Em junho do ano passado, o responsável por vazar o esquema de espionagem dos EUA revelava sua identidade. Era Edward Snowden, então com 29 anos de idade, um ex-assistente técnico da CIA. Na época, ele dizia: “eu não quero a atenção do público, porque eu não quero que a história seja sobre mim. Eu quero que seja sobre o que o governo dos EUA está fazendo”.
Ontem, a Rede Globo exibiu no Fantástico uma entrevista com Snowden em pessoa, realizada em Moscou. É a segunda entrevista veiculada com ele em menos de uma semana. Parece que ele não está mais com medo de desviar a atenção do público. O que mudou?
Segundo o Fantástico, “com todas as revelações que foram feitas, [Snowden] se sente seguro para discutir seus sentimentos”. Além disso, a entrevista coincide com o lançamento, há alguns dias, do livro Sem lugar para se esconder de Glenn Greenwald, que conta a história de Snowden e do vazamento de arquivos da NSA. Então é normal que ele esteja nos holofotes.
Mas talvez haja um motivo mais importante: o asilo político de Snowden na Rússia está prestes a vencer. O que acontece depois, nem ele sabe:
Fantástico: O que vai acontecer quando seu asilo temporário aqui vencer?
Snowden: Essa pergunta é difícil. Eu não tenho resposta. Meu asilo vence aqui no começo de agosto. E se o Brasil me oferecer asilo, eu ficarei feliz em aceitar.
Fantástico: Você gostaria de viver no Brasil?
Snowden: Eu adoraria morar no Brasil. De fato, eu já pedi asilo ao governo brasileiro.
O pedido de asilo ao Brasil foi feito em julho do ano passado, mas o Ministério das Relações Exteriores deixou bem claro na época: “não há intenção de responder”.
Esta pode ser uma forma de levantar na imprensa o assunto de seu asilo político – não seria a primeira vez. Em dezembro, quando a Casa Branca afirmou que não daria anistia a Snowden, ele publicou uma carta aberta ao povo do Brasil: “até que um país me conceda asilo político permanente, o governo dos EUA vai continuar a interferir com minha capacidade de falar”. O governo brasileiro não se manifestou.
Mas talvez valha a pena tentar: o Brasil é alvo prioritário da espionagem da NSA, que inclui até mesmo as mensagens de Dilma Rousseff e documentos da Petrobras. (Obviamente o motivo não é descobrir potenciais esquemas de corrupção: os EUA querem ajudar a si próprios.) E a presidente foi enfática na ONU em pedir pelo fim da espionagem indiscriminada no mundo, prometendo até levar a proposta de um Marco Civil Internacional para a internet.