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A primeira miopia do empreendedor

miopia do empreendedor

Márcio Cyrillo, do Ci&T Nova Iorque escreve sobre a primeira miopia do empreendedor aqui no Jornal do Empreendedor.


“Se deu errado, ainda bem que aconteceu logo”

Uma das frases comumente usadas no contexto de relacionamentos românticos fracassados é um misto de dica de auto-ajuda com autêntica valorização de uma das coisas mais importantes em nossas vidas: o tempo. É aquela pessoa amiga te dizendo para você “desencanar”, que “a vida é curta e a pessoa certa está ainda para chegar na sua vida”. Não ajuda muito quando você ainda está sofrendo os efeitos da separação, mas dado tempo ao tempo, torna-se uma verdade universal e legitimamente confortante.

Pois bem, o mesmo vale para as startups: a vida é curta e a startup certa ainda está para acontecer na sua vida. “Se for para dar errado, que dê errado logo”. Tempo e dinheiro são finitos, as fontes de dinheiro esgotam-se rapidamente e o tempo nunca é suficiente. As ideias no mundo da tecnologia são de certa forma cumulativas e costumam iluminar o caminho adiante.

Tudo aquilo que você aprendeu hoje impacta e define o caminho que você vai seguir amanhã. Basta ver quantos empreendedores de sucesso passaram por fracassos anteriores, ou mesmo maturaram por anos em empregos tradicionais até chegarem aos seus próprios negócios. Certa vez ouvi de um empreendedor a seguinte frase que me marcou: “se você acha que sua primeira startup não vai fracassar de jeito nenhum, você está sendo lunático”. Ele não quis dizer que necessariamente todo primeiro negócio vai dar errado, a mensagem é para o empreendedor se desprender da certeza de sucesso, porque errar é condição necessária para aprender e então na sequência ter mais chances de acertar.

Em 2009 eu vi Eric Ries pela primeira vez na conferência web 2.0 em São Francisco. Jovem empreendedor que passou por fracassos e sucessos e descobriu seu maior talento: escrever e falar sobre sua experiência e no fim bolar um novo modo de pensar para startups. Hoje Ries é um cara famoso, seu livro “The Lean Startup” virou best-seller na lista do New York Times e suas ideias tem realmente muito fundamento e aplicação prática. Em linhas muito gerais – pretendemos escrever mais sobre o Lean Startup em breve – o ponto central do método é que você deve partir de sua visão de negócio, construir o produto minimamente viável para validar suas hipóteses e botá-lo no mercado para um teste real o mais cedo possível, não importando o fato de que o produto não seja tão bem acabado quanto você gostaria. Através de coleta de dados (métricas) que fazem sentido do ponto de vista de negócio você descobrirá rapidamente se você precisa de ajustes na direção do seu negócio (pivots) ou não. A visão de longo prazo do negócio, aquele motivo pelo qual a startup existe, permanecendo imutável como seu norte verdadeiro. Nesse modelo, aprender passa a ser o objetivo principal de sua empreitada, crescimento e sustentabilidade virão a reboque.

Lean Startup é, então, uma maneira muito eficaz de descobrir logo, gastando o mínimo de tempo e dinheiro, se aquela “ideia brilhante” que você teve faz sentido prático e tem potencial de mercado.

Em várias das palestras subsequentes que Ries deu, tem uma pergunta recorrente feita pela plateia: “Se eu tenho uma ideia super original, ela não vai ser arruinada se eu a revelar antes de ter um produto final capaz de encantar as pessoas?”

Em vez de emprestar a resposta que Ries dá para esta pergunta, vou fazer uma série de provocações que de certa forma a respondem. Dividir a sua ideia com pessoas é o instrumento mais básico e benéfico para validá-la, antes mesmo de você ter um produto minimamente viável para testar suas hipóteses em casos reais. Ao fazê-lo, você enriquecerá seu próprio entendimento das forças e fraquezas daquilo que você quer construir. Ouvirá muita informação relevante e também muito ruído, mas aprender a separar ruído de informação é algo que, como empreendedor, você deverá desenvolver desde cedo. Contudo, vejo com frequência o horror que essa sugestão causa. As pessoas lembram logo de dois exemplos emblemáticos: Facebook e Apple. Esses dois exemplos são tão palpáveis quanto míticos, na verdade.

No caso do Facebook temos a ficção do filme “The Social Network” onde o personagem representando Mark Zuckerberg supostamente rouba a ideia dos irmãos Winklevoss de criar o Facebook. Uma das frases ditas no filme sumariza muito bem o quão incorreta é esta suposição: “If you were the inventors of Facebook, you would have invented Facebook” ou “se vocês fossem os inventores do Facebook, vocês teriam inventado o Facebook”. Assumindo que Zuckerberg foi realmente contratado para fazer um sistema concebido pelos irmãos, seria impossível ele fazê-lo de acordo com a visão dos contratantes e mesmo assim permanecer isolado deles, como mostra o filme. A visão, a paixão, o talento técnico, a execução e o entendimento dos resultados (através de métricas) do projeto foram de Zuckerberg e seu time de colegas de Harvard.

O caso da Apple é diferente, porque o estilo de Steve Jobs sempre foi o de revelar seus produtos apenas no palco, criando um mistério que se estende na mídia através de rumores por meses a fio. Ledo engano imaginar que a Apple nunca envolve seres humanos dos mais variados tipos no teste e validação de seus produtos antes que eles cheguem ao mercado. Como uma das empresas mais valiosas do mundo, a Apple poderia se dar ao luxo de perseguir uma ideia visionária na linha de “entregamos para as pessoas o que elas ainda não sabem que desejam”, como disse de certa forma Jobs. Contudo, a verdade é que na história da Apple, a maior constante é a construção de experiências novas e centradas no usuário através do aperfeiçoamento de produtos existentes, conforme apontei neste artigo sobre a Siri.

