Há 65 anos, o Departamento de Defesa dos EUA lançaram um míssil nuclear em Nevada, como viriam a fazer outras centenas de vezes. Mas nesta, quatro caras e um cinegrafista estavam bem embaixo da gigantesca explosão nuclear. Por quê?
O Departamento de Defesa, como explica a NPR, queria mostrar que a guerra nuclear era segura e que uma detonação atômica não era tão perigosa quanto ver o nascer do sol ou olhar para um amontoado de cachorrinhos. Então esses pobres caras foram convocados para servir cobaias para a propaganda pública, sujeitados a um experimento com consequências muito mais caras do que o salário que eles ganhavam.
O vídeo acima mostra que o teste e, talvez, o momento mais surreal de toda a Era Atômica. Os cinco homens ficam parados, juntos, como se fosse calouros levando um jato de água como parte de um trote sem graça enquanto protegem seus olhos do Sol. Um deles usava óculos escuros. Enquanto isso, o narrador do Departamento de Defesa, esbanjando aquela empolgação nuclear, grita extasiado enquanto assiste a ogiva ser disparada do prateado F-89 e pairar no ar. De repente o céu é queimado por um cogumelo vermelho de fogo infernal e o narrador chega ao clímax da transmissão: “Está exatamente em cima das nossas cabeças! AH HAHA! Bom, bom! Tem uma bola de fogo imensa!” Sua alegria sobrepõe o terror da bomba nuclear. Os homens então se cumprimentam e concordam que o show inteiro foi “emocionante”.
Todos eles morreram de câncer? É difícil dizer, mas a NPR fez o possível para descobrir:
Coronel Sidney C. Bruce: morreu em 2005 (86 anos)
Tenente Coronel Frank P. Ball: morreu em 2003 (83 anos)
Major John Hughes (nome muito comum, mas imagino que seja o Major John Hughes II (nascido em 1919, como o de cima): morreu em 1990 (71 anos)
Major Norman Bodinger: não se sabe (não está listado no banco de dados), pode ainda estar vivo?
Don Lutrel: acredito que seja um erro de digitação de “Luttrell”. Existe um Donald D. Luttrell no banco de dados DVA, um cabo do exército dos EUA, nascido em 1942, morto em 1987 (63 anos). É uma possibilidade.
Era uma ogiva de baixo rendimento e que explodiu muito alto, e claro que o Pentágono jamais admitiria que esses homens morreram por exposição à radiação a que foram expostos pelo próprio Pentágono — mas o registro de um teste do tipo com espectadores tão próximos é forte e digno de nota. É possível que esses homens tenham morrido em decorrência do que viram 65 anos atrás, e é possível que eles não tenham. O que é certo, porém, é que o governo dos EUA pagou centenas de milhões de dólares no século XX a vítimas do programa de testes nucleares. O vídeo mostra apenas e tão somente cinco homens.
Os Estados Unidos interromperam os testes com bombas atômicas em 1992, mas só podemos torcer para que o entusiasmo medonho por explosões nucleares tenha morrido cedo — e que assim permaneça. [NPR]