Quando o telefone de Vera Lúcia tocou na noite do último dia 27 de janeiro e o DDD apontava que a ligação vinha de Manaus, ela sabia que, naquele momento, se fechavam simultaneamente sua grande busca e sua maior cicatriz. Depois de 30 anos procurando a filha mais velha via todos os meios de comunicação possíveis, foi graças ao Facebook (olha isso Mark!) que Vera achou, no começo deste ano, Cristiane Melo Correa.
A história desse reencontro é, em vários aspectos, semelhante a tantos outros entre parentes separados que volta e meia surgem com o adicional da trilha sonora de piano ao fundo e close da câmera de TV nas lágrimas de todos os envolvidos. O curioso é que, neste caso, as redes sociais tiveram um papel fundamental e até mesmo irônico no processo.
A trama começa em 1983, quando Vera Lúcia se divorcia do marido e sua filha de 7 anos, Cristiane, vai morar com o pai, tudo de comum acordo. O problema é que, depois disso, o pai da menina decidiu sumir do mapa, não deu mais notícias e, para piorar a situação, trocou o sobrenome da filha. Começava aí a saga de Vera, que mora em Indaiatuba, interior de São Paulo, em ligar para vários programas de rádio relatando seu drama.
Depois de mais de 20 anos sem qualquer pista sobre a menina, os outros filhos de Vera introduziram a mãe ao Orkut e lá ela começou a procurar pela filha novamente. Com o nome trocado, a busca por Cristiane terminava sempre em lugar nenhum. Veio então o Facebook e Vera, ciente apenas que o pai havia levado a menina para Salvador, começou a adicionar aleatoriamente várias pessoas da cidade em sua lista de amigos. “Tivemos que provar ao Facebook que nossa mãe existia mesmo porque como ela ia adicionando todo mundo, eles bloqueavam a conta dela várias vezes“, explica Junior Rodrigues, um dos filhos de Vera (e o rapaz no meio da foto acima), em conversa com o youPIX.
Mas o stalkeamento do bem não foi em vão. No começo do ano, Vera achou uma das irmãs de seu ex-marido, tentou adicioná-la como amiga, mas não houve resposta. Contou o fato a uma de suas filhas que, depois de um rastreamento básico, achou o filho dessa cunhada (e, portanto, seu primo), e ele entrou em contato afirmando que conhecia sim uma Cristiane, que era sua prima e morava em Manaus.
Cristiane, por sua vez, estava lá do outro lado fazendo a mesma coisa: procurando a mãe que, segundo seu pai, havia se mudado para Pernambuco, o que nunca aconteceu. Quando soube que um primo seu havia falado com uma suposta irmã sua, ela correu atrás do contato da família e achou o número de telefone de Vera.
Após 30 anos sem qualquer tipo de contato, a conversa que começou no dia 27 de janeiro se prolongou noite adentro (se falaram pelo Skype até as 4h da manhã) e a surpresa maior aconteceu quando, durante o último Carnaval, Cristiane resolver fazer uma visita à mãe em Indaiatuba. Não precisa dizer que a cena foi digna de câmera lenta, lágrimas e a tal trilha musical no pianinho.
“Depois de todo esse tempo, parece que eu nunca saí de perto dela e ela nunca saiu de perto de mim”, resume Vera. Efusiva e emocionada em nossa conversa, ela diz que fala agora todos os dias com a filha tanto via Facebook quanto pelo Skype. Ponto para a rede mundial de computadores e suas ferramentas sociais.