Consultorias tecnológicas e uma cartilha informativa vão ajudar bares e restaurantes das cidades onde acontecerão os jogos da Copa do Mundo da FIFA 2014 a se adequarem às regras de segurança alimentar, conquistando melhores classificações junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os pequenos negócios poderão aderir ao projeto-piloto de Categorização dos Serviços de Alimentação da Anvisa, iniciativa do Sebrae que vai mostrar aos consumidores as condições de higiene de seus empreendimentos. O lançamento da solução acontece nesta quarta-feira (14), em Brasília (DF).
Os estabelecimentos serão inspecionados pela vigilância sanitária e classificados de acordo com um sistema de pontuação– que vai de 1 a 4. A adesão é voluntária. A expectativa é de que até 2015 sejam categorizados aproximadamente 2,5 mil serviços de alimentação em 11 das 12 cidades-sede da Copa – Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, além do estado da Paraíba.
“As normas nem sempre são estruturadas com a participação efetiva do segmento, por isso, os donos de pequenos negócios muitas vezes não sabem como implementá-las. Nosso papel é exatamente esclarecer essas propostas e fazer com que, na prática, os empreendedores consigam ofertar serviços de qualidade”, afirma o presidente do Sebrae, Luiz Barretto.
No Rio de Janeiro, ao todo existem 9 mil bares e 7 mil restaurantes, segundo o Sindicato de Bares, Hoteis e Restaurantes (SindRio). Desse total, foram selecionados 241 estabelecimentos de alimentação na capital e 40 em Búzios. Na lista, constam empreendimentos tradicionais como restaurantes de hotéis cinco estrelas até estabelecimentos de bairro, como os que são localizados em Tijuca e Vila Isabel. A ideia é promover um arco amplo de avaliação do setor.
O bar Luiz, fundado há 126 anos e um dos mais movimentados do Rio de Janeiro, está entre os selecionados para serem avaliados. Segundo a empresária Rosana Santos, a categorização representa uma oportunidade de tornar visível um trabalho que é feito nos bastidores. “O cliente pode até nem ver o esforço que se faz, mas percebe o resultado. Acho importante a iniciativa, porque nunca se deve deixar de investir em aprimoramento”, afirma.
O empresário Plínio Fróes, do Rio Scenarium, considerado uma referência na cidade, também está animado com a categorização. “Esse reconhecimento deve ser visto como uma espécie de grife para o estabelecimento. Nunca fui multado por nenhuma irregularidade, mas, ainda assim, continuo os investimentos e não deixarei de participar das clínicas oferecidas pelo Sebrae”. A equipe do Peixe Vivo, restaurante de Copacabana, também está se preparando para reforçar o padrão de excelência com as clínicas que serão oferecidas pelo Sebrae. “O cliente vai sentir mais confiança no que está vendo e vai aumentar a cultura da avaliação”, reforça o empresário Roberto Cunha.
Autoavaliação
Quando o restaurante aderir ao projeto de categorização, o empresário poderá realizar uma autoavaliação prévia do seu negócio e, por meio de uma cartilha elaborada pelo Sebrae e pela Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel), conhecerá as exigências da Anvisa. Ao identificar o que está em inconformidade com sua empresa, ele poderá elaborar um plano de ação para sanar os problemas encontrados.
Outra ferramenta procurada pelos empresários é a consultoria tecnológica. Com ajuda de um consultor, que faz duas visitas ao estabelecimento, é possível colocar em prática as mudanças e adaptações necessárias. Na primeira visita, o consultor faz uma checagem dentro da empresa de alguns itens –como estrutura física, higiene e manipulação dos alimentos, proteção dos trabalhadores e qualidade das matérias-primas e ingredientes. Na segunda visita, o consultor apresenta oportunidades para melhoria, indicando as ações que devem ser adotadas para melhorar sua categoria.
A vantagem da consultoria tecnológica é que o agente já é formado pelo Sebrae no programa Alimento Seguro. Ele conhece bem exigências regulamentares de manipulação de alimentos, incluindo a Resolução RDC nº 216/2004, usada como base na categorização feita pela Anvisa.
Bons resultados
Os resultados da consultoria não poderiam ter sido melhores para a empresária Maria Isabel Azevedo, que há 20 anos atua no ramo de alimentação. Graças às vistas de duas consultoras do Sebrae ao restaurante Âncora Caipira, que fica em Natal (RN), ela conseguiu organizar os documentos pendentes e ganhar o alvará de funcionamento. Além disso, investiu em melhorias nas instalações. Quando a lista de verificação da categorização foi aplicada, a empresa teve um bom desempenho.
“A categorização reconhece os restaurantes que investem em procedimentos e cuidados com a saúde do consumidor. Aspectos que, muitas vezes, o consumidor não consegue identificar. Estar nos melhores grupos da categorização nos torna uma referência. Estou confiante”, diz Maria Isabel. Os restaurantes como o da empresária de Natal estão na fase da autoavaliação. As Anvisas Locais farão visitas aos estabelecimentos participantes em agosto e setembro para categorizá-los.
Outras cidades que não sediarão jogos da Copa do Mundo 2014 também podem participar do projeto, ficando a cargo do estado fazer a indicação oficial. A Paraíba, por exemplo, por causa de sua posição geográfica e por decisão do governo estadual em inserí-la no processo, foi incluída.
A proposta é uma iniciativa pioneira, baseada em experiências bem-sucedidas em várias cidades como Nova York e Londres e em países como Nova Zelândia e Dinamarca. As experiências apontam uma grande aceitação por parte dos consumidores e uma melhoria significativa do perfil sanitário dos serviços de alimentação.