Considero o Twitter a rede social ideal para uma assessoria de imprensa reforçar sua relação com a imprensa – e com os jornalistas. Uma porque o game de relevância presente no algoritmo fundamental desse microblog é muito semelhante à vida real de um jornalista do lado de cá do balcão, na assessoria. E outra porque, para trabalho, o Twitter é, segundo pesquisas, o meio social preferido dos nossos colegas.
Entretanto, como toda nova tecnologia que se apresenta, convém refletir sobre como utilizá-la no seu dia a dia, sob o risco de tropeçar naquelas premissas básicas – as mesmas que você já superou faz tempo. Internautas gostam de listas, né? Pois então, aqui está a minha:
1. Mereça ser seguido: Você nunca deve pedir ou tentar convencer um jornalista a te seguir, a não ser que ele seja seu irmão, seu pai ou sua namorada. Assim mesmo, se você permitir que ele escolha, ele preferirá seguir o que lhe interessa. Na correria do dia a dia, um espaço mal utilizado na timeline do jornalista pode custar um post importante não lido. Portanto, mereça ser seguido.
2. Mereça um tweet: Na relação com uma empresa, a timeline de um jornalista que usa esta ferramenta para trabalho é a sua coluna, é a sua reportagem. Seu tweet só entrará nela se merecer, se for mais importante na comparação com dezena de outros, pelo bem ou pelo mal.
3. Interesse-se verdadeiramente: Se você vai seguir um jornalista para que ele saiba que você existe, ao menos dê um jeito de acompanhar a maioria de seus tweets. Pegará mal se ele souber que você nunca o acompanha e que não sabe que notícias interessam a ele.
4. Mas priorize: Claro que você não vai conseguir (nem querer) seguir todos os perfis de jornalistas e veículos que precisa conhecer. Para isso existem as listas do twitter. Como na vida real, priorize.
5. Cuide o tom: Pode até haver descontração no Twitter entre jornalistas e assessores ou entre assessores e assessores, só não esqueça que a rede social mais parecida com happy hour e com bate-papo é o Facebook, não o Twitter. Não é ruim você ser iniciante no microblog, mas pegará mal parecer que não sabe utilizá-lo.
6. Assessor elogiando? Não repita RTs com seu Twitter pessoal ao tweet do jornalista só para se aproximar ou ele saber que você existe; parecerá bajulação, e elogio nunca foi recomendável na relação com um jornalista.
7. Reconhecimento: Por outro lado, usar o perfil do cliente ou da empressa assessorada para citar o jornalista e/ou o veículo no tweet que faz menção à matéria é recomendável. Dá visibilidade ao trabalho de ambos.
8. Assessor imparcial: Mas dê RTs democrátivos com o perfil corporativo; pega mal um assessor ou uma assessoria revelarem pelo Twitter sua preferência por um veículo.
9. Relacionamento: Se um jornalista não o segue, você não poderá enviar DMs para ele. Ruim? Não sei, é a vida. A caixa de DMs de um jornalista é para quem tem intimidade com ele, coisa que se conquista; como na vida real, bom relacionamento não se compra.
10. E-mail e telefone seguem existindo: Se não puder enviar DM, não tente enviar uma informação exclusiva publicamente em sua timeline. Público não é mais exclusivo. Para isso, não esqueça que, para isso, você não precisa de Twitter. Use os meios convencionais, mande email ou ligue.
11. E-mail e telefone seguem existindo II: Não quebre uma notícia exclusiva em uma dezena de DMs; pra isso existe o e-mail. Quer usar a instantaneidade do Twitter? Avise por DM do seu e-mail. Isso, pode.
12. Exclusividade também: Mesmo que no Twitter a exclusividade pareça tão efêmera, ainda vale a regra de que jornalista gosta de saber e de contar o que ninguém sabe ainda. Já pensou em sugerir um tweet exclusivo?
13. Ritmo! Twitter pressupõe agilidade; o dead-line do jornalista de Twitter que lhe faz uma pergunta é ainda menor.
14. Frequência! O microblog também requer frequência. Os posts já são menores que em um blog para você escrever mais. Procure tuitar uma vez ao dia, ao menos.
15. Relevância! Não falamos do conteúdo do perfil do seu assessorado ainda, né? Para mim, o Twitter é a rede social na qual o KISS (Keep it Shareable and Significant) mais se aplica. Onde mais eu diminuo o número de contatos para melhorar a qualidade da newsfeed? Ou crio listas? Pois então, sugiro usar a seguinte auto-análise: esse meu tweet mereceria um espaço na mídia? Tem valor-notícia a, ao menos, um veículo especializado? Se sim, publique, claro. Se não, ou repense ou me ignore; pode ser uma exceção.
16. Pouco mudou: O Twitter é só uma tecnologia, nada mudou nas relações; portanto, não agradeça o tweet ou o RT de um jornalista. Nem mesmo do seu perfil pessoal.
17. Básico: O limite que parece haver entre pessoal e profissional não é tão claro quando se está numa assessoria. Convém não criticar pelo perfil pessoal o veículo que você não gosta, nem a corrupção da classe política. Parece básico, mas a gente esquece.
18. Limites: Jornalista também é gente. Ele compra, se diverte, viaja, tem conta em banco, assina tevê a cabo, tem celular de conta. O que quero dizer? Que ele pode vir a reclamar publicamente de sua empresa no Twitter. Ou pior, ele pode reclamar publicamente, no Twitter, citando você. Como eu disse no último tópico, se o limite entre sua vida pessoal e a de assessor já não era tão claro, nessa hora, ele desaparece. Pense bem por qual canal você vai responder, mas responda. E como um assessor.
Gostou? Compartilhe com jornalistas e assessores. E com alunos de jornalismo. Não gostou, critique. Tem sugestões? Me ajude a aumentar a lista de dicas.
Por Juliano Rigatti, jornalista, tem MBA em Gestão Empresarial e atua na área de Comunicação Corporativa.