Numa rua inesperadamente calma para a região da Faria Lima, em São Paulo, fica um casarão conhecido pelos seus habitantes como “mansão”. Lá, cerca de dez startups dividem espaço, salas de reunião, área de lazer, decisões envolvendo a própria casa, uma recepcionista e as contas no fim do mês.
De quebra, elas também mostraram que é possível encontrar um meio termo entre o espaço de coworking e o escritório corporativo tradicional.
“Gostamos do conceito de ter um espaço único, onde podemos fazer festa, convidar as pessoas”, conta Daniel Hatkoff, sócio-diretor da Pitzi, uma das primeiras companhias a chegar ao local, alugado em outubro. A Pitzi, a Printi e a EmpregoLigado tinham 12 funcionários, no total, e estavam localizadas na sede da Baby.com.br quando decidiram procurar um espaço próprio para poder crescer. “Saímos juntos para poder crescer juntos”, diz Daniel.
A casa foi alugada e, entre os atrativos, ficou a localização do lugar e o espaço necessário para crescer. As startups precisam de espaço para seus funcionários e os gastos com escritório nem sempre são prioridade no começo. “Mas a gente sabe que em seis meses terá mais pessoas, pensamos em ficar aqui pelo menos dois anos”, diz Daniel. Os que eram 12 se tornaram 40 e o sócio da Pitzi prevê que, somente as três empresas iniciais cheguem a cem funcionários em seis meses.
Também ocupam bastante espaço no casarão a equipe da Ingresse, que é liderada por Gabriel Benarro. Pelo seu tamanho e pela atuação forte de Gabriel, a Ingresse também acabou ganhando “peso” de fundadora no local. “Na minha opinião, é o espaço mais empreendedor autogerido em São Paulo. No coworking, qualquer pessoa paga e entra, já num escritório mais corporativo, há mais burocracia”, disse Gabriel.
A “autogestão” citada por Gabriel é a maneira com a qual as decisões são tomadas, geralmente em grupo e sem muita formalidade –os “fundadores” tem um diálogo aberto com os “inquilinos”. A adição de novas companhias, por exemplo, é apoiada por todos se algum dos fundadores “banca” que o empreendedor é bom. Segundo Gabriel, para entrar na casa, a startup o empreendedor precisa ter um background acadêmico forte, ser uma pessoa séria e já estar com um time estabelecido. Boa parte das companhias que ocupa o casarão também já está investida, diz ele. “A maioria recebeu acima de R$ 1 milhão”, conta o CEO da Ingresse.
As salas de reunião são compartilhadas, assim como os “ambientes de estar”. A ideia deles é criar alguns cantos pela casa, com puffs, para conversas menos formais ou particulares. A sala de recreação recém-montada traz uma mesa de ping pong, também dividida entre os interessados.
Algumas coisas já estão bem estabelecidas, mas a autogestão permite que as mudança sejam rápidas. “Aqui, cada semana tem alguma coisa mudando, estamos sempre implementando”, contou Daniel. As startups novas que se juntam ao time também contribuem: Daniel conta que a FormaFina, de design, chegou para alugar um dos espaços e já aproveitou para ajudar a decorar a sala de reuniões. Quando trouxe a Ingresse para a casa, Gabriel montou um mural na sala ocupada por sua empresa.