Apoiar o desenvolvimento de projetos que não tem a chance de entrar no mainstream do mercado brasileiro, e ainda por cima feitos a partir de matérias-primas nacionais responsáveis são uns dos objetivos do Mineo. Assim como articular e estimular uma rede de fornecedores desses materiais, e abrir o processo de produção são outras metas do projeto.
“A ideia é permitir que a criação de produtos seja repensada e que eles cheguem ao mercado de maneira justa e a partir de um processo transparente. Criamos produtos responsáveis, pensados por muitas pessoas, e que levam em conta não apenas aspectos econômicos, funcionais e estéticos, mas também as questões ambientais e sociais. A ideia de todo um processo colaborativo e aberto possibilita que muitas outros projetos sejam viablizados”, explica uma das idealizadoras do projeto, a designer gaúcha Bárbara Wolff Dick.
O compósito de fibra de coco com poliuretano, desenvolvido pela empresa carioca Ecofibra, e o compósito de fibra de coco com polvilho, desenvolvido pela Ybá, são os primeiros materiais a serem trabalhados pela plataforma. Ambos fazem parte do catálogo de matérias-primas brasileiras da MateriaBrasil. “Uma grande quantidade de empresas e grupos no Brasil, formados por pessoas que pesquisam e desenvolvem materiais de forma responsável, muitas vezes não tem tempo ou não tem recursos para investir em desenvolvimento de produtos derivados de seus materiais. E esse é um dos nossos desafios!”, explica Thiago Maia, designer carioca sócio da MateriaBrasil.
As ideias iniciais depositadas no site são aprimoradas pela própria comunidade. Por meio dos comentários, qualquer um opina e mostra como determinado produto pode ser melhor desenvolvido. No final, o produto passará por uma fase de pré-venda no Catarse para viabilizar a sua produção, e depois poderá ser colocado a venda em lojas parceiras. Para inscrever um projeto é cobrada a tarifa simbólica de dez reais. O intuito da cobrança é evitar uma avalanche de ideias inacabadas e mensagens irrelevantes no site. O lucro do projeto é compartilhado proporcionalmente entre a plataforma, o proponente e a comunidade que participou.
Existem quatro etapas na criação de produtos responsáveis no Mineo.
- Na primeira etapa você inscreve a ideia (um projeto de produto) falando um pouco sobre o que ela trás de novidade, qual problema está resolvendo, e se já existem produtos em situações semelhantes. Além disso, como ela se encaixa na chamada criativa, ou seja, como o material proposto naquele período pode ser usado nesse contexto.
- Depois, na segunda etapa, a ideia é avaliada, comentada e votada pela comunidade.
- Caso a ideia seja popular, ela passará por uma avaliação da equipe para que seja aprovada pela equipe. É então produzido um protótipo pelo fornecedor do material, que é a terceira etapa.
- Se o protótipo criado for aprovado pelo nosso time e a comunidade apoiar, o conceito desenvolvido é transformado em produto. A ideia é produtizada, vendida, e os lucros são divididos entre todos que participaram do processo. O produto pode ser comercializado através do Catarse, ou de lojas parceiras, conforme cada caso.
Uma iniciativa coletiva
O Mineo (mineo.co) é uma realização de três empresas: a Engage (engage.is), incubadora de projetos de tecnologia para engajamento; a MateriaBrasil (materiabrasil.net), centro de inovação em design, sustentabilidade e consumo responsável, e o Catarse (catarse.me), plataforma de financiamento colaborativo de projetos criativos.
Contexto
Com as novas tecnologias a produção em massa deixa de ser algo acessível apenas para a grande indústria. Cunhada por especialistas como a terceira revolução industrial, o processo em curso subverte a lógica do mercado tradicional ao permitir que pessoas comuns tenham acesso à criação de produtos. A democratização desse processo é o pilar de uma série de empreendimentos no mundo, que seguem a lógica open source (de código aberto), inspirada na comunidade de desenvolvimento dos softwares livres. Nesse processo, a competitividade e a exclusividade dão lugar à colaboração e a co-criação. A inovação aberta é apontada como uma das principais tendências econômicas por Chris Anderson, um dos mais respeitados pensadores atuais, em seu novo livro “Makers, The New Industrial Revolution”.