Já notou como o assunto “games” tem aparecido cada vez mais frequentemente na sua vida? Não adianta se esconder, o videogame vai te (re)encontrar. Pra começar, esqueça o mito de que quem joga é só criança ou fracassado. Não é de agora que as coisas mudaram e por causa disso surgiu uma nova febre.
Hoje em dia não tem nada de errado em ser ~gente grande~ e dizer que gosta de jogar videogame. A indústria nerd está muito mais fortalecida, e mirando no público adulto também. Nesse meio, o YouTube tem sido tomado por vídeos ultralongos de gente jogando videogame e conversando, chamados gameplay. Peraí, você não sabe o que é isso? Vamos te explicar!
// ORIGEM
Os vídeos de gameplay não foram criados ontem e eles têm raízes quase mais antigas até do que o próprio YouTube. Tudo começou em 2006 num site de humor chamado Something Awful. Num tempo onde a internet ainda fazia barulhinho de modem pra muita gente, os caras faziam um negócio chamado Let’s Play: colocavam pequenos screenshots dos jogos e um texto comentando a experiência de jogar. Não era bem um review nem crítica, parecia muito mais um comentário que seu amigo faria.
Com o aumento da banda e barateamento de tecnologias de captação, o Let’s Play começou a evoluir para vídeos, que eram “uploadeados” no YouTube pra postar no fórum. (Aliás, nos EUA o nome do gameplay é let’s play, sabia?) No fim das contas, o volume de acesso interno do YouTube era muito maior do que o do fórum, e os jogadores começaram a postar apenas lá. Foi então que empresas viram potencial nisso pra ganhar e fazer dinheiro.
// POR QUE BOMBOU?
Existem várias razões que convergem pro boom do gameplay: a primeira delas é a evolução da tecnologia. Antes era muito difícil, senão impossível, subir uma imagem em HD ou um vídeo longo em boa qualidade. E assim como a internet do player não dava conta, a de quem estava interessado também não suportava receber tanto. Por isso com o aumento da banda larga (lá por 2010) as imagens se tornaram vídeos, que começaram a ficar cada vez mais longos (afinal, qualquer um que já jogou alguma vez na vida sabe que não dá pra ter o gostinho do jogo em apenas 5 minutos).
Junto com o avanço tecnológico da internet, veio o dos consoles e computadores também. Videogames mais complexos, com qualidade de imagem e som superiores começaram a surgir. Buscando lá na história dos consoles temos o primeiro videogame caseiro, o Odyssey, que não se compara nem ao joguinho mais bobo que você tem instalado no seu celular (por mais pré-histórico que ele seja!). Ok, isso foi nos anos 1970, mas de lá pra cá os jogos deram um salto enorme de processamento, imagem, som e até mesmo em roteiro. Com o tempo, eles também conseguiram seu espaço e migraram pros computadores, onde é muito mais fácil fazer a captação de tela.
Outra razão pela qual o gameplay se tornou uma febre: nerd is the new sexy. Pode parecer bobagem, mas a afirmação do orgulho nerd tem muito a ver com a expansão de vários gêneros cinematográficos, literários e , claro, youtúbicos. A consolidação do videogame como arte também está relacionada, o que é possível observar com o aumento do interesse do grande público por filmes inspirados em jogos (e vice-versa) e material extra, como sites, feiras, cursos e empresas de games.
Isso tudo porque quem era nerd antes, agora cresceu e é formador de opinião. As gerações atuais prestam atenção em ícones empresariais nerds, como Bill Gates e Mark Zuckerberg. E como o gosto por coisas nerds é passado de geração em geração, a tendência é o videogame também continuar em alta. Ainda mais porque a indústria enxergou o potencial econômico desse nicho e se voltou pro público mais experiente. Os jogos têm experimentado linguagens mais adultas e temáticas mais realistas pra atrair essa galera que já cresceu, mas ainda ama jogar. No Brasil então, o investimento está sendo pesado. Várias empresas de games agora têm escritórios aqui e fazem estudos do mercado nacional. A pirataria continua sendo uma grande preocupação, mas ela também não é 100% vilã: é por causa dela que temos uma penetração tão grande do videogame nas diferentes classes sociais.
// QUEM ASSISTE?
