por Mônica Pupo
O sucesso profissional nem sempre é algo simples de ser compreendido – e muito menos alcançado. Afinal, todo mundo conhece alguém bem-intencionado, inteligente e esforçado, mas que simplesmente não consegue evoluir. Enquanto outras pessoas – que apesar das origens muitas vezes humildes e condições adversas – conseguem progredir e fazer a diferença por onde quer que passem. Qual será a diferença entre estes dois grupos de profissionais?
“Método” – responde Sérgio Mena Barreto, palestrante, consultor empresarial e autor dos livros Top Five: Cinco atitudes que podem mudar sua vida e alavancar sua carreira e Zona de coragem, ambos focados no desenvolvimento de carreiras. Segundo ele, os chamados “profissionais top five” vão mais longe do que qualquer um. “Para atingir o sucesso, é preciso reinventar-se sempre, mantendo-se em evolução constante”, diz.
Na entrevista a seguir, Sérgio fala mais sobre satisfação no trabalho e explica o que significa ser um profissional top five, além de apresentar o conceito de sucesso sustentável, indicando os caminhos para dar uma guinada na sua vida profissional em 2014.
Quais fatores costumam ser responsáveis pela insatisfação que muitos profissionais experimentam em seus trabalhos?
Sérgio Mena Barreto – A insatisfação tem a ver com o que chamo de “crise de identidade”. E essa crise pode ser dividida em duas áreas bem distintas: uma externa e outra interna. Comecemos pela externa, que tem a ver com o ambiente organizacional vivenciado pelos profissionais hoje em dia. Muitas empresas vivem uma espécie de crise de identidade, pois ainda não se deram conta de que para atender às necessidades desse novo mundo em que vivemos, que é caótico, ambíguo e incerto, é necessário utilizar um tipo diferente de liderança, que leve em conta a diversidade da equipe e tenha especial cuidado em atender aos interesses individuais dos liderados, em dar autonomia, inclusive bancando decisões que parecem ter resultado incerto. Por outro lado, o dos fatores internos, temos o profissional em si, muitas vezes trabalhando em algo no qual não tem vocação, e exatamente por isso, com pouca chance de se sentir realizado profissionalmente. Assim, uma vez que a pessoa não tenha a vocação para exercer determinada atividade, está vivendo uma ilusão. Estabilidade e salário não devem ser os dois únicos elementos desta equação.
Se só a estabilidade e o dinheiro não bastam, o que é preciso levar em conta para atingir o sucesso profissional?
Mena Barreto – Se não incluirmos nela fatores como propósito, sentimento de realização e plenitude, sempre vai parecer que ficou “faltando algo”. E por que falo isso? Porque essa vida é muito curta! De que vale passar a vida inteira fazendo algo de que não se gosta? Será que a vida se resume a isto: trocar um punhado de horas, ou grande parte de sua vida, por um valor específico, mesmo que expressivo? Pode ser que à primeira vista pareça um bom negócio, mas conheço muita gente que carrega um incômodo, um tipo de “dor” pelo resto da vida, por não conseguirem fechar essa equação da realização profissional.
E como os gestores devem agir nesse cenário de incerteza?
Mena Barreto – Esse novo modelo de liderança não tem a ver só com os líderes em si, mas todo o contorno humano em torno dele: é um conjunto de coisas que permitem ao líder voar alto, como políticas de reconhecimento, cultura e valores compartilhados. Isso não é nada fácil, pois muitas organizações ainda utilizam um modelo hierárquico antigo, de decisão centralizada e lenta, contrastando com um mundo que vive a conexão imediata entre as pessoas, da rede social, da disseminação das ideias. Outro aspecto que falta às empresas é compreender que as novas gerações buscam uma comunicação autêntica, imediata, e que os valores organizacionais têm de se refletir na qualidade de produtos e serviços que são oferecidos no mercado. Empresas perdem seus talentos por descuidarem desses fatores, e também por não proverem um ambiente de trabalho desafiador, por não responderem às necessidades de uma nova geração cada vez mais conectada e acelerada, que tem necessidade de “fazer parte” de algo maior, que faça sentido.
