Esquece a religião e foca no livro: a Bíblia é terrível. Cheia de números para marcar início e fim de versículos, texto disposto em colunas, aquelas letras tão apertadinhas e as folhas que, de tão finas, quase se rasgam. Uma experiência de leitura bem ruim, se compararmos com a leitura de um livro impresso clássico.
Interessado em conquistar para a história bíblica a mesma atenção dada pelos leitores a outros livros e títulos, o designer de livros Adam Greene imaginou qual seria um novo design, que pudesse fazer da Bíblia um livro menos hermético.
O resultado é o projeto Bibliotheca, que foi colocado para arrecadar fundos em um financiamento coletivo no Kickstarter. A proposta é bem interessante: transformar a Bíblia em uma ‘série’ de livros, divididos em volumes mais confortáveis de carregar, e com um visual que facilite a leitura. O cuidado de Adam é tanto que ele chegou a desenvolver uma fonte própria para o projeto, que traz o detalhe da letra manuscrita para a tipografia. Também saem as marcações de versículos, e ficam apenas os capítulos e as páginas, como em um livro tradicional. Nada de colunas também: o texto segue corrido pela página, como em qualquer outra literatura tradicional.
A proposta não é oferecer uma nova ‘versão universal’ da Bíblia, inclusive porque as referências de livros, capítulos e versículos são importantes para o estudo litúrgico, mas são irrelevantes para quem quer apenas acompanhar o conteúdo da Bíblia como uma história contada por diversos personagens. Cada um dos elementos do design da coleção Bibliotheca foi pensado para criar uma boa experiência de leitura, e não de pesquisa ou estudo.
Novo e Velho Testamento foram divididos em quatro volumes, e até o texto foi adaptado para facilitar a compreensão, removendo termos arcaicos e substituindo-os por alternativas contemporâneas. Com 4 dias para o término do crowdfunding, é possível perceber que existe sim um grande público para propostas como essa – no Kickstarter, já foram arrecadados mais de 573 mil dólares para o desenvolvimento da coleção, quantia bem maior do que os 37 mil solicitados por Greene para viabilizar o projeto.
Em entrevista ao The Verge, Greene diz acreditar que o crescimento da venda de livros digitais não vai necessariamente acabar com a produção de livros de papel, e que essa pode ser uma oportunidade para criar volumes físicos esteticamente melhores. “Se usarmos os formatos digitais para conteúdos mais efêmeros, e reservarmos a ‘reverência’ de um livro físico para uma literatura mais perene, eu acho que veremos o ressurgimento de livros belíssimos”, especula o designer.
Os kits mais luxuosos do projeto também trazem um dos meus sonhos de consumo literários: um timbrador com um ex libris customizado, feito especialmente para o apoiador do Bibliotheca.
Acho que até o Papa Francisco apoiaria esse redesign bíblico, hein?
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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