Então você tem uma ideia, ela é genial, você acredita que só precisa de dinheiro e tempo para colocá-la em prática e que quando você apresentá-la às pessoas, você obterá sucesso instantâneo, certo? Seja bem-vindo a sua primeira miopia como empreendedor, aquela que provavelmente vai aparecer várias vezes na sua jornada a não ser que você entenda o mecanismo que te leva a ela.

Para alguns raros casos o “sucesso instantâneo” pode acontecer, mas em 99% das vezes, a verdade é que ideias se desenvolvem, mudam rapidamente ajustando-se aos desejos dos consumidores, seja através de interações diretas entre pessoas ou indiretamente pelo conhecimento coletivo que vai se formando com a evolução das tecnologias. Quer um exemplo gritante? Lembram-se do fotolog? Foi um sucesso no Brasil entre 2007 e 2008 e a ideia de dividir com amigos “snapshots” de nossas vidas através de fotos postadas na web foi na época brilhante. Tanto isso é verdade que resultou na venda do serviço por dezenas de milhões de dólares. Mas todos sabemos que o fotolog na sequência viu seus usuários migrando para o Orkut e depois para o Facebook e quando parecia que nada mais poderia inovar a visão inicial de “dividir fotos com amigos”, apareceu o instagram que hoje cresce mundialmente a uma taxa incrível. Mudou a tecnologia, há novas possibilidades, mas temos a mesma ideia executada de forma diferente trazendo impactos diferentes.

O que eu gostaria que você leitor guardasse desse artigo é que apesar de ideias poderem ser copiadas, a visão de longo prazo, o modelo de negócio, o seu envolvimento e paixão e a forma como você executa e as prioridades que dá às tarefas da sua startup, são únicos. Ninguém vai conseguir clonar a sua startup por inteiro, a chance disso acontecer é ZERO.

Interagir intensamente com pessoas de diferentes perspectivas antes de mudar a sua vida para focar numa nova empreitada é o melhor que você pode fazer e aqui vão algumas perguntas para ajudar a materializar o fato de que não há real perigo nisso:

1. quantas vezes você viu um caso real de alguém que contou uma ideia para um colega e este a implementou sozinho, roubando a ideia do outro?

2. quantas vezes você convidou alguém para ser teu sócio, este ficou super animado e disse que a ideia era muito boa e que queria sim participar, decidiu mudar toda a rotina dele para te ajudar?

3. Quantas vezes a empolgação de outras pessoas com uma ideia sua durou mais que alguns dias?

4. Quantas vezes você teve uma ideia que não dividiu com ninguém por medo dela ser “roubada” e a viu morrer porque ela não saiu do papel?

5. Quantas vezes você contou uma ideia para alguém que abriu teus olhos para o fato de que ela não era tão brilhante assim? E depois você pensou que foi melhor não ter investido muito tempo naquilo, porque ideias melhores surgiram na sequencia e se você estivesse focado na coisa errada isso não teria acontecido?

6. Quanto tempo você e as pessoas que você conhece tem disponível para executar novas ideias e projetos?

7. Quantas ideias ou projetos você acha que consegue tocar ao mesmo tempo?

8. Quantas vezes você viu grandes ideias muito boas surgirem de um grupo de pessoas que evoluiu uma sugestão que alguém deu?

Importante ainda ter em mente que se você implementar algo muito original e que mostra rapidamente grande potencial, a primeira coisa que vai inevitavelmente acontecer é você ser copiado. Groupon é um exemplo dramático disso, tem um conjunto enorme de cópias nos EUA e em todos os cantos do mundo. Além disso, não há como conseguir clientes com um “negócio secreto”, você tem que ir pro mercado o mais rápido possível, testar, aprender, fazer “pivots” e marcar gols. A forma como o Groupon começou é bastante curiosa: eles testaram a ideia vendendo pizza de uma pizzaria próxima ao escritório com desconto para compra coletiva. Usaram o bom e velho e-mail para mandar os coupons para todo mundo que conheciam. Os pioneiros sempre levam vantagem e se a execução da estratégia for consistente, podem ir longe antes que alguém tenha chance de alcançarem. Novamente, Groupon, que recentemente teve suas ações abertas na bolsa de Nova Iorque, é um excelente exemplo disso.

Um experimento simples pode ser feito para tirar de uma vez por todas o medo das pessoas de terem suas ideias roubadas: tentar incentivar alguém a roubá-la. Você vai perceber o quão difícil é fazer isso acontecer.

• Marque uma com as pessoas mais inteligentes que você conhece com o tema “discutir as melhores ideias para startups”

• Cada um vai trazer a sua ideia mais promissora e o seu objetivo é convencer alguém a roubá-la.

• Quem implementar algo viável com uma ideia de outro num prazo de seis meses, será perdoado por todo o grupo e ainda ganhará um prêmio definido pelo grupo.

Se você conseguir ter uma ideia sua roubada e implementada por alguém, me escreva, vamos escrever um artigo exclusivo para você! icon wink

Autor: Marcio Cyrillo

Head de estratégia em mobilidade na Ci&T, co-fundador da plataforma social de corrida runens e mentor do estúdio de jogos Ipanema Games.

Márcio escreve o blog www.geracaos.com, um blog que vale a pena ser seguido, com posts originais e de alto nível para empreendedores digitais.

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