Repare: aconteceu algo importante (e até mesmo não tão importante assim) e todas as redes sociais do momento acabam lotadas de recém-criados especialistas sobre o assunto. É apuração do desfile das escolas de samba? Todos automaticamente se tornam mestres em carnaval.
O Papa renunciou? Esses mesmos especialistas em escola de samba fazem um curso relâmpago das práticas católicas e conseguem tecer comentários sobre quem deveria ser o próximo papa e até mesmo os rumos que a igreja deve tomar a partir de agora.
A blogueira cubana Yoani Sánchez chegou ao Brasil? A turma que saca tudo de samba e Vaticano levantará a voz também.
E por aí vai, os exemplos são vários. Sexta-feira foi o dia de todo mundo tirar o mestrado em astronomia e discursar opiniões e mais opiniões sobre o meteorito na Rússia. “Mas com certeza é fake! Sou um especialista com PhD e bacharelado em programas de edição de vídeo e consigo dizer com clareza que esse vídeo é editado!” ou “Não pode ser um meteorito, estudei objetos espaciais por 20 anos e isso com toda certeza é um míssil norte-coreano!” e mais um sem-fim de opiniões, certezas, comentários baseados unicamente em filmes, séries de TV e quadrinhos.
É a lógica do não-entendido no assunto que precisa se mostrar um entendido no assunto, precisa fazer parte da grande rodinha de amigos que é a internet: na dúvida, diga com convicção, opine, transforme-se em minutos num especialista sobre um assunto que você não conhece. Mas não fique de fora da conversa, nunca. Afinal, pega mal ficar de fora do assunto do momento, certo?
—>Errado<—
A internet (e a sociedade como um todo) vive um momento curioso, em que todos acreditam ter a obrigação de falar sobre o assunto do momento. Com isso, esquecemos antes de apurar, de estudar, entender o assunto. A discussão (e as opiniões) tornam-se vazias. Acabamos nos tornando uma nuvem de gafanhotos, opinando até a exaustão sobre um assunto polêmico até que apareça algo melhor para discutir e todos se movam para lá.
E muitas vezes esquecemos de ir mais fundo no assunto, de realmente aprendermos algo. Toda opinião e toda discussão tornam-se vazia e rasa.
Agora, um pequeno exercício: tente se lembrar, por exemplo, de todas as polêmicas que rolaram na sua timeline no ano passado.
- Em quantas você consegue se lembrar como a história acabou?
- Em quantas você consegue dizer com clareza qual era o motivo da polêmica?
Perceba, não estou dizendo com isso que você deve parar de opinar na internet. Mas sim que antes de opinar, antes de apontar culpados ou vítimas, antes de qualquer coisa, você deve se informar, tentar entender a história por trás da polêmica, por trás da discussão. Sim, é chato, sim, dá trabalho, mas é um passo vital para você sair do grupo de “Entendedores Anônimos” e começar a fazer algo bacana com esse espacinho que lhe foi dado para você opinar na internet.