A melhor maneira de inovar é treinar seus funcionários para caçar problemas – e ter um método para resolvê-los, é claro. Para isso, basta identificar quatro habilidades essenciais dos funcionários e dividir a tarefa entre quem é mais capaz de conduzir cada etapa.
Essa é a base da estatégia de criatividade aplicada, criada pelo consultor canadense Min Basadur, especialista em psicologia organizacional. Ele já testou sua teoria em empresas como Procter & Gamble, Pepsico e Pfizer. “Problemas são os ovos dourados de uma empresa, e jamais devem ser vistos sob um aspecto negativo”, afirma.
Basadur esteve no Brasil para ministrar o curso “Criatividade para a Inovação – Um Novo Processo”, na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), nos dias 21 e 22/11. Por telefone, ele conversou com o Papo de Empreendedor e explicou como uma empresa pode montar um time capaz de transformar problemas em boas oportunidades de negócios.
Para o especialista, o primeiro passo de um gestor é detectar na equipe quem tem cada uma destas habilidades:
1) Gerador: profissional com sensibilidade para detectar problemas e oportunidades;
2) Conceituador: criativo, pensa em diversas alternativas para resolver problemas;
3) Otimizador: é quem cria opções para colocar a ideia em prática com sucesso;
4) Implementador: põe a mão na massa e tem boa aceitação entre colegas para implantar mudanças.
Quando as habilidades de cada um forem identificadas, é hora de partir para a ação. Confira, a seguir, as táticas ensinadas por Basadur.
Como funciona o processo de criatividade aplicada?
Inovar é resolver problemas complexos, e esse processo começa quando a empresa é proativa e identifica o que o consumidor não consegue resolver. Mas o cliente não é a única fonte de pesquisa. Podem-se descobrir problemas em qualquer lugar: conversando com pessoas, lendo o jornal, abrindo os olhos para o mundo.
Quem está aberto ao ambiente fica sensível a problemas e oportunidades. Esse é o perfil que chamo de gerador – aquele que sempre procura problemas que viram oportunidades. A segunda fase é a de conceitualização, onde outros profissionais pegam essas oportunidades e a transformam em um problema bem definido e compreensível.
Na terceira fase, a de otimização, a equipe obtém uma solução, uma ideia. Já a quarta fase é a de implantação. Empresas inovadoras são as que incentivam continuamente os funcionários a completar essas quatro etapas.
É errado perguntar ao cliente o que ele quer?
É uma pesquisa pouco produtiva. Se perguntar ao cliente o que ele quer, ele vai dar uma solução, e isso qualquer um pode fazer. O diferencial é identificar os problemas dos quais ele nem tem consciência ainda.
Por isso é preciso trabalhar com os consumidores para saber o que está faltando e inovar no modo de encontrar problemas, e não soluções. É encontrar o que está oculto e que o cliente não consegue articular, a menos que você o ajude a descobrir, fazendo perguntas como “o que te impede de fazer isso?”.
Como construir uma boa equipe para resolver problemas?
Um bom gestor é alguém que sabe engajar pessoas com esses diferentes estilos (gerador, conceituador, otimizador e implantador). Primeiro, precisa descobrir quais são dominantes em cada funcionário, para fazer uma mistura equilibrada.
Observando o comportamento deles, o gestor sabe quem gosta de identificar oportunidades, quem gosta de resolver questões e quem põe a mão na massa. Não é difícil, mas requer treino. Só é preciso gostar do processo, e não tratar problemas como negativos, mas como oportunidades.
Todos os funcionários devem ser resolvedores de problemas?
Sim, todo mundo. É melhor não deixar a responsabilidade para um departamento, pois não dá para mudar uma área sem mudar as outras, pois elas vão resistir. A direção deve, então, identificar problemas estratégicos e formar times interdepartamentais, pois resolver problemas complexos requer colaboração.
E todos devem estar empolgados com o motivo pelo qual a empresa quer inovar. Seus funcionários nunca devem se acomodar na satisfação com o cargo e com os produtos: têm de descobrir sempre bons problemas para resolver. Encorajar o funcionário a descobrir problemas e a desenvolver e implantar soluções é muito motivador, pois estimula a criatividade.
Mas nem todo empresário gosta de compartilhar suas ideias…
Empreendedores temem compartilhar suas ideias porque têm medo de que alguém possa roubá-las. Mas, se ele for um puro gerador, só conseguirá inovar parcialmente, então vai precisar de pessoas com habilidades complementares para ajudá-lo. Muitos não percebem que apenas ter uma ideia não basta: é preciso envolver outras pessoas para cumprir os quatro estágios e inovar.
Qual é a importância do crowdsourcing para encontrar soluções?
Há 10 ou 20 anos, uma empresa levava meses para levantar informações que hoje se obtêm em segundos pela internet. Se você não usar a rede, seu concorrente vai usar. Mas é preciso ser seletivo com essa rede e estar preparado tanto para compartilhar o crédito como para agir rapidamente para se proteger. Ter um bom advogado de propriedade intelectual ajuda bastante.
Ache colegas que têm estilos diferentes do seu e que possam ser úteis. Quando tenho uma ideia, como gerador, logo compartilho com um amigo que é um ótimo otimizador. Ele rapidamente a transforma em um plano prático, daí avançamos. Dependemos um do outro, e isso é bom. Sem confiança, você fica para trás.