X

Busque em mais de 20.000 artigos de nosso acervo.

Novidades pela net

“Invencível”: Filme dirigido por Angelina Jolie é falho, mas merece elogios


Unbroken

[AVISO: Contém spoilers menores]

Há vários elementos a se elogiar em “Invencível”, segundo longa-metragem dirigido por Angelina Jolie, indicado em três categorias (fotografia, mixagem e edição de som) no Oscar. O filme, porém, revela uma cineasta ainda em processo de formação, com certos vícios e manias que o desviam do propósito geral de construir um melodrama que honre a história e a memória de Louie Zamperini (Jack O’Connell), atleta norte-americano capturado por japoneses após um acidente de avião durante a Segunda Guerra Mundial.

O primeiro ato, além de apresentar seu protagonista como uma figura forte, leal e determinada, situa a trama historicamente através de menções pontuais – à cantora e compositora Hellen Miller e ao corredor Jesse Owens, por exemplo. Nota-se certo preciosismo do roteiro (escrito a oito mãos, com base no trabalho de Joel e Ethan Coen e amparado no best-seller de Laura Hillenbrand), que por vezes se prende a essa recriação temporal e, talvez por isso, hesita em mergulhar em seus fatores mais promissores: um certo componente religioso e a tentativa de expropriação da humanidade de seus personagens centrais em época de conflito.

O filme revela uma cineasta ainda em processo de formação, com certos vícios e manias que o desviam do propósito geral de construir um melodrama que honre a história

A ideia de divindade é uma constante que se manifesta sobretudo nos espaços de transição da trama, em seus pontos de virada, sobretudo em planos plongée filmados com enorme qualidade por Roger Deakins. Somam-se às citações mais evidentes, como as preces feitas instantes antes do primeiro acidente e a promessa de entrega a Deus no caso de sobrevivência, alguns bons sinais visuais dessa evocação religiosa: a chuva que cai do céu e abençoa Louie, Phil (Domhnall Gleeson) e Mac (Finn Wittrock) após semanas à deriva no oceano e a cena em que o protagonista carrega sua cruz, que não por acaso estampa o material de divulgação do filme, já nos instantes finais de projeção. Mais indiretamente, a descida ao inferno quando o grupo de aliados é enviado ao segundo campo de concentração e a passagem pelo corredor da morte, tendo a luz ao fim do túnel, também compõem bem esse traço espiritual da narrativa.

Angelina Jolie no set

Angelina Jolie no set

Unbroken

O trabalho do diretor de fotografia é ainda fundamental para a construção de Zamperini (além da interpretação de O’Connell, antes ótimo em “‘71” e elogiado por “Starred Up”) como um personagem único, digno de um retrato tão intenso e carregado de emoção. São não apenas esteticamente bonitos os planos em que o rapaz emerge à superfície, se depara com o navio inimigo e observa a destruição e o incêndio causados pelos bombardeios de seu próprio país, mas também carregados de sensibilidade e presença de significado de que carecem outros segmentos do filme.

Jolie e seu seus montadores apostam na tese de que o tempo no mar é tão importante como aspecto definidor quanto o período em terra firme. O equívoco, porém, é a preocupação excessiva com a produção de um suspense que só serve a distrações bobas, tais como a queda de uma bandagem cheia de sangue na água, prenúncio de um ataque de tubarões que mais atrapalha o ritmo da narrativa do que o intensifica.

Em termos de condução, “Invencível” também sofre pelo recurso a flashbacks em momentos-chave. O recorte temporal – o período em que Louie ficou condenado à própria sorte no Pacífico – parece acertado, mas os paralelos traçados entre a brutalidade da guerra e as competições de atletismo jamais soam naturais. A crítica vale tanto para o instante mais óbvio, quando o jovem teme pela própria vida e o espectador é conduzido abruptamente ao seu recorde olímpico, quanto pelas lembranças mais dispersas, como o apoio dos companheiros frente à humilhação e às provações sofridas por ele, similar aos gritos ouvidos das arquibancadas do Estádio Olímpico de Berlim, nas provas de 1936.

