Vira-e-mexe aparece um desses músicos multi-funções que compõem e tocam tudo sozinho. Tom The Lion surgiu lá em 2010 mostrando um pop altamente cuidadoso e introspectivo, mas que deixava bem claro ser também um pop solitário.
A solidão não existe só no modelo de trabalhar de Tom The Lion. O cara faz tudo sozinho, é verdade, mas essa auto-suficiência também empresta às músicas uma vibe melancólica e enigmática. Hermeticamente fechada.
Ele lapida como um artesão seus cuidadosos lamentos musicais que soam tão honestos que parecem vir mesmo do fundo de sua alma, e seu falsete vocal arte-finaliza suas bases instrumentais estrategicamente pensadas e executadas. Ele se basta e parece estar feliz assim.
Sleep, seu mais recente álbum, é um laboratório de experimentos que dão muito certo apesar de às vezes soarem pensados demais. Talvez seja a pressão da responsabilidade de estrear num selo grande, talvez seja o preciosismo de querer melhorar o que já estava perfeito e pecar por excesso. Do jeito que ele se preserva, nunca saberemos. Mas isso não chega a comprometer o prazer que se tem ao ouvir o álbum. Sleep é uma excelente vitrine dos talentos desse pequeno prodígio e desafia seu ouvido com ideias melódicas tão bonitas e ricas que parecem ter saído de um compositor erudito.
No vídeo acima você ouve a faixa-título. Outras que também valem a pena são Ragdoll, Silent Partner e Beholden. Se gostar dessas, você provavelmente vai adorar o disco inteiro. Prepare-se para um mergulho em densas e obscuras paisagens sonoras. Sleep é um enigma que dá gosto de decifrar.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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