Estava em uma viagem de trabalho na quinta-feira, 13, quando os olhos da nação se voltaram para São Paulo, seus protestos e injustiças. Naquele momento, ainda não havia notícia de que jornalistas tinham sido baleados. Ainda não havia todas as fotos, vídeos e depoimentos que todos nós vimos nos dias a seguir. Naquele momento, na sala do hotel em que eu estava, alguém gritou “vândalos”. Naquele momento, a verdade ainda não existia.
Sou filha de militante. Meu pai tinha 13 anos quando houve o Golpe Militar. Ele militou junto ao movimento estudantil e, mais tardar, viveu momentos de horror em suas lutas, como o assassinato de dois amigos de quem se dispersou num momento de fuga. Ele me contou essa história várias vezes e com muita emoção. Bem, eu sempre soube que quem lutava na rua por um Brasil melhor não era vândalo, nem vagabundo. Eram pessoas que tinham coragem de tirar a poupança da cadeira e ir lá fora gritar. Infelizmente, com o passar dos anos, a sociedade ficou cada dia mais rouca, até ficar muda. E, como disseram em milhares de cartazes por aí, sociedade muda não muda.
Enquanto via a notícia no saguão do hotel e ouvia os demais hóspedes falarem mal dos manifestantes, saquei o celular do bolso e comecei a ver vídeos, fotos e relatos daquele horror. Foi então que soube da agressão desumana aos jornalistas naquela noite. Foi quando vi policiais prendendo um ciclista que estava de passagem. Foi quando mostraram milhares de pessoas em paz, em um movimento pacífico, sendo agredidas simplesmente por estarem lá.
Nos dias subsequentes, vi muitos posts que diziam “tire sua vó de frente da TV e mostre o YouTube pra ela”. É verdade. Só quem teve acesso às informações compartilhadas por cidadãos comuns aqui no nosso mundinho virtual é que viu a verdade. Porém, o internauta é chato. Sabe aquela historinha de que se não sabe brincar não desce pro play? Boa parte das pessoas pegou a única ferramenta livre e que poderia compartilhar a verdade nos últimos dias e começou a vandalizar. Sim, o que aconteceu por aqui, sim, foi vandalismo. Dizer que a Presidente da República vai suspender o Facebook? Fazer apologia à repressão e ditadura? E de repente ninguém mais sabia do que estava falando. Alguns dos meus amigos deixaram de ir pra rua por acreditar que o protesto não tinha mais sentido. Eu fui, fui pra rua no Recife. E foi incrível.
Bem ao meu lado, um cartaz dizia “cristão também é gente”. Em contrapartida, milhares vaiavam a Igreja Universal ao passarem pela frente de uma unidade localizada na Av. Conde da Boa Vista. Para Feliciano, convites para que o político fosse pra rua, mas deixasse o armário em casa.
Não vou mentir, houve divergência em alguns pontos do protesto. Isso enfraquece o movimento? Sem dúvida. Mas não o desvaloriza. O que eu vi ontem foi a minha cidade lotada, como em uma terça-feira de carnaval. Não vi gente bebendo, nem desviando do foco político. Sim, pessoal, quem pensa diferente da gente também tá fazendo política, viu?
Para mim, o VemPraRua já é uma revolução. A reciclagem de uma sociedade que era muda e hoje é histérica, a escolha de ver o Jornal Nacional ou o vídeo compartilhado no Facebook, a união entre as dezenas de cidades. Foi bonito de ver e eu vi por milhares de olhares diferentes, compartilhados, ainda bem, neste mundo incrível chamado internet.
Por Duda Ferraz, jornalista.
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