Nos últimos dias, tive o prazer de ter contato próximo com diversos estudantes de comunicação social e de outros cursos, como letras e tecnologia da informação. Em comum, todos gostariam de saber mais sobre mídias digitais e sociais e algumas perguntas eram bastante repetidas. Escrevo aqui no B9 sobre o assunto por entender que há em nosso público um alto número de estudantes na mesma situação, repetindo as mesmas indagações:
– O que fazer para conseguir um primeiro trabalho? Como podemos chamar a atenção de um empregador em São Paulo ou no Rio de Janeiro mesmo estando aqui longe?
Eu poderia responder que a meritocracia é justa e que basta se inscrever, mas somente isso não resolve. Para uma única vaga de estágio aqui na empresa, eu recebi quase 400 currículos. Simplesmente não dá para separar 2 meses (um mês útil tem 176 horas) apenas conversando com a molecada para então escolher algumas pessoas e aprofundar a conversa. Não há nenhuma empresa que faz isso. O que fazemos, na verdade, é estabelecer alguns filtros e, assim, os currículos que não chamam a atenção são rapidamente descartados (ou “guardados com a equipe de RH”). C’est la vie.
E então o que fazer?
Na falta de uma melhor, minha resposta é: monte a sua própria banda punk.
A banda punk é metafórica, mas eu levei bem a sério no começo da década passada. Aí, uma foto de 2003, tocando no saudoso Vila Rock Bar, em São Paulo. Pela posição da minha mão esquerda, você detecta que a habilidade musical é quase nula.
Nesta fase da carreira – o início – pouco vale um currículo. Peças fantasmas em um portifólio até mostram um pouco de noção, mas um projeto pessoal pode evidenciar mais sobre como você encararia o dia-a-dia.
Um projeto próprio – seja ele uma página no Facebook, um blog, uma página de fotos, um fórum, um canal de vídeos, ou ainda um trabalho acadêmico de longa duração, um projeto de trabalho voluntário, uma ideia de startup, etc. – mostra não apenas o que você compartilha: ele conta um pouco sobre como você enxerga o mundo, demonstra alguma iniciativa de começar as coisas do zero e, caso já tenha alguns anos, até alguma perseverança.
Como os punks dos anos 70 ensinaram, não é necessário grande conhecimento para fazer as suas próprias canções de protesto, suas próprias roupas e sua própria cultura: bastava fazer. Faça você mesmo, é o que pregavam.
E com esse monte de ferramentas web, não há desculpas. Em dois minutos, você pode ter uma plataforma que vai além do compartilhamento de gatinhos no Facebook. Não que seja errado ficar compartilhando memes por aí, mas se você tem a oportunidade de fazer outras coisas e contenta-se com fotos dos seus próprios pés, da sua comida e com o compartilhamento de imagens do TV Revolta, então sim, há algo errado.
O projeto próprio pode não oferecer a sua oportunidade sonhada de cara, mas pode ajudar a chamar a atenção para o seu currículo no meio de tantos outros. Assim como o comunicólogo que hoje se esforça para chamar a atenção das pessoas na fração de segundo que ela terá nas timelines, o candidato precisa, sim, chamar um pouco de atenção do recrutador no curto tempo em que ele terá para fazer uma lista de 400 nomes virar uma de 10.
A melhor parte é que este esforço pode levar não apenas a um emprego, como também a descobrir mais sobre você mesmo, baseado no que você vai aprendendo sobre a vida, o universo e tudo mais. Pode até se tornar o seu trabalho remunerado, ainda que não seja esta uma promessa, mas uma possibilidade.
Pronto para fazer o seu novo projeto? Comece já e nunca esqueça de incluí-lo na carta de apresentação e no currículo. Fica a dica.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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