*Por José Ricardo de Bastos Martins
Os termos constantes do título desse artigo são comumente vistos juntos, e muitas vezes percebe-se a utilização de um quase que como sinônimo do outro. Isso está certo?
Vejamos. De acordo com o dicionário Michaelis, empreender significa realizar, por em execução. Já o termo inovar vem definido como o ato de produzir algo novo.
Percebe-se, assim, que são expressões de significado bastante distinto. Recente pesquisa lançada pelo Comitê de Empreendedorismo da ABRADI, atualmente em fase final de tabulação, revela que, também naquela base de associados, os dois termos aparecem frequentemente juntos, indicando a percepção de que é num ambiente favorável ao empreendedorismo (ou seja, que cria condições favoráveis ao desenvolvimento de novos projetos) que encontramos as condições ideais para o desenvolvimento de conceitos e produtos inovadores.
E, de fato, tudo isso parece fazer um enorme sentido. Isso porque, ainda que alguém possa empreender sem necessariamente inovar, não há como negar que uma grande parcela dos empreendedores de hoje adquiriu essa condição buscando colocar em prática uma ideia nova.
Inovar é, antes de mais nada, um exercício de fé (no sentido não religioso do termo), pois estamos diante de algo que ainda não foi testado e comprovado por ninguém. Porém, a crença de que aquilo vai dar certo supera a atmosfera de incertezas ao nosso redor.
O empreendedor, entretanto, deve ser capaz de unir o sangue nos olhos que vem atrelado a essa crença no novo a uma série de outras características bastante distintas para atingir seus objetivos.
Enquanto a inovação floresce normalmente dentro de ambientes marcados por uma ausência de padrões muito rígidos de disciplina, o empreendedorismo, por outro lado, não prosperará sem ela.
E aqui, talvez, possamos traçar uma importante diferença entre os dois conceitos, nos ajudando a compreender porque algumas ideias simplesmente geniais jamais conseguem sair do papel.
O inovador é um visionário, inconformado, por definição, como o “status quo”. O empreendedor é um obstinado. É possível unir as duas características num único individuo?
Certamente que sim, mas não é nada fácil.
Assim, é possível que muitas ideias geniais não alcancem êxito pelo simples fato de que seus criadores não se encontram aptos a coloca-las em prática. Desta forma, qualquer um que se proponha a contribuir para o desenvolvimento de projetos inovadores deve estar atento a essa diferença. É preciso batalhar para reduzir o “gap” existente entre esses dois momentos tão distintos: a criação e a execução.
Vale lembrar que simplesmente colocar dinheiro num projeto inovador está longe de ser suficiente. É preciso aportar conhecimento (ou “smart capital”, como preferem alguns) para garantir o seu sucesso.
O empreendedor não pode apenas entender do produto genial que está prestes a tentar lançar no mercado. Deve estar disposto a se debruçar sobre uma série de outras disciplinas (muitas delas, desprovidas do “glamour”que circunda o pensamento disruptivo que leva à inovação) como economia, marketing, finanças, gestão, etc.
Assim, toda atenção e cuidado é pouco; uma ideia genial será apenas mais uma ideia genial se não for implementada de maneira adequada. Tão importante quanto gerar nas pessoas o desejo por fazer algo novo, pensando fora da caixa, é a necessidade de provê-las de condições para adquirir conhecimento acerca de todas as disciplinas complementares que o permitirão transportar aquela ideia genial da prancheta ao mundo real.
José Ricardo de Bastos Martins é advogado, sócio coordenador da área de M&A do Peixoto & Cury Advogados e presidente do Comitê de Empreendedorismo da ABRADi.
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