O Feed de Notícias do Facebook é uma bagunça. Um amontoado de informações diversas de fontes diferentes. Fotos de parentes, comentários engraçadinhos de amigos, links para notícias de blogs e sites, e propaganda de algumas marcas que você curtiu. Nem tudo o que seus amigos – e as páginas que você curtiu – interessam, nem tudo você gosta, mas sempre há a opção de apertar o simpático botão “curtir”. Mat Honan, da Wired, decidiu fazer uma experiência bem estranha: ele curtiu tudo o que o Facebook jogou na tela dele. Por dois dias – foi o máximo de tempo que ele aguentou. O resultado é que a bagunça que o Feed de Notícias costuma ser ficou ainda pior.
O Facebook usa as coisas que você curte para adaptar seu Feed de Notícias de acordo com seus gostos. Os algoritmos da rede social fazem uma curadoria do tipo de conteúdo que mais deve agradar um usuário – se você costuma curtir muitos links para notícias sobre política, por exemplo, é provável que mais conteúdo relacionado a política apareça no seu Feed de Notícias. O que Honan fez foi simplesmente curtir tudo o que o Facebook sugeria. Tudo, como ele mesmo relata:
“A primeira coisa que curti foi Living Social – meu amigo Jay já curtia antes de mim, e foi a primeira coisa que apareceu no meu feed. Curti outras duas atualizações de amigos. Até aqui, tudo bem. Mas a quarta coisa que encontrei foi algo que não curti realmente. Quer dizer, eu não gosto do Living Social, nem sei o que é isso, mas tanto faz. Mas a quarta coisa foi algo que eu realmente não gostei. Uma piada ruim – ou ao menos besta. Bem, eu curti do mesmo jeito.”
Então logo no quarto post mostrado pelo Facebook ele já encontrou um grande desafio. E as coisas foram piorando – fotos que não significavam muito pra ele, histórias sobre agronegócio, e até a morte do parente de um de seus amigos (segundo Honan, este foi o único post que ele não curtiu durante toda a sua experiência). E o Feed de Notícias do rapaz mudou completamente em pouco tempo:
“Meu Feed de Notícias virou um personagem completamente novo em um espaço de tempo surpreendentemente curto. Após checar e curtir um punhado de coisas em uma hora, percebi que não havia mais seres humanos no meu feed. Tornou-se apenas sobre marcas e mensagens, em vez de seres humanos e mensagens.
Da mesma forma, sites com muito conteúdo subiram ao topo. Quase todo o meu feed foi entregue ao Upworthy e Huffington Post. Quando fui me deitar na primeira noite, chequei o Feed de Notícias e as atualizações que encontrei foram (em ordem): Huffington Post, Upworthy, Huffington Post, Upworthy, um anúncio da Levi’s, Space.com, Huffington Post, Upworthy, The Verge, Huffington Post, Space.com, Upworthy, Space.com.”
Pouco antes de dormir, ele curtiu uma postagem a favor da ação de Israel na Faixa de Gaza e, na manhã seguinte, viu seu Feed de Notícias ser tomado por conteúdo de páginas conservadoras – o site The Conservative Tribune aparecia com frequência para ele. Ele também notou uma grande diferença entre o que aparecia no desktop e no smartphone – no mobile, os seres humanos não existiam mais, enquanto no desktop ele ainda encontrava postagens de amigos. Aparentemente, o Facebook acha que ler notícias pelo smartphone é mais importante do que usá-lo para se comunicar com amigos.
Honan notou algo bem interessante em meio a toda essa experiência. O Facebook é uma grande bolha – você se esconde em meio a seus interesses e se sente seguro por lá:
“Nós configuramos nossas bolhas de filtros políticos e sociais e eles vão se reforçando – as coisas que lemos e vemos se tornam de nicho e atendem nossos interesses específicos.”
De certa forma, é bem assim mesmo. O Facebook tem as pessoas que nós conhecemos, os sites que gostamos, as marcas que nos interessam. Em resumo, o nosso mundo. E seu conteúdo é mostrado para reforçar isso. Se você está mais inclinado para a direita politicamente, é possível que veja muito mais conteúdo postado por pessoas ou sites com ideias mais à direita. O mesmo é válido para a esquerda. Em resumo, o Facebook esconde o que não agrada e joga na sua cara o que pode agradar, e não incentiva discussões entre pessoas com opiniões diferentes.
Mas o que você faz também influencia seus amigos. E foi isso o que aconteceu com os colegas de Honan, que ao final do segundo dia reclamavam que até 70% do que aparecia no feed de notícias deles era coisas curtidas pelo jornalista. Talvez fosse a hora de encerrar o experimento. O resultado? “Ao curtir tudo, eu transformei o Facebook em um lugar sem nada que eu curtia.” Então cuidado com o que você curte – apertar aquele simpático botão pode transformar o seu feed de notícias em um monstro. [Wired]
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