Cerca de um ano depois de a Mozilla anunciar que estava desenvolvendo um sistema operacional móvel, ele parece estar mais próximo de nós – e eu consegui testá-lo por alguns minutos. Mas, apesar de promissor, algo está claro: ele não está pronto.
O Brasil será o primeiro país a receber aparelhos com Firefox OS e a previsão é o segundo semestre deste ano. Ele promete ser barato e o valor de US$ 100 que ouvimos ontem vai ser usado como referência para a definição do preço dele pelo mundo (isso no aparelho básico).
Mas já falamos bastante dele aqui e aqui. Falemos agora de como é usar o sistema da raposa. Antes de mais nada, é bom ressaltar que usei um aparelho voltado para desenvolvedores, desenvolvido pela espanhola GeeksPhone, com uma versão do sistema voltada para desenvolvedores. Ainda há muito o que ser feito antes do lançamento – como vocês verão ao fim do post, ele travou na minha mão e simplesmente não voltou a funcionar antes de ter a bateria retirada. Outro detalhe é que durante todo o tempo que fiquei com o aparelho nas mãos tive que usá-lo com um adesivo na frente da tela, e isso prejudicou a navegação, já que a tela não respondia perfeitamente aos toques.
O aparelho tinha poucos botões – três na lateral esquerda, sendo dois para controle de volume e um para ligar/desligar e bloquear/desbloquear. Na parte de cima entra o fone de ouvido, e na direita é a porta micro USB para carregar o aparelho. Abaixo da tela um botão luminoso para voltar durante a navegação. É exatamente o mesmo aparelho mostrado na semana passada pela Mozilla e com uma configuração bem modesta – processador de 1 GHz, 512MB de RAM, 4GB de armazenamento interno, câmera de 3 megapixels, entrada para cartão microSD. Ele foi desenvolvido pela GeeksPhone que confirmou o interesse em lançar smartphones no mercado brasileiro – então pode ser que esse não saia, mas aparelhos parecidos podem ser lançados.
Ao apertar um dos botões laterais, a tela acende. Para desbloqueá-la, basta arrastar uma aba na parte de baixo que dá duas opções: unlock e atalho para a câmera. Como o aparelho testado não tinha nenhum cartão microSD, entrar na câmera não era possível (ele pedia para inserir um cartão de memória).
Desbloqueando a tela, chegamos à home do Firefox OS, que conta com um relógio. Uma faixa no canto inferior da tela tem atalho para alguns apps – no que testamos, os apps eram o telefone, mensagens, contatos, o Firefox e uma espécie de hub com recomendações para o usuário ilustrada por um joinha. Acredito que seja possível personalizar esses atalhos – aliás, não acredito, tenho certeza, já que a Mozilla diz que a interface dele é totalmente personalizável.
Deslize o dedo para a direita para encontrar um outro hub que organiza os apps de acordo com a função deles – os para ouvir música são agrupados, os para ver vídeos também, os jogos, os sociais e assim vai. Deslize de cima para baixo e encontre a tela de notificações, com atalhos para Wi-Fi, 3G, modo avião e as configurações gerais do sistema. Deslizando o dedo para o lado esquerdo surgem mais duas telas que mostram os apps instalados em grade. A interface é bem limpa e a mudança das telas é bem suave – em nenhum momento durante o teste o sistema deu uma engasgada para ir para outra tela.
Abrir um app também não parece ser problemático. O navegador é o Firefox idêntico à versão de Android. O teclado virtual não é muito diferente do encontrado em outros aparelhos. Há um app para ajudar a controlar os gastos dos seus planos de dados – vale lembrar que o foco da Mozilla por aqui vai ser o público das classes C, D e E que normalmente possuem contas pré-pagas, e nesse caso é bem importante ter controle do que você gasta de internet no aparelho.
Em um dos testes que fiz, entrei rapidamente no app de mensagens e poucos segundos depois decidi fechá-lo (basta pressionar a bola luminosa no canto inferior da tela). A janela não se fechou completamente – ela ficou ocupando uma parte da tela com a grade de apps ao fundo. Por um momento pensei ter sem querer encontrado um modo multitarefa para visualizar todos os apps abertos e mudar rapidamente de um para o outro, mas percebi depois que não era bem assim. Ele tinha travado. Completamente. Nada funcionava. Nenhum botão. Não desligava. Foi necessário tirar a bateria e colocar novamente para o aparelho voltar a ter vida. Foi bastante constrangedor.
Esse travamento mostra que ainda há o que ser feito antes da Mozilla colocar o Firefox OS no mercado. Ele não está tão cru como estava há alguns meses, mas não está pronto. Mas, para ser justo com o Firefox OS, o sistema que eu usei era um beta para desenvolvedores – e são eles que devem ajudar a melhorá-lo até seu lançamento final.
O Firefox OS segue como um sistema promissor para aparelhos de entrada (ou o conceito de “meu primeiro smartphone”), mas ser promissor não é o suficiente, ele precisa fucionar bem. Se a ideia é que ele seja uma alternativa aos Android low-end, parece que ele está no caminho certo, mas ainda longe do destino. Para um sistema que inicialmente prometia chegar no início de 2013, é melhor esperarmos com muita paciência sua chegada no segundo semestre do ano — e, esperamos, com um sistema mais coeso e pronto para o mercado.