Brasília – Em 2002, a paulista Leonor Funari, de 62 anos, aposentou o giz, o quadro negro e a sala de aula para virar empresária do ramo da panificação, em Recife (PE). Com R$ 50 mil da rescisão no bolso, resolveu colocar a mão na massa. Ao deixar São Paulo, levou, na empreitada, um padeiro especializado em pães italianos. Assim nasceu a Com.Pão Delicatessen, com oito funcionários e receita mensal de R$ 450.
Na época da inauguração, o desperdício era constante na empresa. Água, energia, farinha e ovos consumiam o lucro do empreendimento. Em 2009, Leonor procurou o Sebrae e aprendeu medidas simples: trocou o freezer por uma câmara fria e reformou o quadro de luz. Com isso, conseguiu reduzir em 25% a conta de energia. Leonor não parou aí. Garrafas PET, alumínio, vidro e papelão passaram a ser doados para cooperativas de catadores de materiais recicláveis e o lixo começou a ser separado e entregue a criadores de suínos. Hoje, a Com.Pão Delicatessen produz diariamente quatro mil lanches e, em média, 200 kg de pão.
A atitude de Leonor comprova resultado de sondagem do Sebrae com proprietários de micro e pequenas empresas (MPE) no Brasil. Segundo o estudo, a maioria deles realiza ações ligadas à preservação do meio ambiente. O comportamento inclui coleta seletiva de lixo (70,2%), controle de consumo de papel (72,4%), de água (80,6%), de energia (81,7%) e uso adequado de resíduos tóxicos, como solventes, produtos de limpeza e cartucho de tinta (65,6%).
São medidas que não implicam custo elevado e tem impacto significativo em termos de sustentabilidade, assinala o diretor-técnico do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos. “Esses atributos tendem a ser cada vez mais exigidos pelos consumidores que estão atentos a produtos, serviços e marcas provenientes de práticas sustentáveis”, diz o diretor do Sebrae, para quem esse processo é irreversível. “Práticas sustentáveis, portanto, são fator de competitividade dos negócios. As micro e pequenas empresas estão no rumo certo”, destacou.
Do outro lado do país, em Rondonópolis (MT), o engenheiro Paulo Gomes estava preocupado em economizar energia na sua lavanderia. O maquinário obsoleto era o grande responsável pela salgada conta de luz, que consumia parte do faturamento da empresa.
Quando o empresário abriu a Prillav, no mesmo ano em que a paulista Leonor decidiu mudar de vida, quase todas as máquinas eram manuais, de baixa tecnologia. Consumiam muita energia, água e produtos químicos. Convencido de que precisava inovar, Paulo começou por automatizar a produção, com a compra de maquinário mais moderno. Além de cortar a conta de luz em 20%, também diminuiu o consumo de água e outros insumos essenciais ao funcionamento da empresa.
O passo seguinte foi desenvolver um sistema para aproveitar o clima quente de Cuiabá na secagem natural das roupas que tinham prazo de entrega superior a 48 horas. Ele também passou a usar o gás natural para gerar calor nas secadoras utilizadas para roupas com prazo de entrega curto, de até 24 horas. E ainda instalou 12 exaustores para auxiliar a secagem das roupas.
Faturamento
O resultado das medidas adotadas por Paulo pode ser traduzido em números. Quando abriu a empresa, em novembro de 2002, tinha quatro funcionários e faturava R$ 12 mil por mês. Hoje, a lavanderia tem 20 empregados na folha de pagamento e faturamento mensal de R$ 60 mil. Os negócios cresceram tanto que três outras unidades foram franqueadas na região.
A capacitação faz parte da trajetória empresarial de Leonor e Paulo. “Os cursos do Sebrae fizeram toda a diferença para que eu não quebrasse logo no início da minha vida empresarial”, reconhece Paulo. “Preservar o meio ambiente com medidas simples foi a receita”, diz Leonor.
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