Em La Mitad Del Mundo, uma atração turística próxima a Quito, no Equador, os visitantes são convidados a assistir uma demonstração após terminarem de tirar fotos na linha que divide o mundo. Três banheiras estão em cada um dos lados dessa linha. A demonstração começa, e os viajantes com nariz rosado ajeitam seus chapéus ansiosos com o que virá pela frente.
Uma das banheiras é drenada em sentido horário, e a outra gira em sentido anti-horário. A que fica bem no meio da linha vai direto para baixo, enquanto o líder da demonstração elogia a majestade do Equador. É o tipo de exibição feita para você sentir que a Terra é maravilhosa, misteriosa e estranha. O que, claro, é verdade. Mas a demonstração é falsa. Para começar, ela não está localizada na verdadeira linha do equador, que está a 240 quilômetros de distância. E mesmo que estivesse diretamente na linha que divide o planeta, a demonstração está para a ciência assim como reality shows estão para documentários. Sua chance de ver o fenômeno real são muito pequenas.
E é uma farsa que já dura bastante tempo. Livros didáticos e documentários da BBC já ajudaram a espalhar essa informação errada, como o professor de meteorologia Alistair Fraser destacou em uma tentativa de acabar com o mito; até em Os Simpsons os roteiristas fizeram piadas com base na ideia de que isso acontece. Na verdade, a água em espiral descendo para nossos esgotos está sujeita a uma força que guia a sua direção independentemente de você estar na Austrália, Áustria ou Austin, Texas.
Por que essa farsa dura tanto tempo? Há um conceito científico que explica como a rotação da Terra afeta a maneira como percebemos objetos muito grande se movendo conforme eles viajam. É chamado de efeito Coriolis. Ele pode ter impacto em como furacões viajam, mas não na direção da água em um cano. As pessoas perpetuam esse mito usando frequentemente o efeito Coriolis como prova, mas é quase tão absurdo como dizer que terá mais neve no lado de sotavento de uma poça de xixi de cão por causa do efeito do lago.
“Para correntes atmosféricas ou do oceano, [Coriolis] tem grande participação… para banheiras ou privadas, a escala é tão pequena que outros fatores superam Coriolis, como por exemplo força da água na privada ou banheira, a configuração da drenagem e a estrutura da banheira ou vaso sanitário”, explica o cientista atmosférico Jeff Weber, que trabalha na Corporação Universitária para Pesquisa Atmosférica, ao Gizmodo. “Se você pudesse eliminar completamente outras forças (atrito, a água entrando, o formato do vaso), teria uma pequena possibilidade de ver Coriolis naquela escala… seria necessário uma configuração experimental cuidadosamente criada e administrada.”
A menos que criado no vácuo, os vídeos e demonstrações da água sendo drenada em diferentes direções são resultado de trapaça. A drenagem em La Mitad Del Mundo provavelmente gira nas formas dramaticamente diferentes porque foi feita para ser assim, apesar de eu não ter interrogado diretamente os equatorianos por trás da exibição. Talvez eles tenham feito algo para isso, mas as condições na exibição não são o bastante para Coriolis funcionar em quantidades tão pequenas de água.
O mundo é lotado de fenômenos marcantes, e é frustrante ver pessoas usando ciência falsa como uma maravilha natural. Portanto, da próxima vez que visitar um hemisfério diferente, você não precisa perder tempo olhando o vaso sanitário esperando que ele gire para um lado diferente para presenciar um fenômeno da natureza.
Crédito da imagem: Shutterstock
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