A Black Friday é um evento anual nos EUA onde lojas oferecem descontos enormes no preço de vários itens. Uma grande festa do consumismo! Embora tenhamos a nossa versão (capenga) da Black Friday, nada melhor do que a original, certo? Mas como aproveitar aqueles descontos da terra do tio Sam sem sair do Brasil?
O grande problema é que a maioria das lojas norte-americanas não despacham para fora do país. Se no eBay já é relativamente difícil encontrar vendedores dispostos a mandar produtos para cá, em grandes lojas do varejo essa é uma missão quase impossível. Há exceções — a Amazon, por exemplo, manda filmes, livros (isentos de impostos) e Kindles (com impostos retidos na fonte) —, mas a regra geral é que, na hora da compra, você trava na hora de dar o seu endereço.
Existem meios de driblar essa limitação. E antes que alguém questione, não, não se trata de nada ilegal. Importando produtos dessa forma você muito provavelmente pagará os impostos devidos e outras eventuais taxas que a distância impõe. Além disso, é praticamente inviável comprar itens fisicamente grandes (o frete fica salgado). Mas trata-se da Black Friday: os descontos podem compensar, e a compra pode valer a pena.
Onde encontrar ofertas
Diversas lojas americanas fazem ofertas de Black Friday pela internet. O site BlackFriday.com reúne a maioria, e a lista é imensa: mais de 1.400 lojas especializadas em todo tipo de produto – incluindo as mais conhecidas por lá, como Best Buy, Newegg e Target. Este é um dos principais lugares para se encontrar ofertas de Black Friday: ajuda o fato do site exibir ofertas que só começam a valer na sexta-feira. A busca do site está longe do ideal, mas quebra um galho.
O Gizmodo americano fez uma lista enorme de todas as ofertas de Black Friday que puderam encontrar. A lista é separada por produtos, e indica as melhoras ofertas. Você pode separar a lista por loja, salvar itens em sua wishlist, e fazer busca por nome e preço máximo. Mas fique atento: algumas ofertas são “In-Stores Only”, ou seja, só em lojas físicas nos EUA.
O The Verge também está reunindo as melhores ofertas de cada loja, e você pode conferi-las aqui. Assim como o Gizmodo, eles não colocam o link direto para cada produto: você precisa ir ao site da loja e buscá-lo.
Mas o esforço pode valer a pena. Por exemplo, você pode levar:
– o laptop Toshiba L855-S5372 de 15.6″ com processador Core i7 por US$580 na Staples (ele custa pelo menos US$650);
– o tablet Samsung Galaxy Tab 2 7″ por US$178 na Sears (que custa mais de US$200);
– uma Canon T3 com lente kit por US$450 na Best Buy (ela sai por no mínimo US$500);
– um Xbox 360GB de 4GB com Kinect por US$180 na Fry’s (que custa pelo menos US$250);
e muito mais – basta procurar a melhor oferta para você.
OK, escolhi meus produtos, mas como vou enviá-los para o Brasil? Há duas formas principais de fazer essa importação:
1) Terceirizando a compra inteira
Alguns serviços fazem todo o trabalho para você: compram o produto nos EUA e o enviam para um endereço aqui no Brasil. As opções mais conhecidas são o BoxBrazil e MercadoDireto.
É de longe a forma mais cômoda, mas também a mais cara. O preço do serviço de entrega não é dos mais baratos e o desembaraço na alfândega, mais impostos, dependendo do produto quase ultrapassa o seu valor. Fizemos uma simulação nos dois sites com um iPad, de US$ 499, e o preço chegou a R$ 1.869 (MercadoDireto, com 10% de desconto no pagamento via cartão internacional) e R$ 2.030,75 (BoxBrazil, pagamento no cartão nacional ou internacional).
Como em quase tudo na vida, você paga a mais pela comodidade. Há outra opção? Sim. Ela exige um pouquinho mais de trabalho da sua parte, mas felizmente mantém o que interessa: o envio dos produtos para cá.
2) Terceirizando a entrega
O grande empecilho de se comprar algo nos EUA é a entrega — como a maior parte das lojas não manda os pedidos para o Brasil, você fica de mãos atadas. É aí que entram sites como PuntoMio, MyUS, Ship2Me, SkyBOX e Brazzusa: eles se encarregam apenas de receber e despachar o produto; a compra fica por sua conta.
