por Raquel Rezende
No Brasil existem cerca de 1 mil fontes de recursos, entre nacionais e estrangeiras, dispostas a liberar dinheiro não reembolsável, em caráter definitivo e livre de ônus para empresas investirem em projetos culturais, esportivos e de meio ambiente. Essa informação relatada de forma mais completa, a lista das principais leis e as dicas de como fazer para conquistar um edital estão no livro Fontes de recursos nacionais e internacionais, do fundador e diretor-presidente do Instituto Movimento Pró-Projetos (In-Pró), Márcio Godoy.
Godoy destaca que essas fontes de recursos podem e devem ser utilizadas com mais frequência pelas empresas. Para ele, essa é uma forma de captar recursos que trazem inúmeros benefícios, entre eles acesso ao capital, redução de custos, capacidade de inovação e melhora dos resultados institucionais e mercadológicos de uma empresa. Ofundador do In-Pró enfatiza também que a elaboração de qualquer projeto começa, geralmente, da mesma maneira: uma ideia que precisa ser trabalhada e para isso é preciso ter persistência e determinação.
Através do conceito de “shopping de serviços” – criado pelo In-Pró, que desde 1997 atua em Florianópolis e, mais recentemente, abriu uma filial no Rio Grande do Sul – é possível obter consultoria com a intenção de melhorar o aproveitamento das fontes de recursos ou fundos de investimentos vigentes no Brasil e exterior. Gestão de patrocínio, desenvolvimento de projetos focado conforme a demanda do mercado, avaliação da viabilidade de projetos, formatação do plano nos padrões de cada legislação e acompanhamento até aprovação final junto ao órgão competente integram alguns dos serviços ofertados pelo In-Pró.
Na entrevista a seguir, Godoy explica mais sobre todo o processo necessário para ter sucesso na busca de uma fonte de recurso para um projeto.
Boa parte dos empreendedores reclama que a parte mais difícil de concretizar um negócio é conseguir recursos financeiros. Isso porque a maioria busca alcançá-los através, principalmente, dos bancos. Épossível, então, ter acesso a outras fontes de recursos?
Márcio Godoy – Existem formas de conseguir dinheiro sem se endividar, através de um aporte de capital, por exemplo. E para alcançá-lo, a empresa deve ter um plano de negócio e, além disso, tem que desenvolver um plano de negócio específico para o produto ou serviço para o qual deseja receber o aporte de recursos. Após esses dois planos bem definidos é possível apresentá-los para investidores. É preciso ter em mente que o investidor é frio, ele quer saber se a ideia terá retorno. Por isso, a importância do plano de negócios ser bem-feito, pois servirá, para entre outros propósitos, enxergar o negócio a longo prazo. Assim o investidor pode avaliar melhor e apostar na ideia. Quem investe não quer um bem material do empreendedor; ao contrário, ele vai colocar dinheiro no negócio. É bem diferente de ir até um banco, contratar um empréstimo e se endividar. Obviamente que ir a um banco e pedir crédito é muito mais cômodo do que elaborar os planos de negócio e tentar conseguir aporte que exigirá dois a três anos de trabalho.
Quais os primeiros passos para se chegar até esses recursos?
Márcio Godoy – Elaborar com muita dedicação os planos de negócio da empresa e do produto ou serviço. Pois são esses documentos que vão transmitir transparência e credibilidade para o futuro investidor aplicar ou não recursos na sua empresa. Com o plano de negócio bem definido, a empresa fica preparada para expandir através de franquias. Além disso, o plano de negócios também tem a função de fazer o empreen dedor refletir sobre a própria empresa e, consequentemente, trabalhar a marca.
Quais são os pré-requisitos exigidos pelas fontes dos recursos nacionais e estrangeiros aos empreendedores?
Márcio Godoy – Depende muito do segmento em que a empresa atua. E cada uma das fontes tem seus critérios próprios. No site do Instituto Movimento Pró-Projetos (http://institutomovimento.com.br) há uma opção na seção “Serviços” destinada a avaliar se o projeto é viável e quais principais fontes potencialmente poderiam liberar recursos. Então, o candidato a receber recursos para seu projeto pode cadastrá-lo no site. Depois de uma avaliação, direcionamos para quem o empreendedor vai apresentá-lo, ou seja, em qual lei o projeto poderá ser encaixado. E a partir daí é atender a burocracia.
Há uma lei norte-americana que diz que as empresas que pagam impostos nos Estados Unidos podem reverter 10% das verbas para projetos no Brasil. Essa verba se destina a que tipos de projeto e como os brasileiros podem tirar melhor proveito desta oportunidade?
Márcio Godoy – É uma lei do imposto de renda americano que dá isenção total do valor doado até o limite de 10% do IR devido ao Tesouro Americano para empresas com operações no Brasil e Estados Unidos. Para os recursos serem liberados, os projetos brasileiros devem ser de responsabilidade social. A empresa ou o microempresário interessado deve se cadastrar no seguinte órgão americano: Internal Revenue Service (IRS). A fonte de recursos vem da Lei Americana de Caridade, nº 501.
Há outras leis parecidas, em outros países, que poderiam beneficiar projetos brasileiros?
Márcio Godoy – Existem cerca de 1 mil fontes de recursos que distribuem dinheiro no Brasil. No Reino Unido, esse número sobe para 8 mil e nos Estados Unidos há cerca de 30 mil fontes que precisam distribuir capital. Então, a maioria dos países tem recursos para destinar a bons projetos. É importante observar que esses projetos devem respeitar os critérios e padrões mundiais. Por isso, aconselho a todo aspirante em elaborar projetos, primeiramente, verificar a representatividade e pertinência social, cultural e/ou ambiental da ideia; a sustentabilidade econômica, social e ambiental; se o plano a ser apresentado pode reduzir o êxodo rural, por exemplo. No projeto deve ter a explicação sobre como será a capacidade técnica-operativa de sua execução; as alianças estratégicas com os órgãos públicos e outras instituições que atuam no município ou região; explicitar a contrapartida local, seja na área financeira, de serviços ou produtos, destacar como será a participação da comunidade e mostrar o potencial de reaplicabilidade do projeto.
Que área está mais carente de bons projetos atualmente?
Márcio Godoy – O Congresso Internacional de Captação de Recursos (IFC) – que é uma conferência líder em educação, treinamento, captação e mobilização de recursos – atrai todo ano cerca de 900 participantes de 55 países para justamente definir qual área será favorecida para direcionar a distribuição de recursos no próximo ano. Ficar atento ao evento é uma maneira de descobrir o foco mais adequado na elaboração de projetos que as instituições estarão interessadas.
Qual o segredo para um bom projeto ou ideia ser aprovada?
Márcio Godoy – Basicamente seria cumprir todos os critérios exigidos pelas fontes financiadoras. Claro, depois de passar pelas etapas de elaborar excelentes planos de negócio da empresa, do produto ou serviço que se pretende captar os recursos.
Quantos livros sobre o assunto o senhor já publicou?
Márcio Godoy – Meu primeiro livro sobre o assunto foi A indústria do patrocínio, lançado em 2007 pela Editora Empreendedor. Em 2009, aconteceu a publicação do segundo livro “103 dicas: o que toda empresa precisa saber para utilizar incentivos fiscais”, lançado pela editora DCL e escrito por mim, Karina Ruffo e Kátia Seadi. Este livro, mais tarde, foi publicado na versão em inglês, pois a participação em eventos internacionais exigiu isso. E a mais nova publicação “Fontes de recursos nacionais e internacionais” aconteceu agora no começo de 2013.