Ao combinar big data e ciência genômica, cientistas da Faculdade de Medicina Weill Cornel criaram um mapa dos germes e bactérias encontrados nas estações e trens do metrô da cidade de Nova York, o PathoMap. De acordo com o Dr. Christopher Mason, pesquisador geneticista lider do projeto, nenhuma estação é igual a outra e o projeto já identificou de vestígios da peste bubônica a bactérias antes encontradas apenas na Antártida. “É como estudar um novo continente que nunca foi explorado antes”, diz.
O projeto teve início há 18 meses, durante o verão americano de 2013 é o primeiro perfil genômico de um sistema de trânsito no mundo e, de alguma maneira, “é um espelho de quem usa o metrô”, afirma o Dr. Mason. Os 5,5 milhões de usuários diários do metrô de Nova York espalham dentro dele as bactérias da comida que consomem, dos animais e plantas que mantêm em casa, dos sapatos, espirros e das mãos não lavadas nas 466 estações do sistema de transporte. Cada um de nós espalha cerca de 1,5 milhões de microscópicas células da pele pelo ar a cada hora, de acordo com uma descoberta do Argonne National Laboratory, um dos mais antigos laboratórios de pesquisa científica do Departamento de Energia dos Estados Unidos. Um quarto de hotel poderia ser colonizado pelas células do corpo de uma única pessoa em apenas seis horas, segundo o departamento.
Os pesquisadores já identificaram o material genético de 15,152 formas de vida, sendo 562 destas referentes à bactérias, em sua maioria inofensivas ou não identificadas (o genoma de apenas alguns milhares de seres vivos foi feito até então — o DNA da barata, por exemplo, ainda não foi mapeado), mas 67 delas são referentes à doenças e infecções. A bactéria causadora da peste bubônica, por exemplo, foi identificada em três estações diferentes e, embora comum em roedores, ela é extremamente rara em humanos. O último caso registrado na cidade de Nova York ocorreu há 12 anos, de acordo com registros do Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
No entanto, a estação que trouxe os resultados mais interessantes é a estação South Ferry, localizada em Lower Manhattan. Em outubro de 2012, o Furação Sandy inundou os trilhos da estação e a água chegou a atingir 24 metros de altura. Pouco mais de dois anos após o ocorrido, a estação continua fechada e repleta de marcas deixadas pelo Furacão Sandy — mesmo que a nível microscópico. Mason diz que, ao observar as colônias de bactérias formadas na estação, alguém poderia confundir o local com um aquário. “É algo que se encontraria em peixes”, diz. As bactérias encontradas na estação de South Ferry não são comuns nem mesmo para as águas costais de Nova York, como a bactéria Pseudoalteromonas haloplanktis, comum nas gélidas águas da Antártida.
Mason acredita que o Furacão Sandy trouxe um “ecossistema molecular”, que transportou de peixes a insetos do mar polar. É um fenômeno nunca visto antes por cientistas, especialmente em um ambiente urbano, diz. Mas a pergunta que surge é: até quando ele vai durar? Provavelmente não muito, já que está previso que a estação reabra em 2016, quando voltará a servir de abrigo para os outros germes mais comuns à cidade.