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sao paulo baixa
Empreendedorismo

Existem cidades específicas para se empreender?

Onde empreender?


Específicas, específicas, não. O bom empreendedor verá a possibilidade de realizar negócios em qualquer lugar. Não obstante, existem sim, cidades onde empreender é mais fácil, pelo simples fato de terem sido capazes de consolidar um núcleo de fatores dinâmicos que geraram um ambiente mais propício ao empreendedorismo, agregando valores que derrubaram dificuldades básicas. Desta maneira, tramitações burocráticas mais rápidas e menos exasperantes, tributações municipais não tão prejudiciais às contas da empresa, mão de obra qualificada, e resultados rápidos, para não falar em um retorno quase imediato do investimento inicial – com lucro –, são, em não raros casos, a realidade em algumas cidades brasileiras.

Mas e que cidades são essas? São Paulo, Florianópolis, Vitória, Campinas, Recife, Brasília e Curitiba foram eleitas as cidades brasileiras mais favoráveis ao empreendedorismo. Não obstante, não devemos nos apegar de forma ferrenha, tampouco nos deter a esta classificação de forma rigorosa, em função de inúmeras variantes. Embora estas possam ser, de fato, cidades qualificadas como as melhores do país para empreender, classificá-las rigorosamente, com precisão, é uma tarefa tão árdua quanto difícil. Para uma mentalidade pragmática, um estudo detalhado dessa categoria seria tão desnecessário quanto dispendioso.

Analisar rigorosamente a posição que cada uma delas ocupa no ranking de melhores cidades do Brasil para empreender, nestes tempos de instabilidade pelo qual nosso país passa, se torna algo irremediavelmente difícil: uma cidade que hoje ocupa a primeira posição pode vir a descer um ano depois, ou até mesmo em questão de alguns meses. E uma cidade que antes estava no segundo ou no terceiro lugar, pode repentinamente ocupar a primeira posição, de uma hora para outra. E é necessário salientar que as empresas que divulgam, pesquisam e compilam dados para realizar este tipo de pesquisa muitas vezes não empregam os mesmos critérios, não equilibram os mesmos valores, nem comparam as mesmas condições, de maneira que enumerá-las de maneira exata – embora não seja tão difícil se levarmos em consideração fatores mais genéricos – se mostrará uma tarefa bem efêmera: alguns meses depois, a lista não terá mais validade. As cidades flutuarão constantemente, subindo ou descendo posições. Uma cidade que anteriormente ocupava a primeira posição poderá descer uma, enquanto outra cidade que ocupava a quarta posição pode de repente subir duas posições, e assim as mais desenvolvidas cidades brasileiras competem entre si.

Não há dúvida de que, durante muito tempo, São Paulo ocupou em nosso país o primeiro lugar. Sendo hoje uma megalópole com uma população superior a doze milhões de habitantes, a capital paulista é uma cidade global, sendo não apenas a mais desenvolvida do país, como uma das mais relevantes do mundo. Uma superpotência econômica com méritos expressivos, além de indicadores econômicos que servem como referência, encontrá-la no topo da lista não surpreenderia ninguém, não é mesmo?

Não obstante, São Paulo pode estar com sua hegemonia ameaçada, ainda que não em caráter definitivo. Ao menos, não por enquanto. Um estudo realizado pela Endeavor colocou, em 2014, Florianópolis em primeiro lugar no ranking das melhores cidades brasileiras para empreender. Salientando o ambiente orgânico que fomentou a proliferação de startups, Florianópolis tem a seu favor o fato de ser, entre as capitais, a que possui os melhores índices de qualidade de vida. Aparentemente, esse foi um dos fatores fundamentais que levou inúmeros empreendedores a iniciar os seus negócios na capital catarinense. Tanto jovens recém-formados que não queriam ir embora da idílica e paradisíaca ilha, como empreendedores de fora, que, atraídos pelas belezas locais e pela elevada qualidade de vida, decidiram fixar residência na ilha, e ali fomentar suas ambições profissionais.

Naturalmente, Florianópolis acabou disseminando de forma natural uma cultura empreendedora, e a necessidade de expandir e agregar conhecimento acabou tomando forma. Dessa maneira, diversas escolas e cursos voltados para a formação de jovens empreendedores foram estabelecidos, e assim o empreendedorismo em Florianópolis floresceu, sobretudo na área da informática e da tecnologia, embora seu desenvolvimento não tenha se limitado a estas áreas. Outra característica que começou a expandir o potencial empreendedor na ilha foi o crescimento exponencial de investidores na região. Conhecidos como investidores-anjo – um termo que provavelmente é familiar a qualquer empreendedor – a definição refere-se a indivíduos que decidem investir em empreendimentos promissores com capital próprio. Em Florianópolis, especificamente, essa cultura começou a disseminar-se entre empreendedores que tornaram-se bem sucedidos, e decidiram investir o seu dinheiro em startups ou em pequenos empreendimentos que estavam iniciando sua trajetória no mercado. A cultura do investimento se disseminou tanto pelo estado, contribuindo, desta maneira, para a criação e para a expansão de um ambiente totalmente favorável ao empreendedorismo, que Santa Catarina acabou ficando à frente de estados como Paraná e Minas Gerais, estados maiores e com populações numericamente muito superiores. Desta maneira, não é de surpreender que Florianópolis, diante uma tão relevante e propícia conjunção de fatores, tenha se tornado referência nacional para o empreendedorismo, despontando com indicadores socioeconômicos em franco crescimento. Mas, como tudo o que sobe têm que descer, em 2015, São Paulo estava novamente no primeiro lugar na lista da Endeavor de melhores cidades brasileiras para empreender. Mas até que ponto é relevante saber quais são as cidades brasileiras mais favoráveis ao empreendedorismo?

