Passei toda a infância e a adolescência desenhando nos cadernos escolares – o que me deixa em uma saia justa se eu afirmar que “nunca escolhi ser designer”. Ok, posso não ter escolhido conscientemente (afinal, nem sabia o que era isso), mas nem era preciso: lá no fundo sentia que aquilo era algo que eu nunca cansaria de fazer.
E desde então, 20 anos se passaram.
Neste fim de ano tem sido inevitável pensar, não apenas no que 2011 representou na minha vida, mas também no caminho que percorri até chegar aqui. Trabalhei em feira, rádio, fui estagiário não-remunerado, fui estagiário mal-remunerado, levei calote, contei moeda para pegar condução, pagar os estudos, o aluguel, trabalhei em “N” agências, passei por “N” situações, conheci “N” pessoas… E, sem me aprofundar muito nisso tudo, sei que sou um sortudo por hoje estar aqui, e fazer exatamente aquilo que queria (e ainda pagar as contas com isto).
Essa semana comecei um curso com outros 59 alunos, e algo me surpreendeu. Na hora de se apresentar (nome, idade, profissão, etc), metade da classe disse algo como: – Me formei no curso X, pois amo isso. Mas trabalho com Y, por necessidade.
Aquilo me pegou. E se já estava pensativo antes…
Lembrei do meu amigo Ronaldo Tavares (Diretor de Arte na DM9). Numa conversa de boteco, ele me disse que “no dia em que percebeu que uma boa idéia poderia influenciar a mãe dele sobre qual sabão em pó comprar, mudando a opinião dela (e de qualquer outro) sobre um determinado assunto”, veio a certeza de que era exatamente isso o que queria fazer da vida. E hoje faz – de forma maestral.
Eu não sei onde você está. Nem o que quer da vida.
Pode ser que você ainda seja um estudante. Ou então já está no mercado, mas ainda não na agência dos sonhos. Ou entrou na agência dos seus sonhos e ela não parece tão encantada assim: não importa. Somos todos pessoas de sorte, trabalhando em um dos mercados mais bacanas do mundo e influenciando consumidores pela argumentação inteligente de idéias e experiências que acumulamos na vida.
Somos os que, em reuniões familiares, sofrem com a dificuldade em explicar no que realmente consiste nosso trabalho. Não é calcular, carimbar ou protocolar. É o imaginário, o criativo e o experimental. E embora no dia a dia (ou virando a noite) existam os perrengues que vocês já estão carecas de saber, ainda assim é um tesão trabalhar com isso.
A quantidade de zeros que tirei em matemática durante toda a vida não foi tão animadora. Mas hoje fico feliz em saber que, para chegar até aqui, as páginas mais importantes do meu caderno foram os desenhos no final dele.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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