Precisar, precisaríamos. A ausência de uma sólida representatividade para a iniciativa privada, dentro de um contexto político, significa para nós, empreendedores e empresários, que não existe absolutamente ninguém na esfera governamental defendendo os nossos interesses. Dessa maneira, não apenas seremos constantemente colocados de lado, mas todas as nossas reivindicações serão tratadas com descaso e apatia. Como de fato vem sendo tratadas, há muito tempo.
A ausência de genuína representatividade política nos cerca de uma série de problemas, como o excesso de impostos, a inércia na qual o governo isolou a possibilidade de reforma tributária, a escassez de créditos e incentivos fiscais, entre tantos outros. Essas são algumas das dificuldades enfrentadas hoje pelo empreendedor brasileiro, que não possuem qualquer tipo de preeminência ou prioridade na esfera governamental, de maneira que o empreendedor ficou largado à sua própria sorte, tendo que enfrentar completamente sozinho todas estas questões, sem nenhum tipo de apoio, orientação ou direcionamento.
Mas e por que precisaríamos de representatividade política? Porque precisamos. Precisamos da reforma tributária, precisamos de isenção fiscal, precisamos de concessão de créditos, precisamos que os benefícios e os privilégios concedidos a grandes empresas e megacorporações sejam também estendidos a pequenas e médias empresas, que são de fato quem sustenta o país. Precisamos, precisamos, precisamos. Como não existe absolutamente ninguém no governo defendendo os nossos interesses, esses assuntos extremamente importantes para a iniciativa privada não apenas são tratados com extremo descaso e displicência, como são negligenciados gestão após gestão. E não nos enganemos: isso pode ser proposital. Com uma iniciativa privada desunida, fica mais fácil para o governo espolia-la e corroê-la com mais impostos. Afinal, é disso que o governo vive: dos exorbitantes impostos que cobra da iniciativa privada. E reiteremos o fato de que o governo não faz absolutamente nada por ela.
Embora o governo não admita, todos sabemos qual é o cavalo de força que move esse país: é a iniciativa privada. Sem ela, não temos governo, não temos estado, não temos empregos, não temos trabalho, não temos pais. Essa é apenas uma das muitas razões pelas quais o governo deveria se prestar a auxiliá-la, e não a corroê-la e subjuga-la, como vem fazendo desde sempre.
A espoliação do governo com tributos implacáveis, o favoritismo e o protecionismo aplicado a grandes empresas – porque através delas é possível praticar corrupção ativa e passiva, o que beneficia inúmeros políticos – e o fato de que a representatividade política do setor privado perante o poder público é inexpressiva, para não dizer inexistente, consolida um dos objetivos do governo: se impor como autoridade, e tratar o setor privado como seu escravo, para quem o estado ditará regras, cobrará exorbitantes impostos e como se isso não fosse o suficiente, a atormentará com questões burocráticas ao ponto da saturação, impedindo o seu crescimento, a sua expansão, e sabotando as suas chances de sucesso.
A nível municipal, muitos empreendedores tornam-se vereadores, determinados a endereçar, em uma esfera local, alguns dos problemas enfrentados por pequenas e médias empresas, em sua cidade. Mas a grande maioria deles, ao tornarem-se parte do poder público, são acossados por uma real percepção da podridão política: coalizões que lutam por poder e influência, jogos de interesses, letargia, negligência e abominável burocracia faz a grande maioria deles desistirem após um mandato. Depois de encaminharem inúmeros projetos – muitos dos quais seriam salutares para a iniciativa privada em sua localidade –, que são vetados por uma razão ou outra, uma enorme quantidade de trabalho sem resultados faz estes nobres homens ficarem terrivelmente saturados com a política municipal. Ao perceberem como foram ingênuos ao achar que poderiam mudar alguma coisa através da política, a grande maioria desiste depois de um mandato. Abandonando a atuação na esfera pública, boa parte dos empreendedores que ousam arriscar-se na política municipal descartam-na de vez das suas vidas, para concentrarem-se exclusivamente em seus negócios.
A questão é que, ao passo que precisamos de uma sólida e eficaz representação política, o cenário político brasileiro é tão apalermado, letárgico, burocrático e ineficiente, que, primeiramente, uma grande mudança deveria ser realizada na estrutura política do país, antes que a iniciativa privada passasse a ocupar um lugar de decisão no estado, que é seu por direito.
A verdade é que, pelo tanto que faz pelo país, a iniciativa privada é uma das mais injustiçadas vítimas do governo. Sustentando o estado, mas sendo terrivelmente espoliada e negligenciada por ele, não devemos desistir de exigir o que é nosso por direito. Reformas, tratamento justo e maior poder de decisão. Afinal, somos nós que trabalhamos arduamente. O estado, por sua vez, fica confortavelmente apoiado sobre nós, vivendo do nosso dinheiro, sem fazer absolutamente nada para merecê-lo.