O público dos canais de gameplay são, em sua maioria, homens de 13 a 25 anos. O problema dessa estatística é que nas redes a idade mínima pra se cadastrar é 13 anos, então em eventos dá pra ver como brasileiro adora dar jeitinho: tem gente a partir de 9, 10 anos indo falar com os gamers, comentando sobre o trabalho deles, pedindo autógrafo e foto.
Mas o mais importante sobre a audiência é: o que eles querem ver? Tem gente que entra pra aprender a passar de alguma etapa difícil, conhecer cheats, mas também tem gente que assiste pra ver como é o jogo antes de comprar (pra ver se vale a pena), gente que assiste pra saber de outras coisas além do jogo, como um vlog mesmo… Cada player tem seu apelo e o público fica fiel ao estilo. O jeito de jogar mudou: vinte anos atrás, o objetivo não era necessariamente fechar um jogo rapidamente. Agora, como tem muitos jogos, o pessoal quer terminar logo e já começar o próximo. Ou então quer zerar todo e qualquer achievement, e por isso olha os cheats pra encontrar brechas ou ítens que passaram batido.
O ápice de buscas no Google por “gameplay” acontece em novembro e junho. O motivo? Em novembro acontecem os lançamentos de jogos, junto com as vendas de natal. Já em junho, rola uma liquidação anual, porque nos países do hemisfério norte começam as férias de verão. Isso afeta o lado de cá porque os gamers têm uma alternativa nova à pirataria: compra online. Várias lojas americanas vendem jogos pra cá a preço de lá, sem imposto brasileiro. Com isso, o índice de downloads ilegais diminuiu bastante, apesar de ainda existir muito.
// A ANATOMIA DE UM GAMEPLAY
Se você nunca parou pra assistir a um vídeo de gameplay, nós vamos te explicar como funciona. A maioria dos canais tem só captação de tela, sem câmera voltada pro gamer. A imagem é do jogo, o áudio fica baixinho e a voz do vlogueiro entra em cima, comentando o que rola. No mundo do gameplay, quanto mais longo o vídeo, melhor. Pode parecer estranho, porque a gente sempre ouve que um vídeo com mais de 5 minutos tende a não ser assistido até o fim, mas pros gamers é o oposto.
Os jogos mais jogados pelos players são: Minecraft (um dos jogos hype mais leves, dá pra jogar em quase qualquer PC), Battlefield 3 e Call of Duty: MW3. Mas calma, se você é nintendista, tem lugar pra você também. Além de alguns vlogueiros fazerem vídeo de jogos da Nintendo, tem outros que apostam na nostalgia: comentam jogos pra consoles antigos, só pelo gosto da saudade.
Além dos vídeos de gameplay, tem também as livestreams. Elas são muito comuns entre gamers, especialmente quando há convidados. A visualização ao vivo tem números impressionantes e, como fica gravado, ela continua tendo views no YouTube. Ah, te contei que ela também é monetizável?
// E DÁ DINHEIRO ESSE TROÇO?
Se não desse, não tinha tanta gente investindo tempo nisso, né bróder? Os maiores gamers brasileiros têm mais de 300.000 inscritos e postam vídeos novos todo dia. Pra tirar dinheiro disso, existem várias redes dentro do YouTube que são especializadas em negociar diretamente com agências e colocar anúncios mais específicos dentro dos vídeos. Sabe o Google AdSense que rola no YouTube? É mais ou menos a mesma coisa, mas a diferença é que eles pagam melhor por visualização e também as redes especializadas em games conseguem negociar os direitos de uso do jogo. Assim, o vídeo não sai do ar e o vlogueiro ainda consegue monetizá-lo.
A maior rede de gamers é a norte-americana Machinima. Pra ser parceiro, tem uns caras que se inscrevem enviando um pedido ou são convidados. O valor que eles pagam não é divulgado (afinal, pode variar conforme negociação mano a mano), mas é sabido que é melhor do que o AdSense do Google. Isso sem falar no apoio que se recebe dos “colegas de profissão”: os parceiros são muito unidos e divulgam o canal um do outro.
Se você ficou curioso, separamos aqui alguns vídeos pra você ter um gostinho de como são os gameplays brasileiros:
Agradecimentos: Pablo Miyazawa, André Forastieri, Matheus Castro, Eduardo Benvenuti (@BRKsEdu), VenomExtreme, Denis Snider e Cauê Moura