Há um ano, surgiu a alegação de que a Apple faz funcionários trabalharem em produtos falsos: para garantir a lealdade dos recém-contratados, a empresa os coloca em projetos “dummy” antes de deixá-los trabalhar nos projetos reais. Pena que isso não é verdade.
Jacqui Cheng, do Ars Technica, explorou o caso com fontes da Apple e não encontrou nenhuma prova de que alguém trabalhe em projetos falsos. Na verdade, tal prática seria uma despesa enorme e completamente desnecessária.
Os relatos de projetos falsos começaram na turnê para promover o livro “Inside Apple”, de Adam Lashinsky, onde ele expõe a intensa cultura de sigilo na Apple.
Durante a turnê, Lashinsky descreveu “projetos dummy” nos quais os engenheiros trabalham. Ele quis dizer que muitos engenheiros trabalham em aspectos muito pequenos de novos produtos, sem conhecer o projeto como um todo. Mas como projetos falsos se encaixavam no culto paranoico da Apple ao sigilo corporativo, a declaração foi mal-interpretada.
O Ars aponta que a realidade, mesmo ainda sendo paranoica, é um pouco mais chata e contratual. Para que projetos falsos, quando se tem acordos de confidencialidade?
“… Eu realmente não vejo a necessidade desse tipo de coisa, porque tudo é extremamente regido por NDA [acordo de confidencialidade]“, disse um funcionário que trabalha na Apple. “Você pode ser contratado para uma posição na qual não lhe dizem de antemão qual será o seu projeto, é claro. Mas se eles decidem contratar você com o seu conjunto de habilidades, você consegue arriscar um palpite sobre o que se trata. É muito mais fácil mandar alguém assinar um NDA e depois demitir se o acordo for violado…”
Por que a Apple queimaria dinheiro em projetos infrutíferos para proteger o sigilo, quando há uma prática contratual padrão destinada a proteger esses segredos? A Apple usa NDAs até para partes de partes de projetos. “Para tudo o que trabalhamos, há um novo NDA”, diz um engenheiro da empresa.
Além disso, a Apple tem várias formas de detectar se algo confidencial foi vazado de sua sede. Por exemplo, eles enchem um andar com seguranças que “visitam cada mesa para copiar dados de computadores e outros dispositivos”, segundo o Ars. Dessa forma, eles conseguem identificar vazamentos de forma quase instantânea.
Mas como vimos durante os últimos tempos, os vazamentos raramente vêm de Cupertino: eles surgem da Ásia, onde ficam os fornecedores da Apple. Por lá, tanto executivos como funcionários têm menos estímulo para não divulgar algo confidencial sobre o mais novo iDevice. Como disse um funcionário da Apple, “claramente as pessoas que precisam de treinamento de segurança não estão aqui [em Cupertino]“. [Ars Technica]
Foto original: Chung Sung-Jun/Getty