Em que consiste o conceito top five descrito em seu último livro?
Mena Barreto – O top five é um tipo de profissional diferenciado que corresponde a 5% das pessoas que conheci em minha carreira e que, efetivamente, fazem a diferença por onde passam, possuem marca própria e são sinônimos de sucesso. Esse comportamento diferente aparece a especialistas, pois foge do lugar comum, da média de profissionais do mercado. Um top five é facilmente percebido por quem tem o olho treinado, por profissionais que realizam processos seletivos, por exemplo.
Quais características definem os profissionais classificados entre os top five?
Mena Barreto – Em primeiro lugar, profissionais top five não são nada comuns. Numa era em que muitos profissionais fazem apenas o mínimo necessário e se limitam a entregar aquilo pelo qual são remunerados, profissionais top five destoam do lugar comum e vão na contramão da maioria das pessoas. Eles perceberam que nesse mundo globalizado e competitivo, ou você está bem acima da média ou suas possibilidades são bastante limitadas. Profissionais top five não combinam com as palavras normal, comum, mediano ou satisfatório, do tipo que se “esforçam” e fazem tudo “certinho”. Eles excedem padrões, vão até onde ninguém quer ir, usam sua energia de modo impressionante. A consequência disso é que conseguem entregar resultados também extraordinários. Em segundo lugar, estes profissionais sabem exatamente onde querem chegar, subordinam as decisões de carreira a um plano pessoal muito bem definido. E, em terceiro lugar, eles desenvolvem uma filosofia de vida própria, superando o que chamo de “curso natural” e desenvolvendo um método muito próprio de ultrapassar dificuldades, utilizando um conjunto de atitudes assertivas, que os diferenciam de todos os demais profissionais. O desenvolvimento de tais atitudes é algo intuitivo: eles simplesmente aprenderam a agir desse modo, a superar as limitações que lhes foram aparecendo pela frente.
É possível citar um ou mais exemplos de empreendedores que se enquadram na categoria top five?
Mena Barreto – Encontramos empreendedores que se enquadram no conceito top five em muitos lugares. Basta olhar ao redor. Aquele empreendedor que tem o brilho no olhar, que vai até onde ninguém quer ir, que inova, pensa fora da caixa, entrega muito mais do que foi contratado, que utiliza a energia de modo impressionante, provavelmente é um top five. E se, além disso, esse empreendedor tem prazer em conversar acerca dos seus objetivos de vida, de demonstrar como obtém equilíbrio pessoal e satisfação em sua vida fora do trabalho, então é uma boa pista de que seja uma pessoa diferenciada.
O que é preciso levar em conta na hora de definir um plano de carreira?
Mena Barreto – Na verdade, deveríamos todos seguir os ensinamentos de Confúcio: “Encontre um trabalho do qual gosta, e não trabalhará mais nem um dia de sua vida”. Então minha orientação para quem vai escolher a carreira ou um novo trabalho, ou montar um novo negócio é simples: ouça primeiro o seu coração. Você tem que entender o que te dá paixão, aquilo que vai te fazer levantar toda segunda-feira muito cedo pra mergulhar de cabeça e voltar pra casa no fim do dia cansado, mas realizado, com o coração tranquilo. Para descobrir isso, elabore uma lista das atividades que você mais gosta de fazer, aquilo que você faz que nem vê o tempo passar, que te fazem sonhar acordado. Geralmente aquilo que fazemos com paixão envolve o uso de nossos dons naturais, de nossas melhores qualidades, e são a porta para a sensação de realização.
E o que fazer se estiver no caminho errado?