Ao se cadastrar em um desses sites, você ganha um endereço nos EUA. Com ele na mão, basta fazer a sua sessão de compras mandando tudo para o local informado e, depois que receber os seus pedidos, o site se encarrega de fazer a ponte entre o seu endereço norte-americano e o verdadeiro, aqui do Brasil. Alguns oferecem planos e vantagens específicas em troca de pagamentos extras — o PuntoMio tem endereços de “zona livre” onde taxas norte-americanas não incidem, o MyUS reempacota produtos para que pesem menos e/ou venham todos em uma embalagem e por aí vai.
No geral é preciso ter um cadastro, e há várias opções gratuitas. Para compradores casuais, os planos gratuitos servem bem. Quanto aos planos pagos, as vantagens oferecidas variam de serviço para serviço, mas costumam ser bônus como consolidação de pacotes, uso de cupons de descontos de revistas e flexibilidade na escolha do método de envio. Um exemplo de plano: a MyUS oferece o Premium + Mail, que custa US$ 25/mês, além de cobrar uma taxa de registro de US$ 35.
Estes sites para terceirizar entrega funcionam muito bem — tanto em relação ao recebimento, quanto ao pagamento dos impostos devidos na alfândega. A exceção parece ser o Brazzusa, que não faz o desembaraço fiscal, nem cobra os impostos com antecedência. Se calhar de o seu pedido ficar retido e os impostos incidirem, cabe a você realizar o pagamento deles para poder retirar a encomenda — nesse caso, é preciso ir à agência dos Correios onde ela se encontra e fazer lá o pagamento, que deve ser obrigatoriamente em espécie (dinheiro vivo, nada de cartão).
Em todos os casos, faça as contas. A maioria desses sites oferece uma calculadora própria, onde são contabilizados todos os custos que o consumidor terá ao comprar qualquer item nos EUA. Jamais deixe de usá-la.
Funciona? É seguro?
Embora não seja a coisa mais popular do mundo, bastante gente faz uso desses serviços para comprar lá fora. Ou é pelo preço mais em conta, situação comum com produtos muito caros aqui ou muito baratos lá, ou aqueles que não estão à venda no Brasil, como no caso de Renê Fraga, editor do Google Discovery, que recorreu ao PuntoMio para comprar um action figure:
“Então, não tinha [o produto] no Brasil. Eu comprei pela segurança da empresa (já tinha ouvido falar bem deles) em acompanhar a entrada e liberação do produto pela receita. Você consegue ver a posição do produto num painel deles. Ao chegar o produto em Miami, eles me pediram a Invoice do eBay. Fora isso, não precisei fazer mais nada além de esperar.”
Conversamos com o Renê e outros usuários dos sites listados acima. Em comum, todos eles aprovaram os serviços, mas fizeram ressalvas quanto aos preços (e aos impostos de 60%) pagos. Em muitos casos a soma de todas essas taxas, mais o custo do produto em si, podem fazer a compra vinda do exterior não valer a pena. Vinicius Cordeiro, outro que usa o PuntoMio para suas compras internacionais, resume esse ponto:
“Já comprei bastante coisa por eles: notebook, CPU, placa-mãe, memória, mouse Bluetooth, teclado, entre outras amenidades de menor valor. Como usam serviço de courier para a entrega, ela vem rápido, mas o imposto é recolhido 100% das vezes e é debitado direto de seu cartão de crédito.”
Pedro Alves é “usuário fiel” do SkyBOX. Quando começou a se aventurar por lá, ele escreveu um review do serviço e publicou em seu blog:
“Acredito que essa seja uma boa opção para quem vira e mexe resolver comprar algo lá fora. Você passa a poder trazer praticamente qualquer coisa, tem uma bela facilidade no pagamento dos impostos (e não precisa se deslocar até alguma agência dos correios para pagar em espécie) e os caras agilizam bastante os trâmites legais para que seu pedido não fique muito tempo parado na alfândega. Além de que, como mostrei com minha aventura com o Kindle, você ainda pode encontrar uma opção para comprar itens que até poderiam ser entregues direto no Brasil, mas chegariam aqui por um preço bem maior do que o justo.”
Desde então, disse em conversa com o Gizmodo Brasil, ele tem comprado quase que semanalmente produtos usando a SkyBOX. Como dito ali em cima, nesse e em outros serviços do gênero você recebe — o produto e os impostos devidos, todos eles, sem chance de “dar a sorte” de a sua encomenda passar incólume pela alfândega:
“O problema é que isso tudo tem um custo. Geralmente o valor do frete é justo, US$ 20 ou US$ 30 para encomendas medianas e com entrega no interior de São Paulo. A anuidade também é um valor quase simbólico em comparação com as vantagens que você pode ter. O que pega mesmo são os impostos. Qualquer coisinha que você comprar será taxada em tudo que pode ser taxada. Não é que nem DealExtreme ou vendedores isolados do eBay, que mandam para o Brasil e frequentemente não param na alfândega. Tudo que você comprar e mandar para o Skybox será taxado.
No caso da Black Friday isso pode até ser balanceado pois frequentemente o valor do desconto será tal que compense os (absurdos) impostos alfandegários brasileiros. Mas ainda assim nunca é uma boa ideia apenas comprar e fingir que você realmente mora nos EUA. Se não fizer a conta certinho, vai acabar pagando mais caro do que se comprasse no Brasil.”
Mas há exceções.
Menos conhecido, definitivamente mais feio, mas com as condições mais vantajosas e flexíveis, o Brazzusa é a opção de Bruno Neves:
“O Brazzusa funciona de forma bem simples. Você se cadastra e ganha um box em um endereço dos EUA. Após o cadastro é só comprar o que deseja e aguardar o produto ser entregue. Quando o pessoal do site receber sua encomenda, vão identificar o dono através do box e irão enviar um email com os dados do produto e o peso, além do tipo de frete recomendado. Após chegar o email, é só entrar no site, logar, escolher o tipo de frete que deseja (FC, PMI ou Express), informar os dados da encomenda que você quer despachar no pacote e pagar via PayPal. É tudo bem espartano, pra não dizer tosco. Os preços são bons, eles cobram $8 pra enviar + o preço do frete na USPS de acordo com o peso total da encomenda.”
Mas a possibilidade de não ser taxado tem seu preço:
“A minha média de encomendas dos EUA é de 20 a 45 dias. Todos os PMI que comprei foram taxadas e todos os FC não foram. Nunca tive nada extraviado, mas tenho amigos que tiveram algumas encomendas extraviadas quando já estava dentro do Brasil. (…) O Express é o mais rápido dos três, só que por ser 99% certo de não passar ileso pela alfândega, esses trâmites legais podem fazer o tempo total ser igual ao dos outros dois.”
Alternativa: Black Friday americana do conforto do seu lar, no Brasil
Além dessas duas opções, existe ainda uma terceira: apelar para parentes ou amigos que estejam viajando pelos Estados Unidos. O Brasil já é o país que mais recebe vistos dos EUA (à frente até da China, que tem uma população cinco vezes maior que a nossa) e batemos recordes de compras por lá. Ainda é uma opção distante da realidade de muita gente, mas cada vez mais popular. Nesses casos não tem segredo: é mandar o dinheiro para essa pessoa muito generosa e pedir para que ela traga o produto que, ao chegar ao Brasil, poderá ser taxado ou não — na dúvida, sempre compre alguma coisa já calculando os impostos sobre o produto para não ter surpresas desagradáveis.
Os sites mostrados nesta matéria fazem a ponte entre lojas norte-americanas e lares brasileiros, são os chamados “reendereçamentos”. Geralmente o serviço é recomendável para produtos com preços obscenos por aqui (MacBook Pro com tela Retina, por exemplo) ou indisponíveis no mercado nacional (toda a sorte de camisetas, action figures e outras coisinhas de lojas como ThinkGeek, além de gadgets não lançados no Brasil, como a linha Nexus do Google), mas a Black Friday subverte, por um dia, essa regra de economia. Com os preços mais baixos lá, é bem provável que várias coisas que são vendidas a preços aceitáveis aqui passem a valer a pena vindas de fora — e se o medo de ter que acionar a garantia/RMA for real para você, saiba que muitos dos sites citados oferecem o serviço de retorno gratuitamente.
Na sexta deve surgir um punhado de promoções. O lance é ficar de olho nas lojas dos EUA e aproveitar o que for mais vantajoso; Black Friday é só uma vez por ano.
Colaborou: Felipe Ventura.
Muitíssimo obrigado ao Renê Fraga, Vinicius Cordeiro, Pedro Alves e Bruno Neves pelos depoimentos. Valeu!