Grande parte do crescimento econômico tem uma fonte simples: novas idéias. Então pode-se deduzir que nossa criatividade é a fonte da riqueza. Então, como podemos aumentar o ritmo da inovação? É possível inspirar o aparecimento de mais Picassos e outros Steve Jobs?
A resposta a essas questões estão escondidas nos livros de história. Há muitos anos atrás, o estatístico David Banks escreveu um curto tratado sobre o que ele chamou de problema do excesso de gênios: notou que o aparecimento de gênios não estava distribuído aleatoriamente pelos anos ou geograficamente. Ao invés disso, eles tendem a aparecer em pequenas regiões ou ‘clusters’. Neste tratado, o autor Banks cita o exemplo de Atenas entre os anos de 440 e 380 BC. Ele escreve que a cidade antiga foi casa de um número enorme de gênios incluindo Platão, Sócrates, Thudydides, Heródoto, Eurípedes, Aescílus e Aristófanes. Esses pensadores essencialmente inventaram a civilização ocidental e ainda todos eles viveram no mesmo lugar no mesmo momento. Ou veja Florença na Itália entre 1440 e 1490. Em meros 500 anos, um cidade de menos de 70.000 pessoas foi berço de um número incrível de artistas imortais como Michelangelo e Da Vinci, Ghiberti, Botticelli e Donatello.
O que causa tais explosões de criatividade? O autor rapidamente nega a explicações históricas usuais como a importância da paz e prosperidade. (Na era de Platão, Atenas engajava em uma guerra ferrenha com Esparta.) O tratado acadêmico finaliza com uma nota sóbria com Banks concluindo que o fenômeno desses bolsões de genialidade ainda era um mistério para ele.
Misture pessoas, dê educação e incentive a tomada de riscos e fracassos
Mas mesmo assim não é um mistério total: nós podemos começar dando sentido ao que significaria essa “coagulação” de talento criativo. O segredo é a presença de meta-ideias particulares que apoiam a difusão de outras idéias. Primeiramente proposto pelo economista Paul Romer, as meta-ideias incluem conceitos como o sistema de patentes, bibliotecas públicas e educação universal. Mais ainda, observando o que várias eras de excesso de gênios tiveram em comum, é possível criar um projeto para a criatividade no século XXI.
O primeiro padrão que parece claro é o benéfico efeito da mistura humana. Não é acidente que clusters de talento passados eram todos em centros de comércio o que possibilitavam uma diversidade de pessoas a compartilharem ideias (A urbanização faz essa mistura mais fácil ainda). A mesma lógica ainda se aplica: pesquisas indicam que na população total, um aumento de 1% de aumento no número de imigrantes com gradução gera de 9 a 18% de aumento na produção de patentes. Portanto as leis de imigração abertas são uma coisa boa e não um problema social.
Outro tema recorrente é a educação. Todas essas culturas florescentes foram pioneiras em novas formas de ensino e aprendizado. Florença medieval viu o nascimento do modelo aprendiz-mestre, onde artistas jovens aprendiam com experts veteranos. Na Inglaterra de Elizabeth foi feito um esforço organizado para educar os homens da classe média que foi como William Shakespeare – filho de um fazedor de luvas que não conseguia assinar seu próprio nome – acabou recebendo aulas grátis de latim. Nós precisamos emular essas eras e encorajar experimentações no setor de educação. Como T.S.Eliot uma vez disse, as grandes eras não contém mais talento. Elas perdiam menos dele.
A última meta-ideia envolve o desenvolvimento de instituições que encorajam a tomada de risco. Shakespeare foi sortudo ao ter o apoio real para suas tragédias, enquanto a Florença renascentista se beneficiou da boa ação dos Medicis em apoiar novas formas artísticas como o uso de perspectivas nas pinturas. Muitas dessas tentativas fracassaram – Shakespeare escreveu muitas peças ruins – mas tolerando falhas como essas foi a forma de trazer a tona Hamlet.
Isso pode parecer como uma agenda ambiciosamente impossível. Mas não é. Bill James, o pioneiro das análises estatísticas de baseball esclarece que a América moderna é muito boa em gerar gênios. O problema é que os gênios que criamos são atletas. Como James diz, isso acontece porque tratamos os atletas de forma diferente. Nós encorajamo-os enquanto são jovens, levando nossos filhos para praticar ou a torneios. Nós também temos mecanismos para cultivar talento atlético a cada passo no processo, de ligas menores até as maiores. E finalmente, times profissionais estão propensos a tomar risco apostando muito dinheiro em iniciantes que muitas vezes fracassam. Por causa dessas meta-ideias de sucesso, até cidades menores como Topeka, Kansas – mais ou menos do mesmo tamanho de Londres na época de Elizabeth, James aponta – pode produzir um gênio atleta a cada poucos anos.
Nós nunca precisamos de gênios mais do que precisamos agora. A boa notícia é que nós podemos aprender com os segredos criativos do passado, pelas linhas mestras das sociedades que produziram Shakespeare, Platão e Michelangelo. E então devemos nos olhar no espelho. O excesso não é um acidente.
Escrito por Jonah Lehrer (jonahlehrer.com) na Wired.