos Fundos, Galo Frito e Alta Cúpula (o canal do Marcelinho).
Com mais de 9 mil canais associados, é a 3a maior do mundo, e tem como diferencial um foco maior em tecnologia, oferecendo um painel de visualização de dados mais sofisticado que o do próprio YouTube, e o sistema Gorila para incrementar a monetização dos seus canais.
Para você que estranhou o nome, Gorila é basicamente um mural que oferece anúncios pagos para quem quiser fazê-los. Se você for um grande YouTuber, pode conseguir seus próprios merchans sozinho, mas para você que ainda não tem essa pica toda, o Gorila pode ser uma boa solução. Você acessa o sistema, vê o que está sendo oferecido, faz um anúncio do que escolher nos primeiros segundos do seu vídeo e pronto… esse vídeo específico receberá um “CPM prêmio” que pode ser de 10 a 20 vezes maior do que o normal.
O sistema é muito similar aos anúncios do Facebook. O cliente diz quanto quer gastar, a network distribui esses anúncios entre seus canais e paga o CPM prêmio até a verba acabar. Ao acabar a verba, o vídeo passa a ser monetizado normalmente como qualquer outro.
Para mim, esse sistema me pareceu inteligente e sustentável, um bom diferencial. No entanto, quase sempre esses anúncios são muito mal inseridos nos vídeos, o que cria uma sensação estranha e que pode afastar o público. Além disso, outras networks já estão desenvolvendo sistemas parecidos, o que pode derrubar essa vantagem competitiva.
Como um braço da Maker no Brasil, a ParaMaker é a primeira a oferecer serviços totalmente em português (desde o contrato até o atendimento, o que não é pouca coisa) e é de longe a mais ambiciosa. Encabeçada pelo vlogueiro e empresário Felipe Neto, a ParaMaker promete trazer todo o foco e trabalho na produção e profissionalização de conteúdo oferecido pela network gringa ao Brasil e revolucionar o cenário nacional, oferecendo estúdios, workshops, pronto atendimento, assessoria de imprensa e venda de anúncios diretamente no marcado Brasileiro, o que traria um CPM maior aos seus membros em relação às outras networks que não operam dessa forma aqui.
No entanto, ao menos até agora, a ParaMaker seria mais ou menos como uma empresa do Eike Batista: todo mundo está APOSTANDO no que vai rolar. E os desafios não serão poucos, como, por exemplo, manter o nível de atendimento prometido para todos os canais (que já passam de mil), conseguir vender anúncios em um mercado ainda muito incipiente como o nosso e gerenciar com o devido cuidado todos os tipos de conteúdo que eles pretendem abarcar.
Uma network muito menor comparada às três primeiras citadas, nascida com um foco maior em canais ligados a música e uma filosofia diferente. Conversei com Sarah Penna, a co-fundadora da Big Frame em janeiro, que me apresentou a network como tendo uma abordagem de butique.
A ideia é ter poucos canais (apenas 187 comparados aos milhares da Fullscreen, ParaMaker e Machinima) bem escolhidos e cuidar bem de perto de cada um deles, oferecendo as melhores oportunidades e contato direto e intenso. Esse me parece ser um modelo muito interessante, mas pouco inclusivo. Justamente por essa abordagem, apesar de contar com canais brasileiros ótimos, como o do Gustavo Horn, não há planos imediatos para expandi-la ao Brasil.
Antes de tudo, por questões de transparência, deixo claro que sou associado a essa network com meu canal, o Rolê Gourmet, e venho desenvolvendo um trabalho conjunto com ela para consolidar e expandir o cenário de canais de culinária brasileiros, então minha visão sobre ela tem seu viés.
A primeira network focada exclusivamente em culinária do YouTube, e que cito aqui mais como um exemplo de network de nicho. Acho o modelo da Tastemade interessante por oferecer uma mistura dos pontos fortes das outras networks em uma escala menor e mais focada. Há o foco (no caso exclusivo) em culinária, como a Machinima tem nos games, um trabalho conjunto muito intenso com poucos canais bem selecionados, como o da Big Frame, e uma estrutura interessante para a produção de conteúdo e colaboração como a da Maker (em janeiro fomos convidados até Los Angeles para gravar nos estúdios da Tastemade com um dos meus canais favoritos, o Sorted Food, e fomos pagos por isso).
No entanto, isso só é possível enquanto esse seu nicho específico não chega a proporções gigantescas, como os games chegaram. Portanto, embora eu veja com muito bons olhos as networks de nicho e focadas em um relacionamento próximo com seus canais como a Tastemade e a Big Frame, sei que esse modelo só se sustenta em uma escala muito menor do que a almejada (e muitas vezes exigida) por certos segmentos.
Como escolher a melhor network pra você?
Essa pergunta já é mais difícil… Se você tem um canal no YouTube e está procurando uma casa nas networks, muitas coisas devem ser levadas em conta. Por exemplo, seu canal é de um nicho específico? Caso seja, busque uma focada nele e se concentre na criação e consolidação de uma comunidade de criadores desse tipo de conteúdo. Isso é muito valioso.
No caso dos games, por exemplo, você pode ir de Machinima pela força do seu nome no mercado, ou de The Game Station Brasil (que faz parte da Paramaker) se quiser um atendimento melhor em português.
Aliás, se você não entende bem inglês, eu DESACONSELHARIA você a fechar contrato com qualquer network que NÃO ofereça contratos em português (no caso, a Paramaker e agora a Machinima são as únicas que oferecem isso hoje), porque se comprometer por dois (ou às vezes até mais) anos contratualmente com algo que você não entende perfeitamente é pura xaropice. A ParaMaker também é uma boa aposta para conteúdo diverso em geral.
Caso você esteja a fim de uma graninha a mais, pense na Fullscreen. O sistema Gorila é muito interessante nesse sentido, mas ainda pessimamente utilizado em geral. Você poderia ser um dos primeiros a fazer o negócio bem feito e se destacar com isso.
Por último, se você quiser um carinho maior com seu conteúdo e estiver disposto a aprender e aprimorar seu canal com um relacionamento mais próximo, pode buscar a Big Frame (caso seu conteúdo se encaixe na proposta deles). No entanto, é bom ter em mente que o gargalo para se entrar em uma network assim é muito mais minucioso do que os de networks maiores que abraçam geral como Machinima, Fullscreen e ParaMaker.
Muito bem! Você já aprendeu o que são, pra que servem as networks e quais estão no Brasil… mas como saber se realmente vale a pena fazer parte de uma? Leia aqui quais são os pontos importantes na hora de avaliação.
*Pra facilitar a sua vida e por motivos de ~amamos infográficos~, criamos traçamos abaixo um panorama imagético comparativo do universo das networks que atuam no Brasil e foram analisadas pra essa matéria: