Capitalismo clientelista, conhecido em inglês como Crony Capitalism, é um termo usado para descrever a perigosa, perniciosa e indulgente simbiose entre governo e iniciativa privada, de forma ilícita, para beneficiar a ambos. Estado de coisas que se perpetua no Brasil indefinidamente, e não raro ganha as manchetes dos principais jornais do país, o que não nos falta são exemplos a serem citados – como Odebrecht, JBS, Delta Construções, para mencionar apenas alguns – quando o assunto em questão é o estrondoso e inequívoco “sucesso” de “campões nacionais”, que destacaram-se de forma vultuosa no mercado, dominando completamente os segmentos em que atuam. No entanto, deve-se compreender a enorme diferença que existe entre realizar uma venda para um órgão ou instituição do governo, e constituir clientelismo.
Realizar uma venda, ou tornar-se fornecedor de uma prefeitura, ou qualquer outra instituição governamental, seja ela municipal, estadual ou federal, não tem nada de errado, especialmente quando isto é realizado através de uma licitação correta e honesta. Mas o clientelismo passa por cima de todas as barreiras jurídicas, legais e morais, para constituir um pérfido monopólio elitista: um campo no qual grandes empresas e mega-corporações atuam de forma exclusiva, o clientelismo ocorre quando executivos ou proprietários de uma grande empresa compram ou subornam funcionários do governo, para impedir a atuação de empresas concorrentes no mercado. Assim, os funcionários do governo elaboram estratégias restritivas, e através de uma agência reguladora, criam uma agenda mercantil que confere exclusividade ao produto da empresa que está comprando favores do governo, que, em troca, consolidará um expansivo cartel protecionista que resguardará a atuação da empresa monopolizadora, e, acima de tudo, dificultará empresas concorrentes de estabelecerem-se no mercado.
Problema crônico em diversos países, afeta de forma particularmente grave o desenvolvimento de nações como Brasil e Estados Unidos, com consequências drásticas para a população. Mas você pode pensar: “O clientelismo é tão grave assim? Como ele nos afeta? Como compromete o desenvolvimento econômico de um país?” Infelizmente, a ruína financeira proporcionada pelo clientelismo nos afeta de diversas maneiras, todas elas negativas. Afeta, antes de tudo, empresas concorrentes, que tem de lutar de forma estarrecedora para estabelecerem-se no mercado, em função da concorrência desleal, e afeta de maneira prejudicial o consumidor, que, sem outros produtos à sua disposição, acaba tendo de comprar a única opção que tem disponível no mercado – a da empresa monopolística –, e tendo de pagar o preço por eles exigido, sem poder barganhar, ou recorrer a outras opções.
Em primeiro lugar, o clientelismo é responsável por arruinar diversas empresas. Enquanto os proprietários, altos executivos e políticos envolvidos no cartel protecionista arregimentado pela empresa monopolizadora ficam extremamente ricos, a grande maioria das empresas concorrentes vai à falência. Isso acontece porque a corporação monopolizadora consegue, em não raras ocasiões, arrebanhar todo o mercado à disposição no seu segmento de atuação. Sem maiores recursos, e sem ter a quem recorrer, pequenas e médias empresas não conseguem competir com o clientelismo auferido pelo cartel monopolístico. Suas vendas caem drasticamente, seus custos paradoxalmente aumentam, e, sem possibilidade de conquistar espaço no mercado, a maioria das empresas não vê alternativas para sobreviver, e opta por encerrar as atividades. Desta forma, inúmeros negócios vão à falência, pessoas perdem os seus empregos e famílias inteiras perdem a base do seu sustento financeiro. Desleal, corrosivo, destrutivo, paralisante e intrusivo, o clientelismo prejudica um grande número de empresas, enquanto torna extremamente ricos algumas dezenas de indivíduos.
Assista ao vídeo da Prager University sobre Clientelismo:
O consumidor também sai igualmente prejudicado. Na hora de realizar uma compra, muitas vezes ele não tem alternativa a não ser comprar o produto da empresa monopolizadora. E sem maiores opções, ele se vê obrigado a adquirir o produto, tendo de pagar muitas vezes um valor exorbitante, que ele não pagaria, caso o mercado fosse regulado pelas projeções naturais da livre concorrência. Dessa maneira, a empresa monopolizadora se sobressai vultuosamente, mas não por ter um produto de excelente qualidade, e sim, por ser o único disponível.
Podemos compreender o capitalismo clientelista como sendo o resultado de uma inciativa privada corrupta, que compra favores de um governo igualmente corrupto. Para tanto, o governo, na verdade, nada mais é do que um comitê de benefícios e facilidades que está á venda para quem decidir pagar mais, estando disposto a fazer tudo o que for necessário para garantir a primazia, no mercado, da empresa que pagar pelos seus poderes de expansão, restrição e representatividade mercantil. Indubitavelmente, como é possível imaginar, a consolidação de monopólios é uma alarmante epidemia que nunca foi verdadeiramente combatida em nosso país, e que, assim como as estatais, é uma difamatória e dilacerante metástase para o desenvolvimento econômico da nação, gerando prejuízos de bilhões de reais anualmente para o nosso país, em todos os setores e esferas da sociedade, dos cofres públicos ao bolso do consumidor.
Infelizmente, não podemos nos dar ao luxo de sermos irrealistas, e achar que combater o clientelismo é uma tarefa fácil, que exige apenas altruísmo, princípios e boa vontade. Enquanto tivermos gestores públicos corruptos, dispostos a se vender para agentes e executivos do setor privado que queiram comprar favores, o clientelismo continuará a arruinar as possiblidades de crescimento do mercado e do liberalismo econômico em nosso país. Que, ao menos por enquanto, não passam de demagógicas e insensatas utopias.
E você aí, achando que o governo lutava pelos interesses da população.