Unbroken

Em termos de condução, “Invencível” também sofre pelo recurso a flashbacks em momentos-chave

Se o filme tem relativo sucesso ao emular o fim de uma prova de fundo, intensificando seu ritmo no fim, o processo que conduz a este desfecho não é tão regular. Isso se deve principalmente à presença de um antagonista tão estereotipado, Watanabe (Takamasa Ishihara), que aposta unicamente no overacting para causar impacto em cena.

Até mesmo algumas rimas existentes no roteiro (“Tenho uma notícia boa e uma notícia ruim” é frase que surge em dois pontos distintos e igualmente importantes) são enfraquecidas pela interação entre vilão e protagonista, sintoma de uma cineasta menos compreensiva – de certo modo, até menos madura – do que sua estreia na direção de ficção, “Na Terra do Amor e do Ódio”, retratando um capítulo particular da Guerra da Bósnia, parecia indicar.

O apego à figura de Louie transforma tanto os japoneses, por quem ele nutria admiração, quanto seus colegas aliados, que caminharam ao seu lado no conflito, em figuras sem rosto, absolutamente rasas e desprovidas de qualquer impacto emocional – exceção feita a Phil, presente em uma das sequências mais interessantes, quando tudo o que se vê é a reação do colega à sua agressão, não o fato em si, recurso já utilizado, guardadas as devidas proporções, por nomes como Werner Herzog, em “O Homem Urso”.

Unbroken

O último ato redime o filme de alguns de seus problemas, com um olhar contemplativo e de admiração de Jolie pelo seu protagonista

Deste modo, se há uma discussão sobre humanidade no filme, ela é curiosamente promovida pela relação dos personagens com a natureza, pelo contraste entre a implacabilidade do mar e a crueldade consciente dos homens. É uma pena, porém, que Jolie carregue demais no tom e o longa invista tanto em uma trilha automática e excessivamente manipulativa, composta pelo usualmente competente Alexander Desplat, capaz de quase apagar a serenidade de uma história contada por Louie no bote e a posterior morte de um de seus companheiros.

O último ato, porém, resgata esse debate com habilidade e redime o filme de alguns desses problemas, muito embora o epílogo produza um discurso bastante carregado, um tom acima do restante da produção. O contato dos aliados prisioneiros com a destruição provocada pelos seus próprios exércitos, a reação de um deles ao anúncio da morte do presidente Franklin Delano Roosevelt e a sequência de sobreposições de imagens de Louie caído são capazes de promover a almejada humanidade da história, reorganizando as peças que, anteriormente, a haviam erguido de maneira inconstante.

A trajetória pessoal ganha força e finalmente dá vazão, mais do que a uma preocupação errática com a contextualização histórica ou a distrações desnecessárias, ao olhar contemplativo e de admiração de Jolie pelo seu protagonista – e seu intento, mesmo que parcialmente completo e cercado por fatores problemáticos, revela-se verdadeiramente merecedor dessa série de elogios.

cfaaa b feedPost originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Facebook | Contato | Anuncie

cfaaa brainstorm d qjIDKrITs

cfaaa RNWinjk Le

Via RSS de Brainstorm #9

Leia em Brainstorm #9

Comente este artigo

Populares

Topo
http://enterslots.epizy.com/ http://cair138.epizy.com/ http://sido247.epizy.com/ http://omega89.epizy.com/ http://merdeka138.epizy.com/ 7meter slot 7winbet abcslot https://obor138.web.fc2.com/ https://monsterbola.web.fc2.com/ https://daget77slot.web.fc2.com/ star77 138 slot istana77 mega138 cuan138 nuke gaming slot grandbet infini88 pg slot baccarat casino idn live idn poker sbobet tangkas88 slot sbobet88 slot deposit dana joker123 autowin88 zeus138 dewagg roma77 77lucks bos88 ligadewa sonic77 168 slot