Prática muito comum quando as famílias são numerosas e menos favorecidas economicamente, o “puxadinho” estica as habitações à medida que a família cresce. Para quem nunca viu um “puxadinho”, são pequenas construções que vão sendo feitas num mesmo terreno, muitas vezes anexas à construção principal, normalmente em etapas, constroem um quarto, mais tarde uma sala para colocar a mesa de jantar, depois quando é preciso crescem outro tanto para outro lado e assim vão ocupando os espaços disponíveis.
A construção pode não ficar uma maravilha, mas pelo menos dá um teto com mais conforto a quem precisa. Prática plenamente aceitável para quem não tem opção. Mas e quando se tem opção, por que o improviso desordenado se alastra? E quando o teto do “puxadinho” não é para morar, mas para abrigar uma loja?
Decidi escrever este artigo porque recentemente fomos contratados para reformar uma “Puxadinho Store”, cuja expansão foi feita similarmente à descrição acima. Muitos podem estar pensando se tratar de uma pequena loja numa comunidade de baixa renda; então, deixem-me explicar que a loja em questão ocupa um terreno de 5 mil metros quadrados numa das avenidas principais de sua cidade.
Talvez agora que você, leitor, visualizou o porte do empreendimento, adicionado à informação de que o mesmo faz parte de uma rede de lojas, fica mais fácil de entender que o problema não foi falta de recursos financeiros, pois o valor investido desde a compra do terreno até a execução desordenada do edifício somam uma cifra considerável.
Nada mais óbvio do que dizer que é necessário planejar as lojas para que elas cumpram suas funções operacionais e encantem seus clientes. Na teoria todos sabemos disso, mas na prática por que muitos não o fazem?
Minha convivência diária mostra que a pressão constante por resultados imediatos que os dirigentes varejistas enfrentam acaba por incutir em suas mentes que têm que agir o tempo todo. Projetar uma loja por completo para só depois executar, gera uma certa agonia como se “nada estivesse sendo feito”. Então, alguns saem fazendo, puxando a construção, esticando gôndolas e remendando o que podem. O resultado é uma colcha de retalhos tortos, o que não é positivo para a imagem da loja e do empreendimento.
Alguns dirigentes também pensam estar economizando o valor do projeto e não percebem que a ausência de um planejamento feito por pessoas não especializadas em varejo vai gerar um resultado deficitário proporcionalmente ao dinheiro investido, ou seja, projeto bom não é custo e sim investimento porque este dinheiro retornará à operação.
Sempre digo que precisamos pensar no todo para executar em partes. Temos que pensar o que a loja se propõe e o que fará o cliente escolher aquela loja específica e não qualquer outra da concorrência. Temos que enxergar que não se trata apenas de levantar paredes, cobrir com um teto e colocar algumas prateleiras que servirão para acondicionar os produtos. Há de se pensar que consertar o improviso será gastar duas vezes, ainda correndo o risco de não ficar bom.
Infelizmente é o que acontecerá com o nosso cliente da “Puxadinho Store” – ele terá que reinvestir para que possamos projetar uma cuidadosa reforma de sua loja. Dessa forma, não perderá mais clientes para a concorrência e poderá continuar agregando valor aos shoppers que a privilegiam.
É preciso que as ações de hoje deixem a loja em condições para ter um crescimento sustentado nos próximos anos. Fica aqui uma reflexão para nós que dirigimos empresas: qual seria o custo do improviso em nossos balanços se pudéssemos apontar com exatidão os gastos não só com as readequações necessárias depois dos “puxadinhos”, mas também os prejuízos para a operação e para a marca? Pense nisso cada vez que você achar que contratar um profissional especializado é caro e esteja caindo na tentação de achar que pode “dar um jeitinho”!
Kátia Bello é arquiteta, especialista em comunicação estratégica de varejo e sócia-diretora da Opus [email protected]