Mena Barreto – Se após a autoavaliação você concluir que optou pela carreira errada, ou o trabalho errado, então é preciso preparar o terreno para realizar a mudança necessária. Isso é algo bem difícil para a maioria das pessoas, principalmente para aquelas que, quando jovens, escolheram a profissão ao embarcar no sonho dos pais, na pressão social, na “profissão da moda” ou que supostamente dava mais dinheiro. Então é comum que a pessoa desenvolva uma necessidade interior de “fazer dar certo” aquilo que é um equívoco, pois o preço a pagar, ou o caminho de volta, pode ser bem doloroso. É nesse ponto que entender que a vida funciona em ciclos faz todo o sentido, ajuda no processo de mudança. Esse é um conhecimento muito antigo, mas muito sábio. Tudo funciona em períodos de aproximadamente sete anos. É como se vivêssemos “pequenas vidas” nesse tempo, pois cada ciclo tem uma fase de início, crescimento, maturidade e fim. Ao compreender isso, é possível se reinventar a cada ciclo, pois tudo o que se inicia, fatalmente vai acabar, e se não fizermos algo a respeito, passando para um novo ciclo, aquele ciclo simplesmente vai nos desgastar e estagnar.
Quais atitudes são primordiais para se transformar em um profissional top five?
Mena Barreto – As atitudes são cinco: a primeira delas é assumir o controle, livrando-se do curso natural e definindo um plano pessoal a ser seguido. A segunda atitude é gerenciar a energia, sob o ponto de vista físico e emocional, naquilo que interessa, mantendo o equilíbrio pessoal. A terceira atitude é conectar-se com maestria, entendendo a sutileza que envolve os relacionamentos humanos e explorar ao máximo, sob o ponto de vista positivo, a diversidade natural existente entre os diversos tipos psicológicos humanos. A quarta atitude é fazer acontecer, indo até onde ninguém vai, fazendo o que ninguém faz, ocupando espaços em branco. É utilizar o que chamo de duas lentes: ao mesmo tempo em que realiza sua atividade com grande eficácia, como se utilizasse lupas, enxergar ao longe, como se utilizasse binóculos, para inovar e antecipar necessidades. E, por fim, a quinta atitude é reinventar-se sempre. É desenvolver um crivo pessoal de desenvolvimento, uma agenda de desconforto, uma equação desafiadora. É realizar um balanço constante, de buscar a evolução. Cada uma dessas atitudes está baseada em autoconhecimento.
E, pelo contrário, quais atitudes não devem ser tomadas por quem pretende atingir esse patamar?
Mena Barreto – Profissionais que andam perdidos por aí, mergulhados na ilusão do curso natural, geralmente apresentam um conjunto de cinco atitudes nada sustentáveis, que são a antítese exata das atitudes top five. A primeira delas é a falta de foco pessoal, levando o profissional a alternar atividades, ou mesmo mudar o objetivo de acordo com o “vento” ou interesses externos. A segunda atitude insustentável é o uso ineficaz da energia, que pode ser um uso demasiado, na ânsia de atender às demandas que vêm de todo o lado, gerando desequilíbrio pes soal; ou uso limitado, por desânimo e falta de perspectiva. Essa atitude está conectada à primeira, da falta de foco. A terceira atitude é o desgaste de relacionamentos, por não perceber um modo mais eficaz de contribuir com o mundo ao redor, ou por baixa autoestima. A quarta atitude, nada sustentável, é a incapacidade de realizar. Nesse caso, o profissional entrega resultados apenas medianos, “dentro do esperado”, reforçando os padrões do curso natural. E por fim, a quinta atitude, nada sustentável, é o crescimento pessoal inconstante, resultado do baixo foco ou falta de visão de longo prazo. É resultado de não cuidar da carreira, não desenvolver a ambição que vem de um propósito, de uma equação desafiadora.
A falta de foco é uma das principais causadoras do fracasso ou estagnação profissional. Como evitá-la? Quais os segredos para ajustar o foco no trabalho?
