Não raras vezes ao longo do ano que passou – e que invariavelmente aproxima-se do final, o que vem a ser motivo de alegria para muitos -, você com certeza, quando acordou cedo para ir trabalhar, pensou “afinal, quando a recessão vai terminar?”, ansiando por um salutar diagrama de melhorias em seus horizontes profissionais. Estou errado? Com certeza, não. Todos nós, ao longo do ano que passou, ansiamos por perspectivas mais produtivas, e também, mais seguras. A esperança é um elemento inerente à natureza humana. Desta maneira torcemos pelo melhor, mas, sempre cautelosos, esperamos pelo pior. Assim as coisas funcionam em nosso país, afinal, o Brasil não é para principiantes, e isso não é novidade para ninguém. A verdade é que estamos todos neste mesmo barco de profundas instabilidades e incertezas. Este barco, do gênero “afunda, não afunda”, conhecido como República Federativa do Brasil.
A pior parte de uma recessão – e não estou dizendo com isso, evidentemente, que existe uma parte boa – é a escassez de oportunidades que afeta o mercado. Empresas param, funcionários ficam ociosos, demissões tornam-se frequentes, o moral dos empregados e dos empregadores torna-se aflitivo e pessimista, empresas com cento e cinquenta funcionários passam a operar com setenta, empresas com vinte e oito funcionários passam a operar com seis. E todo um corrosivo e dilacerante processo de decadência tem início, afetando a cadeia produtiva em todas as escalas e em todas as etapas de sua conjuntura laboral. O que fazer? Evidentemente, não podemos esperar por um milagre. Temos que sair literalmente “à caça” de clientes e oportunidades, algo que diversas empresas se viram obrigadas a fazer, em nome da sobrevivência. O que posso afirmar categoricamente – o que não será surpresa nenhuma para você – é: conte com você mesmo e com o mercado, não com o governo, na busca por uma solução. O governo não é afetado com a recessão, ao menos, não na mesma escala do setor privado. O setor privado depende de clientes. O funcionalismo público, tecnicamente, dependeria do setor privado, mas quando as contas apertam, o governo sempre pode recorrer ao Banco Central, à bancos privados e a fundos de reserva para bancar as suas despesas. A verdade é que o governo não compartilha da mesma realidade que o setor privado (ao menos, o governo federal; sabemos que governos municipais e estaduais estão sofrendo e muito com a recessão). A abundância de recursos não cobra da classe política que saia desesperada em busca do dinheiro do aluguel, ou mesmo da próxima refeição. Eles não possuem o mesmo senso de urgência que nós, e é fundamental que possamos discernir isso. Portanto, descarte completamente uma solução por parte da classe política. Eles sempre estarão ocupados demais com eles mesmos, para dar qualquer tipo de atenção às necessidades do cidadão comum.
Em épocas de escassez, é irrealista de nossa parte esperar milagres ou soluções incomuns. Infelizmente, na maioria dos casos, em uma recessão trabalhamos mais para ganhar menos. Isso tudo ocorre em função da espiral de precariedade que antecede o aumento da competitividade, que vem a ser uma consequência natural do fato de que muitos profissionais ou empresas passarão a disputar as escassas oportunidades existentes no mercado. E, literalmente, nos obrigamos a conquistar novos clientes para não decretar falência, ou acabarmos, por necessidade, mudando de profissão. O que não poucas pessoas obrigam-se a fazer.
A queda nas receitas da maior parte das cidades brasileiras não apenas evidenciou a escassez que o país vem sofrendo, mas expôs a terrível gravidade da recessão, que não será redimida com a implementação de algumas medidas econômicas, ainda que estas venham a ajudar no longo prazo. Mas o epicentro do problema, e poucos atentaram para este fato, deve-se a completa e total ausência de estímulo ao empreendedorismo, que configura-se como uma enfermidade crônica no Brasil. Esse é o sintoma que está gerando toda uma expansiva, fatídica e corrosiva doença sobre a economia brasileira. Também pudera: tendo que enfrentar uma sofrível burocracia exaustiva e imoral para registrar uma empresa – para não falar dos custos monumentais com os quais o indivíduo tem que arcar logo no princípio, antes mesmo de começar a ter lucro – no atual momento, é um verdadeiro herói quem decide abrir o seu próprio negócio na desfavorável conjuntura econômica. Conheço diversas pessoas que abriram sua própria empresa em 2016. Agora, em 2017, a maioria encerrou as atividades. São excessivos gastos, e nenhum retorno. E o governo pouco está fazendo para reverter esse quadro, e facilitar a abertura de novas empresas. O governo vem buscando investimentos externos para melhorar a situação econômica do país. Mas caso essa medida apresente algum resultado, será no longo prazo. Portanto, no curto prazo, temos que viabilizar alternativas e soluções por nós mesmos.
Infelizmente, o prognóstico atual não é dos melhores. Analisando de forma veraz e realista, nosso futuro parece sombrio e aterrador. Por outro lado, no entanto, ser pessimista e lamuriar-se também não ajudará em absolutamente nada. Avaliar de maneira abrangente e sistemática o que deve ser feito, e aventar possibilidades viáveis – cada um de acordo com o seu caso em particular – é a única coisa que podemos fazer de proveitoso no momento. A estagnação econômica nos vitimou de formas e maneiras nunca antes imaginadas, mas podemos reagir, ainda que não devamos alimentar expectativas excessivas quanto a possíveis sucessos.
O estoque acumulado de produtos que não estão sendo vendidos, a inadimplência batendo recordes nunca antes observados no mercado, uma dedicação enorme para trabalhos muitas vezes irrisórios, entre muitos outros problemas, são adversidades que podem desanimar qualquer indivíduo. Diante desse quadro, o melhor diagnóstico ainda é levar um dia de cada vez. Lembre-se, você só pode sobreviver ao mês se passar, primeiro, pelo dia de hoje. Não antecipe problemas. Resolva os desafios conforme eles vão surgindo. Comece abrindo um cliente aqui, depois outro ali, e quando você menos espera, perceberá que está, aos poucos, vencendo o grande desafio de sobreviver à recessão.
Atualmente, são poucas as possibilidades que estão ao nosso alcance para levarmos nossas empresas adiante. A única coisa que realmente podemos fazer, e que pode trazer resultados – o que dependerá tanto de esforço quanto de sorte – é ir atrás de possíveis clientes, aonde quer que eles estejam. Mas isso também deve ser feito de maneira realista. Lembre-se: seus clientes – tanto atuais quanto futuros – enfrentam problemas similares aos seus, de maneira que você, eventualmente, fará muitos contatos que invariavelmente serão infrutíferos. Mas não se desespere. Simplesmente tente. Quanto mais oportunidades você tentar encontrar, mais chances de sucesso terá. E, no final das contas, em não raras ocasiões, depois de recuperar a lucidez e a clareza mental que os momentos de angústia nos furtam, você perceberá que, embora os desafios superados tivessem muitas vezes uma proporção relativamente assustadora, eles sem dúvida nenhuma pareciam muito piores em sua cabeça. A vida nos ensina que todas as adversidades serão eventualmente contrabalançadas com momentos de serenidade, afinal, o caos nunca dura para sempre. Ao depor o nefasto, maledicente e corrosivo governo petista, alcançamos uma vitória significativa, que vislumbra a reconstrução da economia como sua próxima etapa fundamental. Não será uma tarefa fácil, mas através deste árduo período pelo qual estamos passando, aprendemos que para todo e qualquer problema, sempre existirá uma solução. Contanto que estejamos dispostos a lutar por ela.