Um dos maiores problemas que enfrentamos hoje no Brasil é a circulação de riquezas. Todas estas cidades, classificadas como as melhores do país para empreender possuem esta facilidade: elas já possuem uma salutar e contínua circulação de riquezas, que podem jogar a seu favor, e favorecer a prosperidade do seu negócio. Antes de abrir um negócio, a coisa certa a fazer é pesar, analisar e avaliar tudo o que estiver relacionado ao mesmo: a burocracia a ser enfrentada, os impostos municipais que serão cobrados, o tempo necessário para a licença do alvará, custos com um escritório de contabilidade, entre muitos outros fatores. Como os municípios brasileiros são muito desiguais entre si, em todas as questões, analisar quais cidades poderiam favorecer o seu negócio – ou não – pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso. Em Goiânia, por exemplo, já é possível registrar e abrir um CNPJ em menos de vinte e quatro horas, dependendo, evidentemente, do porte da empresa a ser registrado. O Brasil hoje passa por um relativo, mas interessante processo de desenvolvimento, que é notoriamente expansivo e desigual. Isso ocorre porque as iniciativas partem, em sua vasta maioria, dos governos municipais, e não dos governos estaduais ou do governo federal. Desta maneira, como o governo federal não estabelece um regulamento sólido, primordial, definitivo e único que viabilize igualdade, equidade e uniformidade para um Brasil empreendedor, teremos um país muito fragmentado, repleto de particularidades, relativizações, prospecções e inúmeras variantes regionais. Desta maneira, o seu negócio poderá ser muito bem sucedido em determinada região do país, mas o mesmo negócio, em outro local, com toda a certeza fecharia as portas em menos de um mês. Por exemplo: você pode se dar muito bem se montar o seu consultório de ultrassonografia em Curitiba, mas em Rio Branco a chance de você fechar as portas rapidamente é infinitamente maior do que a possibilidade de manter o negócio ativo.

Evidentemente, se você está disposto a mudar de cidade para abrir um negócio, não é necessário pesquisar dados meticulosamente sobre todas as cidades, a menos que você queira fazer isso, e tenha o tempo e os recursos necessários. Também não se restrinja única e exclusivamente às capitais. Cidades como Campinas e Joinville, por exemplo, são reconhecidamente polos empreendedores, e usufruem de alguns indicadores muito favoráveis para qualquer negócio.

Ser empreendedor no Brasil exige avaliar constantemente um negócio, sob vários aspectos e ângulos diferentes, e volto a salientar que em um país tão desigual como o Brasil, repleto de particularidades locais e regionais, a cidade certa para o empreendimento certo é tudo. É desnecessário dizer que se você escolher estabelecer o seu negócio em um município de potencial econômico questionável, sua chance de fechar as portas são óbvias. Por outro lado, estabelecer-se em um local que já possui uma concentração e uma circulação de riquezas adequada – embora, para muitos, pareça fácil demais e não represente um desafio adequado – não apenas aumentará exponencialmente suas chances de sucesso, como reduzirá de forma drástica e significativa o seu nível de dificuldades, o que, para um empreendedor, que normalmente lida sozinho com uma carga de obrigações, tarefas, responsabilidades e iniciativas consideráveis, é motivo de grande benefício salutar, em sua capacidade produtiva e em sua vida pessoal, o que gera assim um ciclo de prosperidades que beneficia o empreendedor, bem como todos os seus associados diretos e indiretos: seus funcionários, suas famílias, seus fornecedores e seus clientes.

Evidentemente, estabelecer-se em qualquer uma das cidades mais promissoras do país para o empreendedorismo não quer dizer que tudo será fácil. Você não abrirá a empresa em um dia, e no dia seguinte, sairá contando dinheiro. Isto significa apenas que, nestas cidades, as coisas não serão tão difíceis, pois elas possuem fatores econômicos, políticos, profissionais, materiais, educacionais e sociais que acabaram agregados de forma dinâmica, de maneira que seus indicadores de prosperidade tornaram-se excelentes. No entanto, isso não significa que todas as coisas serão incríveis, exultantes e maravilhosas. Elas apenas não serão tão difíceis como seriam em cidades que não possuem o mesmo padrão de desenvolvimento. E isso também, de maneira alguma, quer desmotivá-lo a abrir o seu negócio em São João do Sabugi, no interior do Rio Grande do Norte, se você achar que deve.

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