Ontem no começo da tarde, uma notícia ~abalou~ as estruturas da internet: o DJ Álvaro Rodrigues foi detido pela polícia por fazer uso da foto de uma professora em seus perfis fakes no Twitter (com mais de 400 mil seguidores) e no Facebook (com mais de 2 milhões de fãs). No ar desde 2011, os perfis postavam conteúdo ironizando a vida e a obra dos evangélicos e seus fanatismos.
A pessoa do avatar, uma professora de educação infantil de Campinhas AND evangélica, foi identificada por amigos e conhecidos, começou a sofrer bullying e desde 2011 tenta a remoção das fotos da internet, sem sucesso. Quando soube que o autor da página faria um show em uma boate de Santos, se mandou com seu advogado pra praia e enquadrou o meliante.
Álvaro foi detido, assinou um termo circunstanciado (seja lá o que isso quer dizer) e foi liberado na sequencia, mas ainda assim responderá por constrangimento, injúria e difamação. A foto do avatar já foi trocada por uma nova (abaixo), tuites e posts ironizando o fato há foram feitos e Álvaro já tem um advogado pra defende-lo.
Como sempre, o ~Tribunal das Redes Sociais~ já está reunido desde ontem julgando o caso e espalhando pela internet seus argumentos de acusação e defesa.
O acusado diz que a imagem foi encontrada através de uma pesquisa aleatória no Google e que ele nunca quis machucar ninguém. Depois de detido, ele retirou todas as imagens da moça de suas redes sociais. Porém o estrago já foi feito.
Os acusadores dizem que, mesmo não intencionalmente, ele causou danos e sofrimento à vida da pobre professora, inclusive ganhando dinheiro às custas da imagem da mulher e por isso DEVE PAGAR. muahahahah (risada maligna)
Agora… quem nunca “pensou num tema, jogou no Google Images e usou a primeira foto do resultado” botando fé no conceito de que a internet é gigante demais pra que alguém descubra nosso uso indevido descuidado de material alheio? Pois é!
O que nos leva a um dos “argumentos de defesa” de Emerson Damasceno, advogado do rapaz. Em seu Facebook, ele comenta que esse caso traz uma reflexão sobre “a flexibilização do direito à imagem na era em que nos tornamos nossos próprios paparazzi”.
A gente se expõe loucamente por aí sem nenhum critério, publicamos detalhes da nossa vida sem pensar e esquecemos que um dos conceitos mais básicos da internet é que ela pode transformar um anônimo em celebridade do dia pra noite. Se você juntar as duas coisas, resulta que a qualquer momento uma foto sua do Facebook pode virar meme ou avatar de outra pessoa por aí.
É óbvio que ninguém é obrigado a gostar. Ta aí o caso do Technoviking: o cara tava lá na rave, sendo filmado, pirando na balinha, mas depois que virou meme jogou um processo nas costas do cara que filmou a cena… pública.
Ano passado, um repórter do youPIX se fantasiou de @Pedreiro_Online pra uma matéria aqui do site. Um belo dia, ele, que estava acostumado a cobrir o universo das pessoas que viram memes, descobriu que havia virado matéria-prima de um: amigos o avisaram que sua foto tava sendo usada em uma página de humor para ilustrar montagens com uma pegada meio “Pedreiro Gay”.
No começo ele achou divertido e desencanou. Com o tempo, foi ficando incomodado com o fato de sua imagem estar sendo usada dessa maneira, tentou falar com o dono da página, não foi ouvido e ficou se sentindo “bullynado”. Só depois de muitas “denúncias” feitas pelos amigos que o Facebook removeu as imagens da página.
Certamente, reportar a história de outros anônimos memetizados é mais legal do que virar um. :/
KEEP CALM AND VAMOS ACOMPANHAR…
Isso é tudo meio confuso e esquisito.
Mas esse é o ponto… estamos no meio da revolução! Os paradigmas sobre o significado do “Público & Privado” estão sendo reconfigurados enquanto você lê esse texto, em tempo real! E são, essencialmente, pautados e marcados pelo oversharing e a overexposição, comportamentos NORMAIS nos dias de hoje.
Não estou dizendo que o criador da Irmã Zuleide está certo ou errado. Mas é bem possível que talvez estejamos julgando o caso baseando nossas opiniões em conceitos antigos – pra não dizer velhos – de privacidade e ~direito de imagem~.
A coisa é tão nova e cheia de meandros, que até hoje não temos lei que regula e tipifica crimes cibernéticos como esse – o Marco Civil segue emperrado e a Lei Azeredo ainda não foi sancionada pela presidenta Dilma.
Sinceramente, estou muitíssimo curiosa pra saber o que vai acontecer com esse caso. Talvez não seja tão óbvio quanto a gente esteja pensando. Talvez esse seja um importante momento pra gente condenar menos e refletir mais.
Não ter atenção/foco na vida pessoa te faz de um fracassado ao ponto de criar um perfil regado por kibe escondendo o que és, @irma_zuleide?
— Leonardo Lima(@lima_leonarde) January 30, 2013