Mena Barreto – Às vezes passamos a vida inteira correndo “atrás do vento”, tentando impressionar os outros para conseguir uma posição, ou um cargo que nos dê um status específico, em busca de um nível de renda que nos proporcione algumas coisas que consideramos importantes. Mas isso geralmente não gera autenticidade, não é sustentável em longo prazo. Creio que um bom exemplo de foco seja o estilo de liderança ou o jeito de fazer acontecer de Steve Jobs. Não o conheci pessoalmente, mas ele sempre esteve na minha lista top five. Inspirado nele, em seus discursos e entrevistas, posso traduzir a questão do foco em três passos. É sempre importante lembrar-se que: seu tempo é limitado, portanto não passe a vida vivendo a vida de outras pessoas; não se perca nos ruídos ou distrações provocados por outras pessoas ou pelo ambiente ao redor e siga sua intuição, foque naquilo que te dê paixão!
Como é possível transformar o sucesso em algo “sustentável” sendo que vivemos numa realidade cada vez mais instável e insegura do ponto de vista econômico e profissional?
Mena Barreto – Entender que nada mais é estável e seguro talvez seja um bom ponto de partida. Pode parecer impressionante, mas tenho encontrado muitos profissionais que, ainda nos tempos de incerteza e instabilidade em que vivemos, abordam a vida e conduzem sua carreira com base em crenças antigas, num mundo que não existe mais. Paradoxalmente, reclamam da falta de oportunidades, mas cultivam o medo da mudança e têm enorme apego àquilo no qual se transformaram. É muito comum também identificarmos, nesse grupo de pessoas, três grandes ilusões: não precisar mudar, não precisar gerenciar a própria carreira e acreditar que é possível desenvolver uma única ou a mesma atividade por toda a vida. Infelizmente não tenho boas notícias para quem encara a vida desse modo: se mudar é algo doloroso para você, saiba que a possibilidade de obter sucesso sustentável é bem remota! Somente a mudança traz continuidade.
O que prejudica mais o sucesso profissional: excesso de ilusões ou de expectativas – tendo em vista que expectativas também geram frustração e, na maioria das vezes, confundem-se com meras ilusões?
Mena Barreto – Ter expectativas não é um problema em si. Aliás,é parte da solução. Eu proponho que tenhamos grandes, enormes expectativas. Mas elas têm que vir num pacote completo: expectativas + projetos + métricas pessoais + avaliações periódicas para se medir o avanço. Expectativas só são um problema quando as transformamos em “falsas expectativas”, que são sonhos, fugas de realidade sem projeto, estruturadas como a única forma de ir vivendo, de buscar a felicidade pessoal, sem base real alguma.
Muita gente teme as mudanças com medo de ter que “recomeçar do zero”. Qual conselho o senhor daria a estas pessoas?
Mena Barreto – Conheço inúmeros profissionais top five que comeram o “pão que o diabo amassou”, passaram por grandes provações, caíram, levantaram-se e tornaram a cair. Mas exatamente por isso, por terem se exposto, por terem enfrentado provas duras na vida, desenvolveram o espírito de determinação, da superação pessoal. A diferença entre eles e a pessoa comum é que esta, ao enfrentar o primeiro revés, acredita que aquilo é seu “destino”, que deve baixar a cabeça, aceitar e seguir o “curso natural” da vida. Mas esse “curso natural” não existe na vida real. É uma peça de ficção. Portanto, não importa o que aconteceu até aqui, se você teve fracassos monumentais, se escolheu a profissão errada, ou cometeu um enorme erro estratégico. Você pode começar exatamente deste ponto e construir um novo final para sua história. Se não importa o que aconteceu até aqui, também não importa a sua idade: Roberto Marinho fundou a Rede Globo aos 60 anos de idade, em 1964; Sam Walton fundou o Walmart, em 1962, quando tinha 44 anos. E, aos 63 anos, Peter Drucker tinha escrito somente 1/3 de seus livros!