Se você quer ir em uma direção, a melhor rota pode ser ir para outra. Esse é o conceito de Obliquity: paradoxalmente como soa, muitas metas são melhor atingidas quando buscadas indiretamente. Seja superar obstáculos geográficos, vencer batalhas decisivas ou atingir suas metas de vendas, a história mostra que abordagens oblíquas são mais bem sucedidas, especialmente em terreno difícil.
A ‘obliquidade’ é necessária pois vivemos em um mundo de incertezas e complexidade. Os problemas que encontramos muitas vezes não são claros – e nós geralmente não podemos ver com clareza quais são nossos objetivos, de uma maneira geral. As circunstâncias mudam, as pessoas mudam – e são odiosamente difíceis de prever, e abordagens diretas são frequentemente arrogantes e pouco imaginativas.
Este livro escrito pelo economista e escritor distinto John Kay – um dos mais importantes economistas ingleses da atualidade – é um ensaio extendido sobre uma idéia que é intuitivamente verdadeira: literalmente, diz que alguns objetivos são atingidos apenas como um efeito colateral ao se almejar alguma outra coisa. Por exemplo, a alegria é conseguida quando alguma pessoa está absorvida por uma atividade significativa – psicólogos chamam este estado de de “flow” (fluxo). Tentar ser feliz é uma receita para o fracasso.
Obliquity
Why our goals are best achieved indirectly
Por John Kay
Penguin Press, 228 páginas, US$25.95
(Acabo de ver na Livraria Cultura da Conjunto Nacional.)
Lucros altos são frutos de uma paixão por engenharia ou escrita de software, diz, enquanto é usualmente um suicídio comercial fazer dos lucros o único propósito de um negócio. Em um feriado, muitos anos atrás, eu encontrei um engenheiro de chocolate que me contou ter desenhado um bombom de nozes, e continuou me falando longamente sobre as propriedades do chocolate derretido. Ele parecia uma pessoa muito feliz mas eu duvido que seu trabalho é tão gratificante agora que as empresas de chocolate foram dominadas por executivos que pensam em apenas maximizar o valor para o acionista.
A primeira metade do livro dá outros exemplos de como o princípio de ‘obliquity’, ou mirar fora do alvo. As pessoas mais ricas não são obcecadas por fazer dinheiro. As florestas são menos vulneráveis a destruição por fogo quando algum fogo é deixado acontecer. Menos intuitivamente, economias são mais bem sucedidas quando os mercados operam livres ao invés de quando os planejadores centrais estão encarregados.
Abaixo o vídeo de sua apresentação sobre Obliquity:
Porque a ‘obliquidade’ deveria funcionar tão amplamente? “Nossos objetivos são muitas vezes descritos de forma muito vaga e frequentemente possuem elementos que não são apenas incompatíveis mas também incomensuráveis. As conseqüências de nossas ações dependem das respostas das outras pessoas… Nós lidamos com sistemas complexos que possuem estruturas que conseguimos entender apenas imperfeitamente”, explica Kay. Adicione a isso os desconhecidos desconhecidos tão espalhados por nossa vida e a certeza da incerteza, e o fracasso de um ataque frontal e direto aos problemas não é surpreendente.
Abordagens oblíquas – ou pensamento lateral são muito mais difíceis de idealizar do que alternativas diretas. A última parte do livro nos oferece alguns exemplos e sugestões. Kay é um opositor firme de regras e metas precisas. Tudo afeta o comportamento de forma a fazer o alvo sem sentido. Ele cita os acordos da Basiléia que regula o sistema bancário com 400 regras detalhadas. Os bancos obedecem as regras (no geral) mas deram um jeito de burlá-las e o resultado foi uma indústria mais arriscada e não mais segura. O que é preciso é de um conjunto de objetivos de alto nível internalizado e acordado por todos, combinados com algumas metas intermediárias ajustadas de tempos em tempos e atividades diárias consistentes com elas porque ninguém pode pensar sobre objetivos estratégicos todo o tempo.
Este parece ser um conselho muito importante – centramente para alguém que tem notado os efeitos contra produtivos de um governo do Partido do Trabalho Inglês com sua mania por alvos nos serviços públicos. Há um exemplo no livro – a meta de 8 minutos de resposta para ambulâncias que gerou exatamente isso quando quase nenhuma ocorrência foi documentada como mais demorada. A meta modificou a maneira que os gerentes alocaram os veículos, presumidamente triunfando sobre as necessidades dos pacientes. Todos nós podemos pensar em exemplos de metas contra-produtivas.
A parte mais interessante do livro diz respeito as implicações da ‘obliquidade’ para como analisamos a tomada de decisão: um ponto importante quando votantes estão julgando o governo atual e as promessas dos que querem tomar seu lugar. Muito frequentemente nós fazemos o que Kay chama de ‘falácia teleológica’. Que é, quando assumimos que resultados bons ou ruins são resultados de boas e más políticas ou decisões. Usualmente a sorte decide grande parte. Enron era tida como gerenciada por gênios quando estava indo bem e por charlatães quando ela fracassou, mas o movimento geral da bolsa de valores teve muito mais impacto em seus resultados. Investidores de sucesso quase sempre tem mais sorte do que talento para agradecer.
Um alarmante conseqüência desta falácia é que as pessoas que clamam ter as respostas diretas são muito mais aclamadas por sua sabedoria do que pensadores oblíquos que provavelmente atingem melhores resultados. Kay conclui que os tomadores de decisão podem escolher entre serem efetivos ou serem populares. Votantes recompensam aqueles que são menos prováveis bons resolvedores de problemas – um pensamento soberado para uma campanha eleitoral, por um iluminado pensador.
Veja a entrevista com o autor para CNBC:
Saiba mais do autor em seu site pessoal JohnKay.com